Comercial da Volkswagen com Elis Regina levanta debate sobre ditadura e nazismo; entenda

O comercial foi exibido em evento no ginásio Ibirapuera, em São Paulo, para anunciar a chegada da kombi elétrica da empresa ao Brasil.

16:42 | Jul. 05, 2023

Por: Luíza Vieira
Elis Regina e Maria Rita juntas na campanha publicitária da Volkswagen; confira mais informações sobre a Inteligência Artificial que foi capz de unir mãe e filha mais uma vez (foto: Divulgação)

Divulgada nesta terça-feira, 4, a propaganda que marca os 70 anos da empresa de automóveis, Volkswagen, gerou repercussão nas redes sociais e resultou em um debate a respeito do período de ditadura militar no Brasil e sobre o nazismo.

O comercial conta com uma produção audiovisual feita por meio de Inteligência Artificial (IA), recurso que permitiu um dueto entre a cantora Maria Rita com a mãe, Elis Regina, falecida em 1982. Na propaganda, Elis canta junto à filha a canção “Como os nossos pais”, composta por Elis e Belchior durante o período da ditadura, que permaneceu no Brasil de 1964 a 1985.

Os fãs da obra relembraram a ligação da montadora alemã com a ditadura e com o regime autoriário de Adolf Hitler, alegando que a iniciativa de utilizar a voz da cantora brasileira na divulgação do novo carro era contraditória, uma vez que Elis foi uma das articulistas contra o regime autoritário no Brasil. 

Outros também justificaram que a música de 1976, utilizada como trilha sonora pela multinacional, é uma crítica direta aos militares.

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O comercial foi exibido na última segunda-feira, 3, em evento no ginásio Ibirapuera, em São Paulo, para anunciar a chegada da kombi elétrica da empresa ao Brasil.

Na ocasião, a cantora Maria Rita cantou a canção do comercial ao vivo e se emocionou abraçada com Ciro Possodom, CEO da VW do Brasil.

Em 2015, um inquérito contra a multinacional foi aberto após pedido de vários sindicatos e da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O pedido de investigação se deu após a Volkswagen ser mencionada por ex-funcionários da empresa e familiares como apoiadora da Ditadura Militar no Brasil.  

Conforme consta nos relatórios do inquérito, a multinacional não sofreu pressões para se aliar ao regime, mas colaborou com os ditadores por vontade própria. 

O presidente da sede da Volks em 1964, Friedrich Schultz-Wenk, era ex-filiado ao partido nazista. Schultz-Wenk dirigiu a Volkswagen do Brasil dede a sua fundação, em 1953, a 1969, quando faleceu, aos 55 anos, vítima de um câncer cerebral. 

O surgimento da Volkswagen remonta à década de 1930. Na época, a Alemanha já estava sob o domínio do nazismo, integrando um projeto apoiado pelo regime de extrema-direita para desenvolver a indústria automotiva do país. Na época, Hitler exigiu a produção de um “carro do povo” – ou Volkswagen, na língua alemã.

O modelo de automóvel que atendeu aos desejos do ditador e que, anos depois, se tornaria o carro mais popular da história, o Fusca, foi desenhado pelo engenheiro Ferdinand Porsche. Em 1938, líderes nazistas, entre eles o próprio Hitler, se reuniram para lançar a pedra fundamental da fábrica da Volkswagen em Wolfsburg.

Além da Volkswagen, outras montadoras também tiveram relação direta com o regime, como a BMW e Porsche, por exemplo. Atualmente, as multinacionais admitem que tiveram laços com o nazismo e, como um gesto de remissão, financiaram recentemente estudos para investigar os fatos que ocorreram no passado.

As três empresas integram a Fundação Lembrança, Responsabilidade e Futuro (EVZ, na sigla em alemão), decorrente de uma parceria entre a indústria e o governo do país, para compensar vítimas do regime ditatorial.