Israel declara Lula persona non grata após fala sobre holocausto; entenda

Ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, considerou a fala um "ataque antissemita", reforçando que a retratação só virá após um pedido de desculpas

09:28 | Fev. 19, 2024

Por: Ludmyla Barros
Na Etiópia, Lula classificou mortes de civis em Gaza como genocídio (foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi declarado persona non grata no estado de Israel, após comparar os conflitos e o desastre humanitário em Gaza com o Holocausto. Segundo o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, a fala foi um “grave ataque antissemita” e a retratação só virá se o petista pedir desculpas.

"A comparação do presidente do Brasil, @LulaOficial, entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que exterminaram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória dos que foram mortos no Holocausto”, escreveu.

Ele ainda completou, afirmando que o país não “perdoará, e nem esquecerá”. “Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao Presidente Lula que ele é ’persona non grata’ em Israel até que ele peça desculpas e se retrate de suas palavras", afirmou em publicação no X, antigo Twitter.

Esta manhã, convoquei o embaixador do Brasil em Israel para Yad Vashem, o local que demonstra mais do que qualquer outro o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo a membros da minha própria família.

A comparação do presidente do Brasil, @LulaOficial, entre a… pic.twitter.com/ylHMJXSXVc

— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) February 19, 2024

Na mesma publicação, Katz afirmou que encontrou o embaixador do Brasil em Israel no museu do Holocausto, em Jerusalém, ao invés do Ministério das Relações Exteriores.

A mudança foi justificada pelo ministro por se trata do “local que demonstra mais do que qualquer outro o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo a membros da minha própria família.”

Lula chama ataques de Israel de genocídio e chacina

As declarações de Lula foram dadas durante viagem institucional do presidente à Etiópia, no continente Africano. Na ocasião, ele criticou a diminuição e o corte de financiamento da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados palestinos por parte de países desenvolvidos, afirmando que o que estava acontecendo era um "genocídio" ao povo palestino.

"Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual o tamanho da consciência política dessa gente e qual o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio", declarou o presidente.

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A partir daí Lula seguiu, alegando que "o que estava acontecendo em Gaza havia sido vista uma única vez na história". "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou.

Ele ainda completou: "Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças".

Além do contexto internacional, as falas de Lula refirmam um posicionamento político nacional, de contradição à direita brasileira. Especialmente após o governo de Jair Bolsonaro (PL) e com o início da guerra entre Israel e Hamas, a extrema direita no Brasil tomou partido e levanta bandeiras em defesa do governo israelense.

Repercussões das falas de Lula variam entre defesa de ministros e críticas de opositores

As falas do presidente Lula geraram grande repercussão no cenário político nacional. Dentre os que se pronunciaram em defesa, estão os ministros Paulo Teixiera (Desenvolvimento Agrário) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas).

Ambos consideraram as declarações justas, tendo em vista a dimensão no conflito no Oriente Médio. "A fala do presidente Lula sobre o que está acontecendo em Gaza é corajosa e necessária. Que esse posicionamento incentive outros países a condenarem a desumanidade que estamos vendo dia após dia", disse Guajajara.

Já os opositores consideraram a comparação vergonhosa e desproporcional. Se posicionaram contrários, dentre outros, os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Rogério Marinho (PL-RN).

"Presidente Lula, comparar o Holocausto à reação militar de Israel aos ataques terroristas que sofreu é vergonhoso. O Holocausto é incomparável e não pode ser naturalizado nunca", escreveu o presidente do PP, Ciro Nogueira (PP-PI), em seu perfil no X, novo nome do Twitter.

O próprio primeiro-ministro de Israel se pronunciou, afirmando que "comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha".

"As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito Israelense de se defender", declarou Netanyahu também no X.

Conflito em Gaza continua

Para além da política, o conflito segue. Nesta segunda-feira, 19, O Ministério da Saúde do Hamas anunciou que pelo menos 29.092 pessoas morreram em Gaza desde o início da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino. A maioria são mulheres e menores de idade, segundo o Ministério.

Ataques constantes, com ofensivas aéreas e terrestres, ocorrem em retaliação a 7 de outubro de 2023, quando uma operação de comandos islamistas matou cerca de 1.160 pessoas, na maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel. Em 2 de fevereiro, Israel afirmava que 132 reféns iniciais do conflito continuavam detidos em Gaza, dos quais 27 teriam morrido.

Com Agência Brasil, Agência Estado e AFP