Generais cearenses são alvos da operação contra Bolsonaro; irmão de um deles foi candidato
O general Paulo Sérgio Nogueira foi comandante do Exército e ministro da Defesa. Estevam Cals Theóphilo comandou a 10ª Região Militar, em Fortaleza, e é irmão de Guilherme Theophilo, que foi candidato a governador
11:29 | Fev. 08, 2024
Alvos da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 8, os generais do Exército Brasileiro, Paulo Sérgio Nogueira e Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, são cearenses.
Nogueira é natural de Iguatu, no Centro-Sul do Ceará, e foi o último ministro da Defesa no governo Jair Bolsonaro (PL). Então comandante do Exército, Nogueira assumiu o posto quando o general Walter Braga Netto, outro alvo da operação desta quinta-feira, 8, deixou o cargo para ser candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, em 2022.
Estevam Cals Theóphilo é natural de Fortaleza e comandou a 10ª Região Militar (10ª RM), na Capital. Também foi diretor de Ensino do Colégio Militar de Fortaleza. No currículo dele também consta o posto máximo no Comando de Operações Terrestres do Exército. Estevam Theóphilo teria prometido a Bolsonaro que a tropa estaria na rua para apoiar um golpe de Estado.
É o que teria afirmado à PF o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, em delação premiada. Cid teria apresentado mensagens que dariam força a sua versão, assim como registros da participação de Estevam Theóphilo na reunião em que se discutiu a minuta do golpe.
O irmão de Estevam Theóphilo, o também general Guilherme Theóphilo, foi candidato ao governo do Ceará pelo PSDB, em 2018. Atualmente, o general Guilherme Theóphilo comanda o partido Novo em Fortaleza. No governo Bolsonaro, foi secretário nacional de Segurança Pública, quando o ministro da Justiça e Segurança Pública era Sergio Moro.
Os dois descendem de família que está no Exército desde os tempos do Brasil Império. Muitos deles foram generais. É a única família que tem um dos membros, o general de brigada Manoel Theophilo Gaspar de Oliveira Neto, com permissão para usar barba em serviço, direito vedado aos demais. Em nota, a Polícia Federal afirmou que o Exército Brasileiro acompanhou alguns mandados em apoio à Polícia Federal.
O POVO entrou em contato e a questionou sobre os endereços visitados no Ceará, assim como os postos ocupados pelos alvos da operação que residem no Estado. A PF respondeu: "As informações estão restritas à nota." A Polícia Federal apura organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado para "obter vantagem de natureza política com a manutenção no então presidente da República no poder."
Confira nota da PF na íntegra:
"A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (8/2) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.
Estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, proibição de se ausentarem do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas. Policiais federais cumprem as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.
O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal.
Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado."