Auxiliares de Bolsonaro ocultaram e venderam joias e depois tentaram apagar rastros

Houve ainda uso de laranjas na tentativa de incorporar o valor arrecadado ao patrimônio

As investigações da Polícia Federal (PF) expuseram que alguns dos auxiliares mais próximos de Jair Bolsonaro (PL) num esquema para ocultar ilegalmente presentes recebidos pelo ex-presidente em compromissos oficiais e para vender esses itens. O dinheiro era embolsado com uso de laranjas. Uma vez descobertos, a tentativa foi para recuperar e devolver o que havia sido negociado e buscar apagar os rastros.

Muitos dos novos elementos são descobertos nas mais de 17 mil mensagens de emails trocadas entre militares que estavam vinculados à Presidência da República e que foram encontradas nas lixeiras eletrônicas das contas de trabalho. As mensagens foram apagadas, mas mantidas nas lixeiras dos emails. Assim, seguiram disponíveis e agora são analisadas.

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Presentes não-cadastrados

Entre as mensagens, há a informação de que o ex-presidente e a então primeira-dama Michelle Bolsonaro ganharam pedras preciosas em viagem oficial a Teófilo Otoni (MG), em setembro do ano passado, e que o presente não foi cadastrado oficialmente.

Nos emails há listas numeradas com detalhes das atividades que os militares deveriam cumprir. As mensagens foram trocadas pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk, os três na época ajudantes de ordem de Bolsonaro na Presidência.

O item de número 36, intitulado "Presente PR", trata das pedras preciosas. "Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele", diz o email. A catalogação dos presentes dados ao presidente da República é obrigatória por lei.

Bolsonaro esteve em Teófilo Otoni em 26 de outubro do ano passado, durante o segundo turno da campanha presidencial. Na ocasião, o então presidente discursou ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

Não cadastrar os presentes recebidos foi um primeiro passo para burlar a fiscalização e comercializar os itens.

Venda de itens preciosos

O passo seguinte do esquema era a venda dos itens recebidos em missões oficiais. A operação da Polícia Federal deflagrada nesta sexta-feira, 11. De acordo com a PF, os montantes "obtidos das vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores".

A negociação envolveria o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, em cuja residência foi feita busca e apreensão na manhã desta sexta-feira, 11. É a primeira vez que um ex-integrante do Alto Comando do Exército brasileiro é envolvido em denúncias do tipo. General Cid teve assento na cúpula do oficialato até 2019 e foi, pelo menos até agora, um dos nomes mais prestigiados no meio militar nas últimas décadas.

O reflexo do general aparece na foto usada nas negociações de uma caixa de escultura que Bolsonaro ganhou de presente em uma agenda oficial.

Venda e recuperação do Rolex

Entre os itens que foram efetivamente vendidos está um relógio Rolex que Bolsonaro ganhou. A venda foi feita pelo general Mauro César Lourena Cid. Depois que começaram a vir à tona as suspeitas sobre as joias dadas ao casal Bolsonaro, o advogado Frederick Wassef, outro alvo da operação desta sexta, foi acionado para recomprar o relógio, depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução. Wassef precisou pagar acima do valor pelo qual o item havia sido vendido.

"Primeiramente o relógio Rolex DAY-DATE, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado no dia 14/03/2023, pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o bem ao Brasil, na data de 29/03/2023. No dia 02/04/2023, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid, que retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro", afirma a PF.

As movimentações para recuperar os itens que integravam o denominado "Kit Ouro Branco", segundo a PF, tinham objetivo de "escamotear, das autoridades brasileiras, a evasão e a venda ilícitas dos bens no exterior".

 

Nas últimas semanas, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro identificou uma troca de e-mails sobre a tentativa de venda, por R$ 300 mil, de um relógio da marca Rolex recebido em viagem oficial, por Mauro Cid. A negociação se deu no dia 6 de junho. Em email em inglês, uma interlocutora pergunta a Cid quanto ele quer no relógio e dá a entender que ele seria cravejado de platina e diamantes.

Em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, em outubro de 2019, o então presidente Bolsonaro recebeu um estojo de joias, que incluía um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes. Três anos depois, no mesmo dia em que Cid enviou o e-mail identificado pela CPMI, foi registrado pelo sistema da Presidência que os itens foram "encaminhados ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro". Dois dias depois, em 8 de junho, conforme os registros oficiais, as joias já se encontravam "sob a guarda do Presidente da República".

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