A vida de um sobrevivente do Holocausto transformada por um professor cearense
Educação é tema central de palestra George Legmann, judeu nascido em um campo de concentração nazista
14:52 | Out. 17, 2023
“Vim para o Brasil com outras 50 famílias judias. Aqui encontrei um professor que abriu caminho para minha vida.” Sobrevivente do Holocausto, George Legmann , 78 anos, formou-se em Engenharia Química pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em palestra realizada nesta terça-feira, 17, no Ministério Público do Ceará (MPCE), ele contou como foi nascer dentro de um campo de concentração na Alemanha nazista, sobreviver ao Holocausto e reconstruir a vida por meio da educação.
Ao chegar ao Brasil, em 1961, Legmann ganhou uma bolsa de estudos, mas ao final do ensino médio precisava de meio ponto para passar em português. Segundo ele, o professor da disciplina percebeu seu bom desempenho em todas as disciplinas e entendeu a dificuldade com a língua portuguesa.
“Acredito que você vai entrar na faculdade, passa amanhã para a secretária”, ouviu do professor que Legmann só lembra do nome e do sobrenome: Raimundo , do Ceará. “Graças a ele pude viajar pelo mundo através da educação.” Aceitou propostas para trabalhar em países como Suíça e China.
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A tabela que antecedeu a história de Legmann foi categórica ao afirmar que falar sobre o Holocausto nas escolas é fundamental na formação educacional. Segundo o presidente da Sociedade Israelita do Ceará, André Fleishman , “a luta contra o preconceito e o antissemitismo deve começar na escola, onde se forma o caráter das pessoas”.
O diretor-geral da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Sérgio Napchan , destacou o Ceará como estando na vanguarda do ensino sobre o massacre que matou quase seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. “O Ceará é referência em educação e foi um dos primeiros do Brasil a trazer o Holocausto para a sala de aula. O tema precisa ser abordado nesses espaços para relembrar o que o povo judeu viveu e reforçar a importância da garantia dos direitos humanos”.
No evento desta terça estiveram presentes estudantes de escolas públicas e universidades cearenses. Para o professor de História Jorge Sampaio , do Liceu Liceu de Messejana, “quando abordamos este tema estamos a falar do tempo presente, porque a história estuda os processos da humanidade ao longo do tempo e a relação do homem com esses acontecimentos. Ainda esta semana, deparamo-nos com cemitérios vandalizados com a suástica, um símbolo nazi”.
Ele comenta que seus alunos moram na periferia de Fortaleza e levá-los ao encontro “Relatos de um Sobrevivente do Holocausto: Memórias e Direitos Humanos” é uma oportunidade que o livro didático por si só não oferece. “Trazer meus alunos para esse evento também ajuda na preparação deles para o vestibular”, completa.
Victória Carvalho , 18 anos, é aluna do 3º ano do Ensino Médio desta escola. Segundo a pré-universitária, “é difícil ter acesso a esse tipo de aula”, para ela foi uma oportunidade de aprender fora da sala de aula.
“Foi muito enriquecedor para mim porque é um tema que estou estudando atualmente na escola e sei que pode cair no Enem. Meu objetivo é levar para a vida o que aprendi aqui, entender a importância da garantia dos direitos humanos”.
Hamas x Israel
George Legmann diz lamentar a guerra vivida em Israel, que está em conflito com o grupo terrorista Hamas . "Nas guerras não há vencedores. O Hamas não representa o povo palestino. Eles mataram inocentes. O povo quer a paz, por isso é necessário construir pontes para uma vida digna”.
Ele defende a criação do Estado palestino dentro de fronteiras seguras para todos e o respeito por Israel como país. "Não se pode alcançar a paz com grupos terroristas. É necessário estabelecer acordos claros porque vivemos numa barbárie. Espero que a legislação brasileira não permita que células terroristas prosperem no país.”
Segundo a CONIB, a comunidade judaica no Brasil é a segunda maior da América Latina. Ao todo, são 120 mil judeus filiados em 16 estados da federação. O Ceará tem cerca de 100 associados.
Exposição Fotográfica de Serviço
“Do Holocausto à Libertação”
Local: Espaço Cultural do MPCE, localizado na Av. General Afonso Albuquerque Lima, número 130, bairro Cambeba
Data: até 30 de outubro
Horário: segunda a sexta, das 9h às 16h.
Aberto ao público. Recomendação de idade a partir dos 14 anos