Políticos nordestinos criticam Zema sobre união Sul-Sudeste: "Lampejo separatista"
A fala colocou até membros da direita e companheiros de partidos em lados opostosPolíticos nordestinos, entre governadores, ministros e deputados, se manifestaram neste domingo, 6, após a fala do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sobre uma união de estados do Sul-Sudeste para maior protagonismo político contra o bloco formado pelos estados nordestinos e nortistas. Em nota, o Consórcio Nordeste considerou a fala como “uma leitura preocupante do Brasil".
Em entrevista ao Estadão, Zema defendeu uma estruturação do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud) para firmar uma aliança "contra" os estados do Norte e Nordeste. Na visão do governador, as unidades federativas estavam sendo tratados de forma diferente. O governador fez queixas sobre como, em sua visão, estados "muito menores, em termos de economia e população", conseguem aprovações de projetos no Congresso.
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"Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população, se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos", afirmou. A fala, no entanto, repercutiu mal no meio político e nas redes sociais.
Assinado pelo presidente da instituição, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), o Consórcio Nordeste avaliou que “ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste”, Zema indicaria um movimento de” tensionamento com o Norte e o Nordeste”.
“Sabidamente regiões que vêm sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento. O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns”, afirmou o gestor.
O consórcio, fundado em 2019, reúne os nove estados do Nordeste, incluindo o Ceará. O grupo se fortaleceu durante a pandemia em organização contra decisões do Governo Federal, na época sob a responsabilidade de Jair Bolsonaro (PL).
“Negando qualquer tipo de lampejo separatista”, segue o governador, “o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de que 'O Brasil que cresce unido'”. O presidente avalia que, na entrevista, a fala de Zema parece “aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual”.
“É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento”, disse ainda.
Na mesma linha seguiu o ministro da Justiça e da Segurança Pública, o maranhense Flávio Dino (PSB), ao defender que seria preciso um “Brasil unido e forte". “Absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais. Precisamos do Brasil unido e forte. Está na Constituição, no art 19, que é proibido “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”, escreveu o ex-governador do Maranhão nas redes sociais.
As declarações do mineiro colocou também correligionários e representantes da direita contra si. Governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB) declarou que a desigualdade é uma "mancha" na história social brasileira e que manifestações que “chamem a divisão” acirram o enfrentamento.
“Qualquer manifestação que chame à divisão só acirra o enfrentamento em um momento que o país precisa de união. Nordeste é parte da solução do país e deve receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença. Os nossos pleitos não vão além do que é justo diante de uma construção histórica tão conhecida”, afirmou a gestora.
Eduardo Leite busca amenizar repercussão
Após a repercussão negativa, Eduardo Leite (PSDB), que governa o Rio Grande do Sul e preside o PSDB nacionalmente, tentou amenizar ao afirmar que "nunca achou que os estados do Norte e do Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país". Em sua visão, a união, na verdade, serviu de “inspiração" para o grupo anunciado por Zema.
“Não tem nada a ver com frente de estados contra estados ou região contra região. Se trata de nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante pros estados do Sul e do Sudeste (...) entre essas pautas não está discriminar, desunir e desintegrar nenhuma parte da federação porque vamos ser todos mais fortes quanto mais formos uma só nação, é nisso que eu acredito”, disse. Ele afirmou acreditar que Zema “tenha dito nada diferente disso".