Bolsa Família: governo Lula omite dados sobre queda de beneficiários

Atualmente, o número concentra 20,9 milhões de brasileiros, uma queda de 700 mil famílias em relação ao fim do governo Bolsonaro. A pasta também não informa a redução do benefício, que era de R$ 705 em média no mês de junho e passou a ser R$ 684 em julho

16:26 | Jul. 20, 2023

Por: Luíza Vieira
Divulgadas regras de gestão do novo Bolsa Família - Novo cartão do programa Bolsa Família. Foto: Roberta Aline / MDS (foto: Roberta Aline / MDS)

O Ministério do Desenvolvimento publicou nesta terça-feira, 18, um documento que faz com que o leitor interprete que houve um aumento de beneficiários do Programa Bolsa Família.

A matéria do governo, intitulada “Busca ativa garante inclusão 1,3 milhão de famílias no Bolsa Família” (leia na íntegra), omite a informação que, em 31 de dezembro de 2022, no último dia da gestão Bolsonaro, cerca de 21,6 milhões de pessoas eram beneficiadas com o programa. Atualmente, o número concentra 20,9 milhões de brasileiros, uma queda de 700 mil famílias. A pasta também não informa a redução do benefício, que era de R$ 705 em média no mês de junho e passou a ser R$ 684 em julho.

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Os estados da Bahia e Rio de Janeiro foram os que mais perderam beneficiários do programa.

No início do ano, houve uma avaliação dos cadastros, nos quais o governo identificou que 2,7 milhões não atendiam aos requisitos para o programa. Estas inscrições foram excluídas do Bolsa Família. Cerca de 3,7 milhões de cadastros foram incluídos pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) nos três meses que antecederam as eleições presidenciais.

De acordo com o governo, muitas dessas inscrições eram indevidas.

Os dados presentes no release do governo foram veiculados em diversos portais de notícias. O “Jornal Hoje” da TV Globo, exibiu uma reportagem de aproximadamente três minutos e divulgou o press-release do governo sobre o Bolsa Família sem citar a queda no total de famílias cadastradas.

O Ministério do Desenvolvimento, encabeçado pelo petista Wellington Dias, inicia o press-release desta forma: “Desde março, quando o Bolsa Família foi relançado pelo governo federal, 1,3 milhão de famílias foram incluídas no programa”. A interpretação do trecho se dá a partir do crescimento no número de beneficiários em 1,3 milhão, o que não aconteceu.

Em março deste ano, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou publicamente a alteração do nome do programa de Auxílio Brasil para Bolsa Família. A iniciativa carrega um grande valor simbólico para o Planalto, uma vez que, este benefício, se tornou uma característica das campanhas eleitorais do PT.

A mudança no nome foi oficializada no relançamento do programa, embora o Bolsa Família nunca tenha deixado de existir.

Ao comemorar o sistema de busca ativa de beneficiários, a pasta oculta a informação de que o número total de famílias beneficiárias caiu desde que Lula assumiu como presidente. Diferentemente disso, o ministro Wellington Dias enfatiza a interpretação enganosa sobre o que, de fato, aconteceu.

“Começamos nesta 3ª feira [18.jul.2023] o pagamento do Bolsa Família. E uma novidade positiva é que alcançamos 1,3 milhão de famílias que tinham direito ao benefício, muitas delas passando fome, e agora estão recebendo o novo Bolsa Família”, declara o ministro.

No final do texto, o governo apresenta um infográfico mostrando o crescimento no número de beneficiários do Bolsa Família nas 27 unidades do Brasil.

A propagação dos dados visando a imagem positiva do Bolsa Família, marca um contexto de “fritura” do ministro da pasta, Wellington Dias, que sofre pressões para abandonar o cargo e entregá-lo a membros do Centrão.

O grupo pretende indicar o deputado André Fufuca (PP-MA) para ocupar a posição. Ainda que integre o partido do ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Ciro Nogueira (PP-PI), o congressista apoiou o atual ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB) no processo eleitoral. Dino foi eleito senador em 2022.

Fufuca dialoga com o Centrão e tem boa relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), contudo não é um político hostilizado pelo PT e seria um nome aceitável por Lula para ingressar na Esplanada.

Wellington também é pressionado a mostrar resultados à frente do ministério do Desenvolvimento. Aliados afirmam que ele está “apagado” e não tem aproveitado o fato de coordenar o Bolsa Família para mostrar serviço e agradar partidos que possam auxiliar Lula no Congresso.

Ainda que seja cobrado para deixar o cargo, Dias tem o apoio da primeira-dama, Janja Lula da Silva, para continuar no governo. Lula também sinalizou que não pretende tirar o ministro, com quem mantém uma relação de amizade. Por este motivo, uma divulgação de dados sobre o Bolsa Família pode ajudá-lo a recuperar um pouco do prestígio político, mesmo que a informação veiculada seja equivocada.

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento alegou que nenhuma informação enganosa foi divulgada pela pasta.

“Não há nenhuma informação enganosa nos dados divulgados pelo Ministério. Falamos em inclusões de novas famílias e não em novos desligamentos, como forma de evitar interpretações que levem à criminalização de pessoas vulneráveis. O MDS conduz, com serenidade, processos de averiguação cadastral que terão impactos em benefícios durante todo o ano. Logo, o Bolsa Família é um programa dinâmico, com entradas e saídas todos os meses”, consta no documento.

O press-release do Desenvolvimento induz o leitor a entender que só houve acréscimo de beneficiários no Bolsa Família. Na realidade, houve acréscimo e cortes, e o saldo de janeiro de 2023 até agora é de 700 mil famílias a menos sendo atendidas.