Silvinei Vasques: quem é o ex-diretor da PRF e tudo que se sabe até agora
Aliado de Bolsonaro, Vasques está envolvido em interferência anti-democrática que comandou nas eleições presienciais; entenda
17:51 | Ago. 09, 2023
Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foi preso pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quarta-feira, 9, em Florianópolis, Santa Catarina. A investigação relata a interferência no segundo turno das eleições de 2022 sob o comando da corporação de Vasques e sua atuação em bloqueios de rodovias.
Os mandados, que foram expedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, ocorreram no âmbito da Operação Constituição Cidadã, uma referência à Lei Maior do Brasil.
Tal operação, além da prisão do ex-diretor-geral, cumpriu também 10 mandados de busca e apreensão contra agentes da PRF, que trabalhavam com Silvinei em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Distrito Federal e no Rio Grande do Norte.
Silvinei Vasques: quem é o ex-diretor-geral da PRF?
Considerado um “bolsonarista” dentro da PRF, Vasques se tornou um nome importante na política brasileira ao ser nomeado para o cargo mais alto em abril de 2021, pela indicação de Flávio Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro.
Natural de Ivaiporã, no Paraná, ele é graduado em Ciências Econômicas, em Direito e em Administração de Empresas. Antes de se tornar chefe da PRF, era superintendente da corporação no Rio de Janeiro, além de ter passado pelo cargo de coordenador-geral de operações e superintendente em Santa Catarina.
Ele também exerceu o cargo de secretário municipal de segurança e defesa social do município de São José (SC). Em março de 2022, ele foi condecorado com a medalha de Ordem do Mérito do Ministério da Justiça. Segundo o governo, o objetivo da condecoração é agraciar autoridades que prestam notáveis serviços ao Ministério.
Silvinei Vasques: por que ele foi preso? A interferência da PRF no dia das eleições
Conforme a PF, o objetivo da operação desta quarta-feira é esclarecer o suposto uso da máquina pública para interferir no processo eleitoral. De acordo com as investigações, integrantes da Polícia Rodoviária Federal teriam “direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro de 2022”.
No dia seguinte, Silvinei Vasques foi intimado pelo TSE a dar explicações sobre operações nos estados. Elas foram realizadas principalmente no Nordeste, região onde Luíz Inácio Lula da Silva (PT) tinha vantagem sobre Bolsonaro, mesmo após a proibição de qualquer operação que afetasse o transporte público dos eleitores.
Ainda segundo o inquérito, os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste. Foi constatado que a PRF realizou mais de 500 operações no transporte de eleitores em diversas estradas. As ações foram suspensas após pedido da Justiça Eleitoral.
Além do mandado de prisão preventiva contra Vasques, os agentes cumprem dez mandados de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte.
Os demais alvos são:
- Wendel Benevides, ex-corregedor-geral
- Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de Operações
- Luis Carlos Reischak, ex-diretor de Inteligência
- Rodrigo Cardozo Hoppe, ex-diretor de Inteligência Substituto
- Anderson Frazão, ex-coordenador-geral de Gestão Operacional
- Antônio Melo Schlichting Junior, ex-coordenador-geral de Combate ao Crime
- Bruno Nonato, ex-PRF e, hoje, na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)
Silvinei Marques: depoimento à CPI do 8/1
Levado à CPI do dia 8 de janeiro deste ano para prestar esclarecimentos sobre tais suspeitas, Silvinei se defendeu das acusações de interferência nas eleições de 2022.
Vasques ainda classificou a acusação como a "maior injustiça da história" e explicou que o elevado número de operações no Nordeste ocorreu devido à "maior infraestrutura" da corporação na região.
A declaração foi rebatida por parlamentares da base do governo, que apontaram dados de que o maior efetivo da PRF estava no Sudeste. Ao fim da sessão, Vasques acrescentou que a atuação da PRF evitou "compra de votos" e que o "trabalho correu muito bem em todo o Brasil".
Silvinei Marques: homenagem a Bolsonaro e a aposentadoria
Em novembro, Silvinei se tornou réu por improbidade administrativa devido ao seu pedido de votos em Bolsonaro. Dias antes, o Ministério Público Federal havia pedido seu afastamento do cargo, alegando que ele fez uso indevido do cargo.
Em suas redes sociais, em nome da máquina pública, ele destacou o que chamou de "dedicação, o zelo, a eficiência e a contribuição inestimável do Presidente à sociedade brasileira, à segurança pública e à PRF".
Após seu afastamento de 90 dias em decorrência da improbidade administrativa, o governo Bolsonaro dispensou Silvinei Vasques. Sua aposentadoria é integral, o que significa que ele segue recebendo o mesmo valor de quando exercia o cargo, que girava em torno dos R$ 23 mil.
Tal valor se mostra diferente para um policial Federal Rodoviário atualmente, que recebe, no máximo, R$ 7.087,22, seguindo o teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Silvinei Vasques: a agressão a frentista e o caso Genivaldo
Cerca de um mês após Silvinei Vasques assumir o comando da PRF, uma reportagem do UOL mostrou que a União foi obrigada a pagar uma indenização de R$ 50 mil por causa de uma suposta agressão do servidor a um frentista no ano de 2000.
De acordo com a decisão judicial, caso ocorreu na cidade de Cristalina, em Goiás. Na ocasião, Vasques e outros policiais rodoviários haviam parado com cinco carros em serviço em um posto de gasolina. O ex-PRF teria pedido ao frentista que limpasse uma das viaturas. Esse serviço, no entanto, estava além do limite das obrigações do funcionário do posto. Diante da recusa do frentista, Vasques teria dado socos no funcionário.
Em maio deste ano, Vasques editou uma portaria para revogar o funcionamento e as competências das Comissões de Direitos Humanos da PRF. Os colegiados tinham atribuições como o acompanhamento de processos disciplinares contra agentes envolvidos em casos de desrespeito aos direitos humanos.
A decisão de Vasques levou o Ministério Público Federal (MPF) a abrir uma investigação. Poucos dias depois, uma operação envolvendo a PRF chocou o Brasil. Uma ação de agentes em Umbaúba, litoral sul de Sergipe, resultou na morte de um homem negro de 38 anos.
Genivaldo de Jesus Santos foi abordado e colocado em uma viatura onde foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo. Segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML), a causa da morte foi "insuficiência aguda secundária a asfixia.