Ciro x Cid: entenda a crise no PDT cearense que colocou irmãos em lados opostos
O racha começou na campanha eleitoral, mas assumiu novos contornos com a disputa pela presidência
06:00 | Jun. 28, 2023
Parte da construção política cearense dos últimos 30 anos, os irmãos Ciro e Cid Gomes, ambos do PDT, estão em crise e, hoje, integram lados opostos dentro do PDT. A legenda passou por ruptura ainda nas eleições de 2022 e, nas últimas semanas, as divergências evoluíram para um clima de pé de guerra com os irmãos Ferreira Gomes como protagonistas.
Cid foi chefe do Executivo de 2007 a 2015, enquanto o irmão Ciro comandou o Estado entre 1991 e 1994. Ambos apoiaram a campanha eleitoral que culminou na eleição do hoje ministro Camilo Santana(PT) , na época deputado estadual, em 2014, em disputa contra Eunício Oliveira (MDB). Os irmãos articulavam juntos a política do Ceará, mas com Cid mais diretamente envolvido com as questões locais.
A discussão mais recente gira em torno da presidência estadual do partido, mas passa também por uma possível adesão definitiva à base do governador Elmano de Freitas (PT). A decisão do comando do partido deve esbarrar também na construção da candidatura para a disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2024.
Crise no PDT: racha após a candidatura de Roberto Cláudio
Ainda na pré-campanha, foi criado um impasse durante a escolha do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) para o Governo do Ceará, em detrimento da ex-governadora Izolda Cela (sem partido) que tinha o apoio de alas do PT e do próprio PDT. Ciro, na época, já tinha pretensões de voltar a disputar a presidência da República e defendia internamente que, no Ceará, RC fosse o indicado.
Cid, por outro lado, achava “justo” que Camilo escolhesse o candidato assim como o senador o escolheu em 2014. A linha era seguir com a aliança PDT-PT, que já durava 16 anos.
Além de Izolda e RC, Evandro Leitão - presidente da Assembleia Legislativa (Alece) - e o deputado federal Mauro Filho foram pré-candidatos da legenda. O ex-prefeito de Fortaleza foi o mais votado pelo diretório e acabou sendo indicado para o cargo.
O PT já havia declarado que a indicação levaria o partido a buscar candidatura própria, o que aconteceu. Elmano de Freitas, deputado estadual na época, foi lançado e venceu no primeiro turno.
Crise no PDT: facada nas costas e retomada aliança com o PT
Passada a eleição, os pedetistas avaliaram que houve “mágoas”, entre a saída de prefeitos pedetistas para apoiar Elmano e deputados apoiando a candidatura petista, mesmo com a legenda tendo uma articulação própria. Cid não fez campanha pública para governador e afirmou ter imposto a si mesmo um “silêncio” em respeito ao irmão.
A disputa acabou sendo marcada por ataques entre os ex-aliados, o que acentuou o racha. Correligionários do PDT, inclusive, acusaram adversários de usar a máquina do Estado para alavancar a campanha de Elmano. Cid disse que o silêncio seria também para poder atuar como uma espécie de “cupido” para reatar a aliança.
Em outra frente, Ciro evitou fazer campanha no Ceará e disparou que havia levado “uma facada nas costas”. Questionado se o sentimento de traição estaria relacionado ao apoio dos irmãos Ivo e Cid Gomes ao candidato do PT ao Senado, o ex-governador Camilo Santana, Ciro respondeu: "Eu lhe peço humildemente para não comentar isso porque a facada ainda está doendo muito aqui".
As diferenças persistiram e ala pedetista ligada à RC, que Ciro faz parte, seguiu com a tese que o partido havia perdido a eleição e isso passaria a mensagem que deveriam ficar na oposição.Cid argumentava que era hora de “virar a página” e retomar a aliança para integrar a base do governador. Dez deputados defendem essa adesão, enquanto três querem ficar na oposição. Não foi tomada uma decisão oficial sobre isso.
Crise no PDT: presidência acentua divergências e clima fica mais acirrado
Em maio, com rumores que Cid deixaria a legenda, o senador nega e afirma que tinha o desejo de presidir o diretório estadual, há anos gerido pelo deputado federal André Fernandes (PDT). Desde então, seus aliados têm feito defesas públicas para colocá-lo no cargo.
Na última semana, Cid e Figueiredo se reuniram. O encontro começou bem, mas terminou piorando a relação entre os grupos. O deputado disse ter ressaltado ao senador que ele era "um grande líder" e era reconhecido na legenda como tal. Ele, no entanto, chamou de obsessão a busca pela presidência.
A reunião aconteceu horas antes do encontro regional da sigla. Era previsto que Cid participasse do evento, mas o senador cancelou a ida e pediu que seus aliados não fossem. A ausência do senador foi sentida assim como a de deputados, vereadores e outras lideranças politicamente mais próximas ao ministro Camilo e ao governador Elmano.
Sem a ala do partido liderada por Cid, houve espaço para defesas à permanência de Figueiredo no cargo. Um dos que levantou a bandeira publicamente foi justamente Ciro. “André, você conta comigo. Nós precisamos de você em nome da unidade do partido”, disse. Ciro também mandou indiretas para o irmão e o ministro ao criticar a existência de um monopólio de poder e coronéis no Ceará.
Em uma nova investida, o PDT municipal, que tem RC como presidente, fez reunião no sábado, 24. O ex-prefeito afirmou que há uma “tentativa de golpe” contra o deputado que tem mandato até o fim do ano. Na segunda-feira, 28, Cid convocou reunião e mostrou força com a presença de vários aliados. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente nacional licenciado, precisou vir a Fortaleza apaziguar a disputa e abrandar os ânimos.