Advogado de Ronnie Lessa critica delações e diz que nunca ouviu cliente falar em mandante

O advogado disse que permanecerá no caso até ter uma prova "concreta" que Ronnie realmente fez a delação

21:43 | Jan. 24, 2024

Por: Júlia Duarte
Ronnie Lessa, ex-policial militar (foto: Reprodução/ Twitter)

Um dos responsáveis pela defesa de Ronnie Lessa, preso sob suspeitas de ser o atirador que matou a vereadora Marielle Franco, o advogado Bruno Castro, afirmou que segue defendendo seu cliente e que Lessa nunca citou ninguém como mandante do crime ao longo dos cinco anos em que esteve preso. O advogado concedeu entrevista exclusiva ao O POVO News nesta quarta-feira, 24.

Castro afirmou que ficou surpreso com as informações de que Ronnie teria aceitado fazer delação premiada que o seu escritório não atua com esse tipo de instrumento jurídico. Segundo ele, o policial reformado reiterou a inocência e chegou a apenas a dizer que “acha que sabia quem tinha atirado”. “O Ronnie, em uma conversa há um dos dois ou três anos, ele deu a entender que acreditava saber quem tinha atirado, quem tinha cometido o crime, pela assinatura do crime, o modus operandi”, afirmou.

E reiterou: “Ele acreditava que sabia quem tinha executado o crime. Ele jamais falou em mandante, o que ele disse, a observação, foi exclusivamente sobre o atirador, foi só isso. Que não ia fazer achismo para a política justamente pela família dele, que não caberia achismos em um crime de magnitude como esse”.

O advogado disse que permanecerá no caso até ter uma prova “concreta” de que Ronnie realmente fez a delação, seja um vídeo ou documento assinado por ele. O profissional ainda não conseguiu fazer contato com o cliente pelos trâmites internos de presídios federais que demoram em torno de 15 dias para autorizar a entrada de defesas no local.

Castro apontou que o escritório por uma “ideologia jurídica” não media delações premiadas entre os clientes e levantou dúvidas quanto ao método. “Outra razão é que a delação, muitas vezes, não traz a verdade, às vezes, essa delação é trazida por motivos de pressão psicológica. A gente pode ver na Lava Jato, por exemplo, que teve várias delações que foram anuladas”, afirmou.

Ele, no entanto, apontou que, caso Ronnie quisesse, poderia ter confessado o crime. O ex-PM foi preso acusado de ser o executor de Marielle e do motorista Anderson Gomes. "Se o Ronnie dissesse: 'Bruno eu quero confessar o crime', beleza, vamos lá e vamos confessar. Mas a partir do momento que, se for o caso, ele apontar outra pessoa, aí realmente foge da minha ideologia jurídica que tange a delação", disse.

Segundo o site The Intercept Brasil, o conselheiro do Tribunal de Conta, Domingos Brazão, foi apontado por Ronnie Lessa como mandante do assassinato de Marielle e Anderson. Em outubro do ano passado, o ex-policial militar Élcio Queiroz — o primeiro acusado a assumir a coparticipação no assassinato - citou Brazão em delação, o que fez com que o caso fosse remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Relatório da Polícia Federal de 2019 apontou Brazão como o "principal suspeito de ser autor intelectual" dos assassinatos da vereadora e do motorista. O conselheiro do TCE sempre negou a participação no crime. Ele já havia sido denunciado em 2019 pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido.

A delação precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O caso está com o ministro cearense Raul Araújo.