Aliados de Bolsonaro criticam TV Cultura nas redes após transmissão de vídeo sobre agrotóxicos
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fabio Wajngarten, criticaram neste sábado, 11, a TV Cultura em função de um boletim sobre o uso de agrotóxicos no País. As críticas à emissora, pertencente ao governo de São Paulo, foram endossadas por apoiadores do ex-chefe do Executivo nas redes sociais. O episódio soma-se a outros conflitos entre o grupo de Bolsonaro e a estatal paulista.
Na rede social X (antigo Twitter), Eduardo comparou a produção da TV Cultura ao discurso de um deputado de esquerda e a classificou de "jornalismo militante". Além disso, alegou que a emissora ataca o agronegócio brasileiro, setor responsável por 48,6% das exportações do País. "A quem interessa destruir o agro brasileiro? Aos brasileiros que não é", escreveu.
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Na publicação, Eduardo afirma que tirou a foto da produção da TV Cultura, porém não informa em que dia a imagem foi registrada, tampouco fornece detalhes sobre em qual programa do canal de TV o vídeo foi veiculado.
Publicada por volta de 21h30, a postagem sugere que o vídeo foi transmitido no Jornal da Cultura, que é transmitido entre 21h e 22h. Porém, não há qualquer conteúdo sobre agrotóxicos na edição deste sábado do JC.
Procurado para esclarecer a questão, o deputado não retornou aos contatos.
A TV Cultura também foi procurada para se manifestar sobre as críticas em relação ao boletim, porém não respondeu até a publicações desta reportagem.
Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da gestão Jair Bolsonaro e porta-voz do ex-presidente, também se posicionou contra a rede de televisão. "É inadmissível que um meio de comunicação estatal ataque um dos setores produtivos do Estado de São Paulo", afirmou.
Por sua vez, Sergio Camargo (PL), ex-presidente da Fundação Palmares, sugeriu que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, precisa "desaparelhar" a estatal paulista.
A ideia de que a TV Cultura precisa ser reestruturada é popular entre os apoiadores de Bolsonaro. Para o grupo político do ex-presidente, o ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido) teria nomeado antibolsonaristas para comandar a emissora. Com isso, os aliados do ex-presidente frequentemente solicitam que Tarcísio modifique os cargos na rede de televisão.
O embate entre o canal de TV e bolsonaristas não é novo. Em abril, a emissora apagou de sua conta no YouTube um documentário crítico à extrema-direita após pressão de Eduardo Bolsonaro.
A ação repercutiu mal entre os funcionários da TV Cultura, que a classificaram como "censura". Após a repercussão negativa, o documentário foi republicado. Porém, o episódio acendeu alerta para possível interferência política na emissora.
Na época, o canal negou interferência política na programação. "A Fundação Padre Anchieta esclarece que são infundadas as informações que o documentário 'O Autoritarismo Está no Ar - 3 Anos Depois' foi retirado do YouTube por questões políticas. O vídeo não foi removido do YouTube. O conteúdo foi privado, passou por ajuste técnico e, conforme previsto, voltou ao ar no mesmo link", afirmou, em nota enviada ao Estadão em abril deste ano.
Conselho curador
Responsável por estabelecer as diretrizes da programação da TV Cultura, a Fundação Padre Anchieta (FPA) tem sido palco de disputas entre apoiadores e críticos de Bolsonaro.
Após a polêmica em torno do documentário sobre a extrema-direita, o governador Tarcísio foi pressionado a substituir a secretária de Cultura, Marília Marton, por um nome alinhado ao bolsonarismo.
Na ocasião, tanto Eduardo como o ex-secretário de Cultura da gestão Bolsonaro Mário Frias (PL) mobilizaram-se pela saída de Marília.
O principal argumento contra a permanência da secretária de Cultura usado na época foi o de que ela estaria comprometida em permitir que a esquerda continuasse a influenciar a programação da TV Cultura. A secretária, porém, não tem ingerência sobre a programação da emissora, controlada pela FPA.
O conselho curador da fundação é composto por 47 vagas, sendo que 23 delas são de natureza eletiva, ou seja, seus ocupantes são indicados e eleitos.
Outras 20 vagas são designadas, reservadas a cargos como secretários de Estado e reitores de universidades. Há ainda uma vaga reservada aos funcionários da FPA e outras três vitalícias. Nesse contexto, controlar o maior número possível de vagas da entidade é uma meta do bolsonarismo no Estado de São Paulo.
No fim de outubro, o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos) assumiu uma posição no conselho curador da FPA. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, ele ocupa a posição de vice-líder do governo Tarcísio e é alinhado ao bolsonarismo. À época, o parlamentar expressou sua intenção de concentrar seus esforços como conselheiro para manter a neutralidade da TV Cultura.
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