De olho em 2024, quase 30 prefeitos mudaram de partido no Ceará

Partidos planejam expandir o número de filiados que podem concorrer à cargos ou podem indicar sucessores

14:47 | Set. 08, 2023

Por: Júlia Duarte e Vitor Magalhães
Elmano em Caucaia ao lado do prefeito Vítor Valim (foto: FÁBIO LIMA)

Nas últimas semanas, mudanças importantes ocorreram no cenário partidário no Ceará. No mês passado, o PSB oficializou Eudoro Santana como novo presidente estadual do partido e filiou pelo menos nove prefeitos de cidades da Região Metropolitana de Fortaleza e do Interior. Entre os recém-filiados estão Vitor Valim (Caucaia), Átila Câmara (Maranguape) e Nezinho (Horizonte). Os três municípios estão entre os mais importantes da Região Metropolitana de Fortaleza e ensaiam contraponto em relação ao PL de Acilon Gonçalves, hegemônico a leste da Capital.

 

Outra mudança importante foi o anúncio de que Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa, deixará o PDT. Ele é cotado para se filiar ao próprio PSB ou ao PT, o que deve provocar novos movimentos migratórios. As mudanças, que envolvem ainda, com intensidade, o Republicanos. Desde o início do ano, aproxima-se de 30 prefeitos, pelo menos, a quantidade de gestores que mudaram de partido com vistas às eleições 2024, quando são justamente as prefeituras o principal alvo das ambições.

Em meados de maio, o PT conseguiu atrair Flávio Filho, de Amontada, e Tiago Ribeiro, de Cascavel. É ainda aguardado na legenda Marcelo Teles, o Processor Marcelão, de São Gonçalo de Amarante. Líderes do partido já expressaram o desejo que a agremiação saia das eleições de 2024 como o maior do Estado. 

O PT tem o segundo maior número de prefeitos no Ceará, atrás do PDT, e quer se fortalecer especialmente no interior do Estado, além de ampliar o apoio ao governador Elmano de Freitas (PT).

Presidente estadual da legenda, Antônio Filho, o Conin, contabiliza 34 gestões petistas no Estado e, segundo ele, há em andamento dez negociações. Em janeiro, a legenda conseguiu atrair outros 12 prefeitos, que saíram de partidos como PDT, MDB, PCdoB e PL.

Prefeitos que se filiaram ao PT

  • Aratuba: Joerly Vitor
  • Campos Sales: João Luiz
  • Cariús: Wilamar Palacio 
  • Choró: Marcondes Jucá 
  • General Sampaio: Francisco Cordeiro 
  • Ibicuitinga: Franzé Carneiro 
  • Jaguaruana: Elias Oliveira 
  • Jardim: Dr. Aniziario Costa 
  • Penaforte: Dr. Rafael Ferreira 
  • Potengi: Edson Veriato 
  • Saboeiro: Marcondes Ferraz 
  • Santana do Acaraú: Francisco das Chagas Mendes
  • Amontada: Flávio Filho
  • Cascavel: Thiago Ribeiro

As migrações foram articuladas pelo governador Camilo Santana (PT) e pelo deputado José Guimarães (PT). Um dos principais "atrativos" para a filiação foram tanto a boa avaliação do governador de olho nas pesquisas de opinião quanto a pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Estado. Tudo foi combinado com o estrategista maior do PDT no Ceará, senador Cid Gomes.

Prefeitos que se filiaram ao PSB

  • Caucaia: Vítor Valim
  • Maranguape: Átila Câmara
  • Horizonte: Nezinho Farias
  • Icapuí: Raimundo Lacerda
  • Mulungu: Robert Viana
  • Novo Oriente: Nenen Coelho
  • Milhã: Alan Macedo
  • Santana do Acaraú: Meu Deus
  • Guaiúba: Izabella Fernandes

Vitor Valim (PSB) disse que migrar para o PSB foi um convite de Eudoro para compor as mesmas fileiras do projeto que governa o Estado nos últimos 16 anos. "Qualquer um que esteja no PSB hoje tem a oportunidade de ter um grande orientador político, o nosso líder, o senador Camilo Santana". Sobre os planos para 2024, disse que fará "gestão".

"As questões políticas locais, digo com tranquilidade, vou fazer gestão. A oposição, como não tem o que fazer, faz política pela política e eu tenho a obrigação de mudar a vida das pessoas e continuar o projeto que estamos tocando", pontuou.

Em Caucaia, Valim deve disputar com o atual vice-prefeito, Deuzinho Filho (União Brasil), ligado ao grupo de Capitão Wagner (União Brasil).

O PSD, sigla que também passou a compor a base de Elmano, também cogita lançar candidatura em Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do Ceará, sob a liderança de Naumi e Erika Amorim.

Átila Câmara, prefeito de Maranguape, disse que o PSB passaria a ter um papel importante de “reaproximação com o campo da esquerda, alinhamento com governador Elmano e resgate da história do partido” sob a direção de Eudoro. A respeito da filiação, destacou a questão afetiva como parte importante da escolha por aceitar o convite feito por Eudoro.

“No meu caso, tem também o componente afetivo. Fui vereador e prefeito pelo PSB. Tive que sair por conta dos desígnios da política, mas ficou uma história e uma afinidade. A convite do doutor Eudoro, com alinhamento com Elmano e Camilo, hoje volto a um partido que me acolheu no início da minha trajetória política”, pontuou.

Prefeitos que se filiaram ao Republicanos

  • Ipueiras:  Júnior do Titico
  • Mombaça: Orlando Filho
  • Santa Quitéria: Lígia Protásio
  • Paramoti: Telvânia Braz
  • Acopiara: Ana Patrícia

Também em maio, o ex-senador Chiquinho Feitosa assumiu a presidência estadual do Republicanos. Em evento lotado, ele conseguiu filiar quatro novos prefeitos. A ida para a agremiação aproxima a sigla que atuava na oposição ao grupo político de Camilo Santana. 

Passam a integrar os quadros do Republicanos os prefeitos Júnior do Titico, de Ipueiras, Orlando Filho, de Mombaça, Lígia Protásio (interina), de Santa Quitéria, e Telvânia Braz, de Paramoti. A vice-prefeita de Acopiara, Ana Patrícia, que assumiu com o afastamento do prefeito, também migrou e fez crítica ao MDB, onde era filiada.

Realinhamento com o governismo

As mudanças foram provocadas pela reorganização da base governista. PDT e PT romperam desde a última eleição e a recomposição ainda não foi formalizada no âmbito das cúpulas, embora deputados pedetistas votem com o governador Elmano de Freitas (PT) e o partido tenha três secretários, entre outros cargos na administração.

A entrada de Jair Bolsonaro no PL também tirou o partido da base governista no Ceará, embora a corrente que comanda a direção estadual seja simpática ao governo.

As principais mudanças observadas envolvem, como usual, mudanças em direção à base. Por isso, há várias filiações ao PT, mas também a outros partidos recém-ingressos no governismo. É o caso do PSB e do PSD, ambos que apoiaram Roberto Cláudio (PDT) contra Elmano na eleição para governador em 2022.

O PSD chegou a entregar cargos na Prefeitura de Fortaleza, sob comando de José Sarto (PDT), logo antes de assumir secretaria estadual e passar formalmente a compor a base do governador.

O Republicanos, que apoiou Capitão Wagner (União Brasil) no ano passado, foi outra sigla que mudou de direção e rumo no Estado. Recebeu Chiquinho Feitosa como presidente e passou a integrar o governismo. Chiquinho comandava o PSDB no ano passado e bateu de frente com Tasso Jereissati para impedir o apoio da legenda a Roberto Cláudio.

As siglas passaram a se apresentar como alternativas para prefeitos que desejam aderir ao governo. Em função de rivalidades locais, é comum haver dois ou até mais grupos locais que são da base governista em alguns municípios. Assim, nem sempre uma sigla de situação é viável para quem deseja ser candidato a prefeito. Legendas alternativas dentro do governismo surgem como caminho para abrigar forças aliadas ao Palácio da Abolição que disputam entre si no âmbito local.

Outra legenda que aderiu ao governismo foi o Podemos, que era comandado pelo senador Luis Eduardo Girão, agora no Novo. O partido era outro que estava na base de Capitão Wagner em 2022. Este ano, passou a ser comandado pelo prefeito de Aracati, Bismarck Maia, que deixou o PDT.