Maduro mobiliza tropas na fronteira com a Guiana após Reino Unido anunciar envio de navio militar

De acordo com o anúncio de um militar, mais de cinco mil homens estão prontos para a intervenção

A Venezuela enviará tropas militares para a fronteira com a Guiana, país vizinho com quem trava uma disputa pelo território de Essequibo. A informação foi dada pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, nesta quinta-feira, 28.

Em anúncio transmitido pela TV venezuelana, o líder deu ordem para “a ativação da ação defensiva das Forças Armadas bolivarianas”. Ele, no entanto, não deu detalhes de como a operação será realizada. Na mesma transmissão, um militar informou que mais de cinco mil homens estão prontos para a intervenção.

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De acordo com Nicolás, a mobilização das tropas atua como uma resposta ao anúncio do Reino Unido de que enviará um navio militar à costa da Guiana. Em comunicado, a presidência venezuelana classificou a articulação britânica como uma provocação.

"O chefe de Estado, Nicolás Maduro, ordena a ativação imediata da Ação Conjunta 'General Domingo Antonio Sifontes' (como Maduro chamou a operação), que envolve as Forças Armadas Bolivarianas, sobre o Caribe oriental e a Fachada Atlântica (que correspondem às costas norte e nordeste da Venezuela, ao lado da fronteira com a Guiana), como resposta à provocação do Reino Unido contra a Venezuela", diz o governo em nota.

Reino Unido e navios militares

O Ministério da Defesa do Reino Unido anunciou, na semana passada, que enviará uma embarcação da Marinha Real HMS Trent para proteger o território da Guiana, que integra a comunidade de nações ex-colônias britânicas (Commonwealth).

O navio, segundo Londres, já estava no Caribe para atuar no combate ao tráfico de drogas, mas será desviado para a costa guianesa.

Os Estados Unidos, que têm parceria militar com a Guiana desde 2022, com foco na disputa por Essequibo, anunciaram sobrevoos militares na região. Maduro, por sua vez, avaliou a iniciativa como uma provocação. Os EUA analisam ainda a criação de uma base militar em Essequibo.

Em novembro, o país venezuelano realizou um referendo acerca da anexação de Essequibo, que corresponde a 70% da Guiana, mas que a Venezuela alega ser sua historicamente.

O referendo, no qual apenas metade dos eleitores compareceu, aprovou a anexação, e, posteriormente, Maduro apresentou novos mapas oficiais já com a região contemplada como de seu país.

A mobilização das tropas venezuelanas interrompe o diálogo que ambos os países traçavam desde que Maduro se reuniu com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, para discutir a disputa. O encontro, realizado em São Vicente e Granadinas, país caribenho, contou com a participação do assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim.

Ao fim da reunião, o governo da Venezuela informou que os dois países se mostraram dispostos a “continuar com o diálogo” sobre o território. Além disso, Maduro afirmou que apresentou uma “posição inalterável” durante a reunião.

O encontro foi o primeiro diálogo direto na disputa pelo território de Essequibo após pouco mais de uma semana de escalada no embate, que envolveu referendo, uma ameaça de invasão e a iminência de um conflito armado na fronteira com o Brasil.

Itamaraty informa que apoio militar a Venezuela ou Guiana deve ser evitado

O Ministério das Relações Exteriores manifestou preocupação nesta sexta-feira (29) com movimentos militares recentes em torno da região de Essequibo. Trata-se da área da Guiana reivindicada pela Venezuela.

"O governo brasileiro acredita que demonstrações militares de apoio a qualquer das partes devem ser evitadas, a fim de que o processo de diálogo ora em curso possa produzir resultados", afirma nota divulgada pelo ministério.

A manifestação do Itamaraty vem no dia seguinte de o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciar o envio de tropas para a fronteira com a Guiana. De acordo com o chefe da ditadura da Venezuela, o movimento é uma reposta ao anúncio do envio de um navio militar à costa guianesa pelo Reino Unido.

O Itamaraty também defendeu que as conversas sobre a disputa entre os países se concentrem em instituições regionais como a Celac e a Caricom. "O Brasil conclama as partes à contenção, ao retorno ao diálogo e ao respeito ao espírito e à letra da Declaração de Argyle acordo entre os dois países assinado em dezembro".

Venezuela x Guiana

Uma disputa centenária sobre o controle de um território sul-americano ganhou novos contornos no início de dezembro. No dia 3 deste mês, eleitores venezuelanos foram às urnas para opinar, em um referendo, sobre a redefinição da fronteira de seu país com a república vizinha, a Guiana.

No referendo, mais de 95% dos eleitores venezuelanos aprovaram a criação de um Estado venezuelano intitulado Guiana Essequiba na região que hoje pertence ao país vizinho.

A consulta incluiu cinco perguntas ao eleitor sobre como a Venezuela deverá se comportar em relação a uma área de 160 mil quilômetros quadrados (km2) localizada a oeste do Rio Essequibo, que hoje responde por cerca de 75% dos 215 mil km2 do território da Guiana.

A área, rica em minérios e pedras preciosas, está sob controle da Guiana desde que o país se tornou independente, em 1966. Antes disso, era dominada pelo Reino Unido, desde meados do século XIX. Os britânicos apoiavam seu direito ao território com base no fato de que, em 1648, os espanhóis cederam toda a área a leste do Orinoco aos holandeses. Parte dessa terra foi posteriormente passada pela Holanda ao Reino Unido.

A Venezuela, por sua vez, afirma que o território pertence a ela, já que era parte do Império Espanhol, havia a presença de religiosos espanhóis na área e, segundo ela, os holandeses nunca ocuparam a região à oeste do rio Essequibo. A reivindicação existe mesmo antes de o país se tornar independente, ou seja, quando ainda era parte da Grã-Colômbia.

A região é conhecida na Venezuela como Guiana Essequiba, ou simplesmente, Essequibo, e aparece atualmente nos mapas oficiais do país como “Zona en Reclamación”, ou seja, um território que está sendo reivindicado.

Sob administração guianesa, Essequibo inclui áreas de seis províncias, das quais duas estão integralmente inseridas ali e três têm a maior parte de suas superfícies localizadas na região reivindicada pela Venezuela.

Além disso, Essequibo inclui uma porção importante da costa guianesa, onde há poucos anos foram descobertas enormes reservas de petróleo e que a Guiana já está explorando, em parceria com companhias como a norte-americana ExxonMobil e a chinesa CNOOC.

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