Veja trechos principais e vídeo na íntegra da reunião em que Bolsonaro incita golpe

Bolsonaro insinua interferência do STF e do TSE, alegando que algo precisa ser feito "antes das eleições". Heleno também afirma que "a mesa deve ser virada antes" do pleito

14:31 | Fev. 09, 2024

Por: Ludmyla Barros
Gravação ocorreu em 5 de julho e foi apreendida no computador do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid (foto: Reprodução/O GLOBO/Polícia Federal)

A Polícia Federal teve acessos a vídeos de uma reunião, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ministros e aliados discutem ações para impedir a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Segundo os presentes, o resultado seria favorável ao petista mesmo se Bolsonaro obtivesse “80% dos votos”, devido à suposta interferência do Judiciário. Na ocasião, dinâmicas golpistas são propostas tanto por Bolsonaro quanto pelo general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional.

O encontro ocorreu em 5 de julho e a gravação, apurada pela coluna de Bela Megale, do O Globo, foi apreendida no computador do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. O vídeo é peça fundamental da operação Tempus Veritatis, que investiga tentativas de golpe de Estado e fraude nas eleições. Dentre os investigados, estão Bolsonaro e aliados, presentes na reunião.

No vídeo, o ex-presidente enfatiza que algo precisa ser feito “antes das eleições”, para evitar que o “Brasil se transforme em uma grande guerrilha”. "Nós sabemos que se a gente, se a gente reagir depois das eleições vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém duvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições", diz o ex-presidente no vídeo abaixo.

Segundo ele, a vitória de Lula é inevitável por contar com o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nomes como o dos ministros Edson Fachin, Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do STF, são citados por Bolsonaro como responsáveis pelas futuras fraudes eleitorais.

Essa articulação, segundo o ex-presidente, justificaria a necessidade de uma “ação antes das eleições”, tendo em vista que ele próprio é um “deputado de baixo clero”. “Eu vou explicar a cagada. Cagada do bem, deixar bem claro. Como é que eu ganho uma eleição, um fodido como eu? Deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado."

Assim, completa: “Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto imp... e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que... eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes.”. 

De acordo com ele, o que estava em jogo não era apenas o resultado do pleito, mas o "bem maior que nós temos e contamos aqui na terra, que é a porra da liberdade. Mais claro, impossível".

Augusto Heleno incita golpe em reunião

No encontro, o general Augusto Heleno reforça a tese de Bolsonaro e defendeu uma "virada de mesa" antes das eleições, alegando que o pleito não teria revisão de um "VAR" - termo do futebol se refere a uma verificação após os lances, com ajuda de imagens de vídeo. Trecho foi divulgado na decisão do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito da operação da PF. 

"Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições", afirmou Heleno.

Veja vídeo da reunião na íntegra: