Operação da PF contra Bolsonaro é resultado de delação de Mauro Cid

Operação Tempus Vetitaris ocorre no âmbito dos eventos antidemocráticos e na difusão de conteúdos e discursos fraudulentos sobre a eleição presidencial de 2022

09:58 | Fev. 08, 2024

Por: Carlos Holanda
Operação da PF investiga tentativa de golpe de Estado (foto: )

A operação da Polícia Federal (PF) deflagrada contra ex-ministros do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi consequência da delação de Mauro Cid. Bolsonaro estaria entre os alvos, assim como o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. A relação também é composta pelos ex-ministros generais, Braga Netto e Augusto Heleno; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. A operação foi autorizada no âmbito do inquérito das milícias digitais. Grande parte das prisões preventivas cumpridas foram autorizadas após colaboração de Mauro Cid.

A operação concluiu que as investidas antidemocráticas que culminaram nos eventos do dia 8 de janeiro de 2023 se centraram em duas frentes:

  • Fabricação de notícias fraudulentas sobre a eleição presidencial de 2022, com o discurso comprovadamente falacioso de que as urnas eletrônicas são fraudáveis
  • Práticas terroristas que precederam o dia 8 de janeiro, assim como as daquela data, com objetivo de golpear o Estado Democrático de Direito.

A nova operação, batizada Tempus Vetitaris, cuja tradução significa Hora da Verdade, seria um resultado de meses de trabalho. O maior resultado das investigações seria a operação desta quinta-feira, 8. Delações premiadas não são, em si, uma prova, mas uma ferramenta por meio da qual investigadores podem atingi-las.

Em nota, a PF afirmou que se cumprem 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, como proibição de manter contato com demais investigados, proibição de se ausentarem do País, com entrega dos passaportes em 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.

Um ou mais procedimentos da operação ocorreram no Ceará. O POVO questionou a PF sobre os endereços e os cargos dos alvos que residem no Estado, ao que a instituição respondeu que as informações estão restritas à nota emitida. Outros estados em que a operação ocorreu são: Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Paraná, Goiás, além do Distrito Federal.

Confira nota da PF na íntegra 

"A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (8/2) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.

"Estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas. Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

"Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.

"O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.

"O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.

"O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal.

Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado."