Declaração de Romeu Zema sobre bloco Sul-Sudeste repercute entre políticos

A declaração do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ao Estadão, sobre buscar "protagonismo" das regiões Sul e Sudeste repercutiu entre outros governadores, parlamentares e ministros do governo Lula. Zema defende a união dos Estados dessas regiões para evitar perdas econômicas e de espaço político.

"Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos: não, senhor. Nós queremos (que seja) proporcional à população. Por que sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente", afirmou Zema.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que Minas Gerais não cultiva a cultura da exclusão e citou o ex-presidente mineiro Juscelino Kubitschek como exemplo de promoção da união no País. "Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão. JK, o mais ilustre dos mineiros, ao interiorizar e integrar o Brasil, promoveu a lógica da união nacional. Fiquemos com seu exemplo", disse nesta segunda-feira, 7.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), afirmou que Zema deveria ter feito algo pelas regiões Sul e Sudeste nos últimos quatros anos em vez de "bajular" o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Essa elite carcomida e preconceituosa não passará."

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), disse que o governador mineiro utilizou "práticas preconceituosas" para destilar ódio contra nordestinos e nortistas. "A xenofobia é um dos crimes mais cruéis e nefastos contra nosso próprio povo. Esse tipo de discurso de ódio e separatismo não pode mais ter espaço em nosso País."

Para o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), a fala de Zema foi "nitidamente preconceituosa". "Ao contrapor regiões do Brasil, numa fala nitidamente preconceituosa, Zema busca estimular a divisão e o ódio entre os brasileiros por puro oportunismo eleitoral. O Brasil é um só e o verdadeiro inimigo dos brasileiros é o populismo irresponsável", disse.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que criar distinções entre brasileiros é proibido na Constituição e que aquele que optar por esse caminho é "traidor da Pátria", usando como referência uma citação do ex-deputado e um dos maiores opositores da ditadura militar, Ulysses Guimarães. Dino ainda disse que criar divisões regionais é "absurdo" e chamou os interessados no assunto de "extrema-direita".

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que a ideia de Zema não é bem recebida nem no Estado do próprio governador.

Neste domingo, 6, o Consórcio Nordeste publicou uma nota assinada pelo governador da Paraíba e presidente do grupo, João Azevêdo (PSB), para rebater Zema. "Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, (Zema) indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento", diz o documento.

Ao Estadão, o presidente do Consórcio Nordeste afirmou que Zema cometeu equívocos e foi "infeliz" nas declarações. Para Azevêdo, o governador mineiro estimula uma divisão entre as regiões no País e não deve ter o apoio dos demais gestores estaduais na mobilização.

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), disse que o Nordeste é parte da solução do País e deve "receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença".

O governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), defendeu a união entre os Estados. "Segregação nunca será a resposta. Um País que cresce unido é mais forte e melhor para todas as pessoas", disse.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), criticou a fala de Zema e disse que o País é um só povo. "Para o País dar certo, é preciso união entre os Estados. Não devemos perder tempo com narrativas segregadoras, cuidar da nossa gente é o que realmente importa", disse.

O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), classificou Zema como "maior inimigo da federação brasileira". "Quem apostar contra a união do povo brasileiro vai perder."

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), pediu respeito pelo Nordeste. "Brasil próspero e justo é Brasil unido."

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), que se apresenta como um político de direita, assim como Zema, disse que é perigoso estabelecer um "cabo de guerra" entre as regiões do País. "Uma declaração dessa é muito ruim porque a pobreza se concentra no Norte e no Nordeste. Sul e Sudeste não querem abrir mão do que eles têm em termos de competitividade, mas é necessário um equilíbrio. É muito perigoso estabelecer um cabo de guerra entre as regiões e colocar uma população contra a outra", afirmou o ao Estadão.

A declaração do governador de Minas também foi criticada por outro governador do Sudeste, Renato Casagrande (PSB), que comanda o Executivo do Espírito Santo. "Sobre a entrevista do Governador Zema (MG) para o jornal Estado de SP, é importante deixar claro que é sua opinião pessoal. O ES participa do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste) para que ele seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões."

O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), ex-governador de Minas, reforçou o coro que rebateu Zema e afirmou que é preciso se articular para defender os interesses locais, mas "jamais estabelecendo alvos ou discriminando regiões". "Infelizmente, o governador Zema, talvez por não ter se expressado da forma adequada, acabou por criar mais problemas que as soluções que busca", disse o tucano em nota.

Apoio à declaração do governador mineiro

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), defendeu a frente anunciada por Zema. De acordo com Leite, o que o grupo quer é agir por mais equilíbrio na reforma tributária e não "discriminar" nenhuma região. O tucano foi um dos líderes apontados pelo mineiro como potencial candidato à Presidência nas próximas eleições.

"Nunca achamos que os Estados do Norte e Nordeste haviam se unido contra os demais Estados. Ao contrário: a união deles em torno de pautas de seus interesses serviu de inspiração para que, finalmente, possamos fazer o mesmo, nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante aos Estados do Sul e Sudeste", disse o governador gaúcho ao Estadão.

Zema também recebeu o apoio do colega de partido, Felipe D'Avila, que afirmou que o ataques ao governador mineiro são "oportunismo eleitoral". "Lutamos pela união de todos os brasileiros que querem um partido para tirar o Estado pesado, caro e ineficiente das costas do Brasil que produz, trabalha e empreende."

Zema tenta esclarecer declaração

Após a repercussão da entrevista, Zema tentou esclarecer o assunto, afirmando que a frente não vai se posicionar contra outras regiões. "A união do Sul e Sudeste jamais será para diminuir outras regiões. Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços", escreveu no Twitter no domingo.

Não é a primeira vez, porém, que Zema defende o protagonismo dos Estados das duas regiões. No começo de junho, na abertura do 8º Encontro do Consórcio de Integração Sul e Sudeste, em Belo Horizonte, o governador disse que os Estados do Sul e do Sudeste têm mais pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial. Não há estatísticas oficiais comprovando essa alegação.

"No Sul e Sudeste, temos uma semelhança enorme. Se há Estados que podem contribuir para este País dar certo, eu diria que são estes sete Estados aqui. São Estados onde, diferentemente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial", disse o governador na ocasião.

Depois da referência à quantidade de pessoas que "viveriam" de auxílio emergencial, Zema afirmou que "boa parte da solução do nosso País está nesses Estados (do Sul e do Sudeste)".

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