CPI do 8/1: Relatora blindou lista de indiciamentos contra generais para evitar pressão

Apenas a relatora e um consultor legislativo tinham acesso ao documento. Os demais assessores e agentes da Polícia Federal atendiam a pedidos da relatora, no entanto, não acessavam o texto

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques golpistas de 8 de janeiro caminha para o encerramento nesta quarta-feira, 18. No entanto, a relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) blindou o relatório contendo a lista de pedidos de indiciamento de nove integrantes da cúpula das Forças Armadas. A iniciativa de esconder o documento se deu por preocupação com possíveis pressões dos militares. A informação é do portal UOL.

Apenas a relatora e um consultor legislativo tinham acesso ao documento. Os demais assessores e agentes da Polícia Federal atendiam a pedidos de Eliziante, mas não acessavam o texto.

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Além da lista, houve cuidado redobrado para afastar rascunhos que continham o nome de líderes de governo, da oposição, dos partidos e dos ministros do Planalto. O resguardo durou até a manhã dessa terça-feira, 17, quando o texto foi apresentado.

O relatório vai à votação nesta quarta-feira, com a expectativa de ser aprovado pela maioria dos membros da comissão.

A senadora temia sofrer pressões caso a lista de generais acusados chegasse ao conhecimento de outros agentes políticos.

Eliziane pediu o indiciamento do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército e do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier. Os dois ocuparam cargos no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também está entre os indiciados.

Os acusados pela CPI dos atos golpistas, em sua maioria, são militares. De um total de 61 pessoas, 31 são fardadas.

Em depoimento, o general Gustavo Henrique Dutra alegou não ter visto as faixas que pediam intervenção militar e negou ter visto perfil golpista em acampamento. À época das invasões, Dutra estava à frente da administração do entorno do quartel general do Exército, de onde partiram os invasores das sedes dos Três Poderes. “O acampamento era uma manifestação pacífica”, disse em depoimento à CPMI.

Mesmo após as alegações, o militar foi retirado da lista de pedidos de indiciamento. A iniciativa causou estranheza a pessoas próximas às investigações da CPI. Conforme apurado pelo portal UOL, a relatora chegou à conclusão de que o general Dutra havia se recusado a patrocinar a tentativa de golpe.

Os posicionamentos suspeitos de Dutra seriam explicados por um corporativismo de farda, uma vez que seria assediado por oficiais reformados que utilizavam as Forças para manter Bolsonaro no poder.

Militares acusados

No entendimento de Eliziane, os generais colaboraram no ataque aos prédios públicos no começo do ano. Por este motivo, ela decidiu pedir o indiciamento dos oito generais e de um almirante. A conclusão atendeu aos elementos apurados pela CPI.

Todavia, o papel de distinguir golpistas de democratas contou com a participação do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que é líder do governo no Congresso Nacional. A relatora não dialogava com o Planalto e com o Ministério da Defesa.

Randolfe ficou responsável por analisar quais rumos a CPI estava tomando e por consultar os comandos de Exército, Marinha, Aeronáutica para descobrir a índole de cada investigado.

Esta última ferramenta serviu para que a relatora confirmasse as suspeitas e pedisse o indiciamento dos oito militares.

A iniciativa de Eliziane em pedir o indiciamento dos generais foi classificado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) como um “ato de muita coragem”, uma vez que, segundo ela, é sempre complicado apontar culpa a militares.

No entanto, a deputada avalia que os indícios tornaram impossível não pedir o indiciamento de parte da cúpula das Forças Armadas.

O senador Marcos Rogério (PL-RO), em contrapartida, disse que o pedido de indiciamento foi um “exagero” por parte da senadora. Ele considera que não existem elementos suficientes para acusar pessoas como o general Luiz Eduardo Ramos, que foi ministro de Bolsonaro.

O parlamentar defendeu que não houve nenhum indício de participação de Ramos em ações golpistas. O cenário muda com nomes como o do general Ridauto Fernandes, que estava presente nas invasões.

Lista de generais acusados:

  • General Marco Antônio Freire Gomes: Comandou o Exército à época e autorizou que manifestantes acampassem na frente de quartéis segurando faixas sobre intervenção militar.
  • General Walter Braga Netto: Candidato a vice na chapa de Bolsonaro. O militar sinalizou aos apoiadores do ex-presidente que Lula não tomaria posse.
  • General Luiz Eduardo Ramos: Ministro da Secretaria-Geral da Presidência durante a gestão Bolsonaro. Era um dos militares mais próximos e leais ao ex-presidente.
  • General Paulo Sérgio Nogueira: Ministro da Defesa que teria se reunido com o hacker Walter Delgatti para discutir a falsa invasão das urnas eletrônicas. Ele também não conteve as manifestações golpistas dentro das Forças Armadas.
  • General Carlos José Russo Assumpção Penteado: Integrante do GSI; sua atuação teria permitido que os manifestantes golpistas entrassem no Palácio do Planalto.
  • General Ridauto Fernandes: Alvo de operação da Polícia Federal por invadir as sedes dos Três Poderes e ajudar que outras pessoas fizessem o mesmo.

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