Múcio sobre suposta adesão de almirante a golpe: 'Muita gente não desejava largar o poder'
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta sexta-feira, 22, que percebia que "muita gente desejava não largar o poder" durante o período de transição entre os governos de Jair Bolsonaro (PL) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Múcio deu a declaração ao ser questionado sobre a postura do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, acusado de ter aderido a uma proposta de golpe de Estado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em delação premiada.
"Não sei se ele tinha aspirações golpistas, mas a gente via, os jornais falavam. Era outro governo, outros comandantes (da Marinha, do Exército e da Aeronáutica), outro presidente da República. Na verdade, a gente percebia que muita gente não desejava sair do poder, largar o poder. Mas no dia 1º de janeiro, as Forças Armadas garantiram a posse do presidente e nós fomos vivendo a nossa plenitude democrática", afirmou o ministro.
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Múcio também afirmou que não foi recebido por Garnier após a derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais. Segundo a Coluna da Vera Rosa, em uma inédita quebra de protocolo, o almirante não quis se reunir com o então novo chefe da Defesa e também não participou da cerimônia para passar o bastão a seu sucessor, Marcos Sampaio Olsen. "Ele não me recebeu, eu percebia. Os outros comandantes me receberam", disse Múcio.
Relatora da CPMI quer convocar almirante
Nesta quinta-feira, 21, a relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que apresentará requerimentos de convocação e quebra do sigilo telemático do almirante Garnier. Segundo ela, os fatos delatados por Mauro Cid podem apresentar provas sobre a autoria intelectual dos ataques às sedes dos Três Poderes. A base governista do colegiado defende que Bolsonaro foi o responsável por idealizar as invasões aos prédios. Já a oposição tenta desatrelar a imagem do ex-chefe do Executivo do episódio.
"Diante do fato de hoje, o almirante passa a ser uma pessoa absolutamente fundamental. A volta do Mauro Cid. Eu elencaria essas duas figuras como muito centrais para a reta final dos trabalhos da CPMI. Se houve uma motivação, um chamamento para reunião, uma apresentação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), se houve ali uma iniciativa de se questionar o processo eleitoral e estabelecer uma intervenção, não há dúvida nenhuma que é uma ação inconstitucional e deverá ser, sim, levada em consideração pela CPMI", afirmou a relatora.
Segundo Múcio, a convocação de Garnier não causaria um constrangimento para o Ministério da Defesa. "Eles são soberanos, o presidente e a relatora (da CPMI) podem convocar quem quiser. Eu acho que, se for para esclarecer, eles têm toda a autoridade e tem poder para fazer isso", afirmou.
A previsão é que os requerimentos de Eliziane sejam votados na próxima terça-feira, 26, antes da sessão que ouvirá o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
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