Drone da Abin sobrevoou residência oficial de Camilo no Ceará; PF investiga espionagem ilegal

Em 2022, a Abin arquivou o caso afirmando que o procedimento se deu dentro dos parâmetros de regularidade. Operação deflagrada nesta quinta-feira lista Camilo como um dos espionados indevidamente pela Abin

O atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), teria sido espionado ilegalmente por drone da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O equipamento sobrevoou a residência oficial do governador em 2021, com o atual ministro do governo Lula como governador do Ceará. O drone dispunha de aparelhos superpotentes de escuta.

Dois agentes da Abin foram flagrados operando um drone, mas o caso foi arquivado em 2022, ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), sob alegação de que o procedimento se deu dentro de "parâmetros regulares". Os dois tinham sido alvos do processo administrativo. Um deles havia sido coordenador de Operações de Meios Técnicos do Departamento de Operações da Abin. Ele havia sido nomeado por Alexandre Ramagem, hoje deputado federal e então diretor da Abin.

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No atual governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), operação da Polícia Federal (PF) batizada de "Vigilância Aproximada", deflagrada nesta quinta-feira, 25, investiga espionagem ilegal feita pela Abin, sob comando de Alexandre Ramagem, atual deputado federal. Camilo teria sido um dos alvos.

Em decisão que autoriza a deflagração da operação pela Polícia Federal (PF), o ministro Alexandre de Moraes afirma que o servidor Paulo Magno, gestor do sistema First Mile, teria operado um drone nas proximidades da residência oficial do então governador do Ceará, Camilo Santana, "comprovando a total ilicitude das condutas".

Moraes então diz que a ausência de motivação para a operação com o drone motivou a instauração de processo administrativo disciplinar, por parte do alto escalão da Abin, que mais tarde seria arquivado. Sem os "artefatos motivadores", como escreve o ministro, o que seria uma operação de inteligência se tornou uma "simples ação de inteligência de acompanhamentos".

"A operação é uma continuação das investigações da Operação Última Milha, deflagrada em 20/10/2023. As provas obtidas a partir das diligências executadas pela Polícia Federal à época indicam que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na ABIN e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal", diz a nota da Polícia Federal, publicada no site da instituição.

Ramagem foi nomeado pelo então presidente Bolsonaro para dirigir a Abin em julho de 2019, um mês após o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, barrar a nomeação dele para a direção-geral da PF. Moraes, inclusive, é um dos ministros do Supremo que também teriam sido espionados, ao lado de Gilmar Mendes.

"A ação ocorreu dentro de parâmetros regulares, sendo, consequentemente, arquivado. Não houve nenhuma ação de acompanhamento sobre autoridades constituídas do Governo do Estado do Ceará", disse a Abin em 2022, em nota enviada ao O POVO, sobre o procedimento na residência oficial ocupada por Camilo Santana.

Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão em Brasília, um em Juiz de Fora, um em São João del Rei, ambos em Minas Gerais, além de um no Rio de Janeiro.Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio; organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados pela legislação.

Em comunicado encaminhado à imprensa ao final da tarde desta quinta-feira, 25, Camilo criticou a "perseguição de pessoas públicas". 

"O ministro Camilo Santana lamenta os fatos relatados hoje pela imprensa, que apontam que a Agência Brasileira de Inteligência, um órgão tão importante, tenha sido utilizado ilegalmente no Governo anterior para perseguição de pessoas públicas. E confia no trabalho da Polícia Federal para apurar responsabilidades, de forma a garantir a preservação do papel da Abin no fortalecimento do Estado Democrático de Direito no Brasil",consta no documento. 

Atualizada às 18h24min

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