Cid Gomes admite fazer reunião até 'na calçada' do PDT e André diz que não reconhecerá

Encontro marcado para esta sexta-feira eleva tensão no PDT cearense

O próximo confronto entre os grupos que disputam o controle do PDT no Ceará está marcado para a sexta-feira, 7. Com apoio de pelo menos 52 dos 84 membros do diretório estadual, o senador Cid Gomes (PDT) convocou reunião para tentar assumir o controle do partido no Ceará. A disputa é contra André Figueiredo, que preside o partido no Ceará há décadas e, desde que Carlos Lupi se licenciou para ocupar o Ministério da Previdência, está interinamente na presidência nacional. Figueiredo afirma que a reunião convocada por Cid é irregular e terá consequências aos participantes de uma manifestação que foi proibida pelo diretório nacional.

Cid, porém, garante que o encontro está mantido. O senador diz que fará a "reunião na calçada", caso seja barrado de entrar na sede do PDT.

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"Se houver quórum, a reunião acontecerá na sede do partido. Se não nós deixarem entrar, faremos na calçada, na frente da sede", afirmou.

Punição à ala de Cid

Figueiredo sustenta que a convocação da reunião fere o estatuto do partido e diz que aguardará o desfecho para avaliar possíveis punições aos envolvidos.

"Tentamos fazer com que o processo seja menos traumático. O grupo do senador Cid está querendo chamar uma reunião para destituir a executiva legalmente eleita e com mandato. Isso não está previsto em nenhum lugar do nosso estatuto. Há a previsão de convocação sim, mas nunca para destituir um executiva com mandato. Isso aí é que está gerando toda essa celeuma. O partido não vai reconhecer. O que estamos vendo, infelizmente, é algo que tá fazendo o partido sangrar", disse.

Figueiredo é aliado de Ciro Gomes, rompido com o irmão desde 2022. O mandato de Figueiredo está previsto para durar até o fim do ano. No entanto, este prazo pode ser encurtado caso haja o consentimento dos integrantes da executiva estadual do PDT pela troca da liderança.

Direção nacional entra no jogo

Na última segunda-feira, 3, a executiva nacional do partido decidiu, por 7 votos a 0, "evocar as competências da executiva estadual no Ceará para a executiva nacional". Tirou poderes, assim, da direção estadual. Figueiredo, porém, disse não ter sido uma intervenção.

"O termo não é intervenção. Tendo em vista que o os ânimos estão extremamente acirrados, inclusive com a convocação de uma reunião do diretório para destituir a executiva que tem mandato até 31 de dezembro, a direção nacional do partido chamou uma reunião, com a participação de praticamente todos os seus integrantes, para fazer uma evocação dos poderes da direção estadual para a direção nacional. É uma forma de tentar reduzir todos os danos que estão sendo causados ao partido por conta dessas divisões", afirmou.

Cid divergiu sobre o alcance dessa decisão e disse não ser aplicável à situação atual. Ele se absteve na votação. "A meu juízo, a decisão não promove intervenção no diretório estadual, porque o artigo 67 (usado como base da decisão da Executiva Nacional do PDT) trata da possibilidade de a Nacional avocar processos éticos disciplinares. Simplesmente, não se aplica ao caso. Eu disse isso lá: 'Rapaz, se vocês têm alguma intenção diferente da evocação de um processo ético e disciplinar, que é o que diz textualmente, procurem outro artigo. Esse, não'. Enfim, eu falei que a votação era inócua e que me absteria", contou Cid Gomes.

Crise no PDT

O racha entre os irmãos Ferreira Gomes se arrasta desde a campanha eleitoral do ano passado. O partido se dividiu entre o apoio à então governadora Izolda Cela (PDT) e o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). Ciro Gomes bancou a candidatura de Roberto, enquanto os irmãos Cid e Ivo Gomes mantiveram-se neutros para evitar um rompimento com o partido do ex-governador Camilo Santana, que apoiava a candidatura de Izolda. A divisão se aprofundou desde então.

Os dois lados diferem sobre a postura em relação ao governo Elmano de Freitas (PT). Enquanto Cid busca uma reconciliação com o PT, a ala cirista, que dá sustentação a Figueiredo, não quer abrir o diálogo e defende a reeleição independente de José Sarto (PDT) na capital.

Procurado, o ex-ministro Ciro Gomes não se pronunciou.

Para tentar mediar a questão, o ministro Carlos Lupi (Previdência Social), presidente licenciado do PDT, viajou para Fortaleza na semana passada. Em reunião com parte dos membros, ele demonstrou não querer abrir mão de André Figueiredo na presidência da sigla até o fim do mandato. As disputas devem se estender até sexta.

O deputado estadual Osmar Baquit (PDT), que chegou com Cid no último encontro, não vê, no entanto, perspectivas próximas para o fim da crise interna do partido. "Eu não vejo como ter esse acordo, está só empurrando para frente", declarou.

Apesar do histórico e da divisão política, Cid diz que é natural que ele e Ciro tenham opiniões diferentes sobre determinados caminhos políticos.

"Duas pessoas só brigam quando as duas querem. Nada me fará brigar com Ciro, nenhuma declaração que ele faça, em respeito aos meus irmãos e em respeito à memória do meu pai e da minha mãe", afirmou Cid Gomes nesta terça.

Em meio às novas brigas de caciques do PDT, a insegurança é quase consenso entre os parlamentares do partido. Aliado de Cid Gomes, o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT) admitiu que muitos parlamentares falam em se desfiliar da sigla "com medo do futuro".

"As pessoas não se sentem seguras porque não sabem o amanhã, principalmente em relação a candidaturas, então estão indo para outros partidos", disse Bismarck.

Nos bastidores há rumores até de uma possível saída de Cid do partido, que nega. O cientista político Kevan Brandão acredita, porém, que isso não acontecerá. "Cid ainda é o nome do consenso do PDT, e ele está ciente disso, por isso vai continuar. Mas hoje está totalmente rachado o PDT do Ceará", avaliou.

Apesar da força de Cid no Estado, Brandão crê que o partido pode deixar de ser o maior do Ceará caso José Sarto (PDT) não seja reeleito em Fortaleza nas eleições do ano que vem. "Se perder a capital em 2024, o PDT tende a passar por muita dificuldade no Ceará e pode perder muita força."

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