Generais cearenses teriam papel central em tentativa de golpe, segundo a PF

Forças Especiais do Exército seriam coordenadas por Estevam Theóphilo para efetuar a prisão do ministro Alexandre de Moraes assim que a minuta fosse assinada. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira teria manipulado relatório das Forças Armadas sobre confiabilidade das urnas

Alvos da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 8, os generais cearenses Estevam Theóphilo Gaspar de Oliveira e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, tiveram papel central na investida do governo de Jair Bolsonaro (PL) contra a normalidade institucional. Os dois, em conjunto com mais militares, teriam se aproveitado da alta patente para incitar apoio a medidas para o Golpe de Estado ser consumado. Ou participado ativamente delas.

Eles são citados em decisão assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou as medidas judiciais da operação. Diálogos entre o tenente-coronel Mauro Cid e o coronel Bernardo Romão Correa Neto, que está nos Estados Unidos e é alvo de pedido de prisão preventiva, mostram que o general Estevam Theóphilo teria concordado em ir adiante com medidas que resultariam no golpe de Estado, desde que Bolsonaro assinasse a minuta que avalizasse a empreitada.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Em 9 de dezembro de 2022, Estevam Theóphilo se reuniu com o então presidente no Palácio da Alvorada. Conforme os diálogos vistos no celular de Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, ele teria aderido ao projeto golpista.

O Comando de Operações Especiais (COpESP) seria arregimentado e liderado por Estevam Theóphilo para efetuar a prisão do ministro Alexandre de Moraes assim que a minuta fosse assinada. Os militares desta área especial são chamados "kids pretos". 

Freire Gomes não aderiu a golpe e foi chamado de "cagão"

A aspiração golpista não contava com a adesão do general Freire Gomes, comandante do Exército, razão pela qual este foi chamado de "cagão" pelo ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.

O adjetivo foi usado por Braga Netto em conversa com Ailton Gonçalves Barros, capitão reformado do Exército. Braga Netto escreveu: "Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente."

Ailton sugeriu ao interlocutor que Gomes tivesse a cabeça oferecida, ao que Braga Netto respondeu: "Oferece a cabeça dele. Cagão".

A atuação de Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira

Segundo a Polícia Federal, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira manipulou relatório técnico das Forças Armadas sobre o sistema eletrônico de votação, "postergando-se a sua divulgação em vista de não terem sido identificadas vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação."

"A divulgação de que as Forças Armadas não teriam encontrado nenhuma vulnerabilidade nas urnas eletrônicas, segundo os investigados, poderia impactar negativamente em seus propósitos e diminuir a amplificação das notícias fraudulentas disseminadas pelo grupo criminoso e atrapalhar a manutenção da mobilização em frente aos quartéis do Exército, consideradas essenciais para o suporte da execução do golpe de Estado", diz a decisão de Moraes.

Em 5 de julho de 2022, Paulo Sergio esteve reunido com Bolsonaro e alta cúpula do Governo Federal, com as presenças do ministros Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), e Mário Henrique (chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República).

No encontro, todos agiram como se a candidatura de Bolsonaro estivesse sob deliberada sabotagem do TSE. Paulo sérgio  utiliza o vocabulário militar de guerra, mencionando a Justiça Eleitoral como inimiga.

"O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja ... na guerra a gente … linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido pra que a gente não fique sozinhos no processo", disse.

Ele afirma que as ações das Forças Armadas teriam a finalidade de garantir a segurança e transparência das eleições, com condições de auditoria, com o objetivo de reeleger Bolsonaro. "Nós temos reuniões pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito; que ações poderão ser tomadas pra que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha! E o senhor, com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e esse é o desejo de todos nós."

Proibições e procedimentos

Estevam e Nogueira estão proibidos de manter contato com os demais investigados, até mesmo por meio de advogados. Eles foram alvos de busca e apreensão e busca pessoal. Estão proibidos também de se ausentarem do Brasil. Estevam está suspenso do exercício de suas funções.  

O POVO entrou em contato com a Polícia Federal e a questionou sobre os endereços visitados no Ceará, assim como os postos ocupados pelos alvos da operação que residem no Estado. A PF respondeu: "As informações estão restritas à nota."

A Polícia Federal investiga organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado para "obter vantagem de natureza política com a manutenção no então presidente da República no poder."

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Estevam Theóphilo Bolsonaro Paulo Sérgio Nogueira bolsonaro golpe pf bolsonaro bolsonaro democracia

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar