Dono do Coco Bambu mostra passaporte e fotos para negar presença em suposta reunião golpista
Empresário foi citado pela Polícia Federal após divulgação de áudio do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro CidFotos do passaporte, imagens com a família e comprovantes de pagamentos feitos no exterior são algumas das argumentações que o dono da rede de restaurantes Coco Bambu, Afrânio Barreira cita para nega participação em suposta reunião em que empresários teriam pressionado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio a articulações golpistas.
No dia em que teria acontecido o encontro, em novembro de 2022, o empresário e a família estavam em Londres, como mostram os documentos.
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Em áudio obtido em investigação pela Polícia Federal (PF) no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, enviado ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, ele cita empresários, incluindo o cearense Afrânio Barreira, que teriam pedido que Bolsonaro defendesse uma "posição mais radical" sobre resultado das eleições presidenciais.
O empresário nega e aponta o comprovante da hospedagem, em seu nome, na capital inglesa entre os dias 5 e 21 de novembro de 2022. No registro do passaporte, a entrada e saída nos mesmos dias.
Ele conta que passou quase oito meses, de agosto de 2022 a abril de 2023, no exterior, não sendo possível, portanto, ter participado de encontro em Brasília.
O empresário explicou que aguardará contato da PF para apresentar documentos e comprovações, ressaltando que a instituição já teria acesso aos seus passos por ter passado pelo posto policial ao deixar e retornar ao país.
"Está muito claro que não participei de nenhuma reunião. Somado a isso, eu nunca estive, falei, conversei nem por telefone, não sabia que existia, nunca fui apresentado ao senhor Mauro Cid. Eu vim conhecer quando saiu minha foto e a foto dele no jornal”, afirmou.
Ele questiona também o teor do áudio apreendido pela PF. A gravação que traz como transcrição: “tava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri. É, estava o cara do Coco Bambu também, ele também. Tipo, quem falou, ó... o governo Lula vai cair de podre, né?”.
A delação de Mauro Cid e arquivos encontrados em seu celular e computador tem sido algumas das provas contundentes usadas pela PF para embasar investidas contra Bolsonaro e seus aliados.
“Eu nem acho que ele teria dito isso. Acho que esse áudio nem deve ser dele, porque não pode ele ter dito algo que não seja verdade. Acho que esse áudio não deve ser dele, porque não o conheço, não tive reunião”, ressaltou ainda.
O empresário diz que somente esteve com o ex-presidente Bolsonaro em 2020, em único almoço em que a empresa foi convidada para organizar um jantar. “Eu não sei de onde tiraram essa ideia que eu era amigo dele, que eu trocava ideia. Eu nunca falei com ele por telefone”, apontou.
Ele lamenta ainda a foto que foi batida no dia. “Só existe essa foto e criou-se essa imagem de que eu tenho alguma coisa a haver com isso. Não sou político, não tenho partido, nunca dei dinheiro pra político, nunca fui em passeata. Nosso pecado foi ter feito esse almoço no Palácio”, disse.
Em 2022, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços de oito empresários brasileiros, entre os quais Afrânio Barreira.
A medida judicial tinha como objetivo averiguar supostas mensagens de teor golpista compartilhadas em um grupo de WhatsApp. A determinação de Moraes também envolvia bloqueio de contas bancárias. À época, Barreira disse nunca ter apoiado medidas de teor antidemocrático.
Ele citou a trajetória até o momento atual da empresa e lamentou que, com a repercussão, o Coco Bambu esteja “caluniado de coisas que a gente não fez e coisas que a gente não prega”. O empresário fez ainda um apelo diante das acusações.
“Com muita humildade, apelo que larguem disso, eu não tenho poder político nenhum, não participei de nada e não partidário de nada, não tenho grupo de nada nem nunca fui em reunião política. Meu pecado foi ter ido nesse almoço lá no Palácio à convite do assessoria do ex-presidente. Coisa que jamais faria novamente com qualquer que seja. Me deixem trabalhar”, disse.