Ciro aumenta hostilidade pública em relação a Cid e diz que irmão lidera grupo de "descartáveis"

Desentendimento político-familiar começou no ano passado, mas as críticas públicas, principalmente da parte de Ciro, cresceram desde que brigaram em reunião do PDT no Rio de Janeiro

A ruptura interna que atinge o ambiente partidário do PDT torna cada vez mais agressivas as manifestações públicas de Ciro Gomes, candidato a presidente pelo partido nas eleições de 2018 e 2022, e o irmão dele, senador Cid Gomes.

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Até o primeiro semestre do ano, Ciro pedia a repórteres para não mencionar o assunto Cid. "Eu não quero comentar porque a facada nas minhas costas está doendo muito ainda", disse em 22 de junho. Ainda em 2022, no dia do primeiro turno, ele dizia que o desentendimento com os irmãos "vai sangrar até o último dos meus dias".

Interpelado no mesmo sentido, Cid afirmava que questões familiares se tratam em casa. Mas ele já sabia que o confronto ganhara contornos de irreversibilidade. "Para mim o que havia de mais importante era a fraternidade do Ciro em relação a mim. Pelo visto, está perdida", disse em julho.

Bate-boca

Um marco parece ter sido a reunião do PDT no Rio de Janeiro, em 27 de outubro, após a qual se decidiu pela intervenção nacional no diretório cearense, então comandado por Cid. A proposta da intervenção foi feita por Ciro. Na ocasião, os irmãos, que não se falavam havia mais de ano, voltaram não a dialogar, mas a bater boca.

Eles chegaram quase ao mesmo tempo, não se cumprimentaram. Ao discutirem, os gritos podiam ser ouvidos de outros andares. Ficaram de pé e falaram com dedo em riste. Aliados se envolveram e por pouco não houve confronto físico. Na saída, Ciro afirmou que o encontro foi "muito ruim". Sobre o clima com o irmão, falou: "É o pior possível".

De lá para cá, as críticas de Ciro se tornaram mais explícitas e agressivas. Na última sexta-feira, Ciro disse que o irmão aderiu a dinâmica "fisiologista, de clientelismo e completamente descartável". "Eu o protegi disso a vida inteira de todos os conflitos. Eu sei que dei vida política ao Cid. A ingratidão e a traição são problemas dele", afirmou.

Sobre o grupo liderado pelo senador, que sinaliza saída do PDT, Ciro falou: "Que ele leve os descartáveis para onde ele quiser ir com muito boa sorte".

Cid tem postura mais contemporizadora e evita ataques públicos ao irmão. Poucas semanas antes da reunião de 27 de outubro, o senador dizia querer e acreditar na reconciliação. Segundo ele, ambos pensam de forma semelhante.

Em maio, ele afirmava a disposição para abrir mão de concorrer à reeleição na vaga que ocupa no Senado em 2026 caso Ciro queira ser candidato. Mais recentemente, foi mais contido: "Eu pessoalmente fico absolutamente constrangido com essa situação. O mínimo que posso fazer, até em respeito a essa relação, do passado, é não fazer mais comentários".

Escalada da disputa

A briga política pedetista remonta ao ano passado, quando adeptos da candidatura da ex-governadora Izolda Cela (sem partido) e de Roberto Cláudio (PDT) travaram disputa interna. Ciro era partidário deste último. Cid defendia Izolda. Com o argumento de não brigar com Ciro, ele não fez campanha para governador, nem a favor de Roberto Cláudio nem de qualquer outro.

"Na política, o que eu podia fazer para respeitar a decisão do Ciro, eu fiz, que foi exatamente me ausentar no primeiro turno, em relação ao Governo do Estado, em respeito à decisão dele", disse o senador, após o 1º turno de 2022.

Na campanha, partidários de Izolda no PDT não fizeram campanha para Roberto Cláudio. Alguns não somente se omitiram como caíram em campo para ajudar Elmano de Freitas (PT), o vencedor da disputa ainda no 1º turno.

Em meados deste ano, a briga ganhou novos capítulos e expôs mais a divergência entre os irmãos, quando Cid passou a reivindicar a presidência do PDT no Ceará, com a substituição do deputado federal André Figueiredo. Este último teve apoio de Ciro para seguir no cargo.

Cid conseguiu assumir o partido, primeiro por acordo por André, depois por decisão da maioria do diretório de destituir a antiga executiva, numa briga com desdobramentos judiciais. Foi nesse contexto que foi aprovada a intervenção no Ceará, proposta por Ciro na reunião no Rio de Janeiro.

No comando da legenda no Estado e em guerra com a direção nacional — comandada por Figueiredo — Cid aprovou cartas de anuência para dez deputados estaduais, quatro deputados federais, dois vereadores e 50 prefeitos filiados ao PDT deixarem o partido sem sofrerem punição. A decisão é contestada pela cúpula pedetista.

O pano de fundo da atual disputa é a posição em relação ao governo Elmano de Freitas e sobre a eleição de 2024 em Fortaleza. Ciro representa o entendimento minoritário de que o PDT deve se manter como oposição ao governador e apoiar a reeleição do prefeito José Sarto (PDT). Cid, por sua vez, avalia que não há razão para não dar sustentação à administração petista, continuidade dos governos anteriores, a partir de 2007, na aliança que o próprio senador costurou. Cid deseja ver reeditada a aliança entre PDT e PT em Fortaleza no próximo ano, projeto no qual Sarto não estaria incluído.

O que Ciro e Cid dizem um sobre o outro 

"Contem conosco, porque esse pedaço de PDT que está aqui não aceita suborno"

Ciro Gomes, em 30/10/2023, sobre a ala do PDT que aderiu ao governo Elmano

"Eu pessoalmente fico absolutamente constrangido com essa situação. O mínimo que posso fazer, até em respeito a essa relação, do passado, é não fazer mais comentários"

Cid Gomes, em 7/11/2023, num tom de conformismo sobre o fim da relação entre ele e o irmão

"Que ele leve os descartáveis para onde ele quiser ir com muito boa sorte"

Ciro Gomes, na última sexta-feira, 10/11/2023, sobre a possibilidade de debandada no PDT liderada por Cid Gomes

"Eu sei que dei vida política ao Cid. A ingratidão e a traição são problemas dele"

Ciro Gomes, na última sexta-feira, 10/11/2023, sobre o que entende como adesão fisiológica do irmão e dos aliados ao governo

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