Por que submarino que implodiu com bilionários teve mais atenção que barco com imigrantes que naufragou?

A tragédia com os imigrantes marca um dos naufrágios mais mortais da história

19:52 | Jun. 26, 2023

Por: Luíza Vieira
Submarino que estava desaparecido sofreu implosão catastrófica; entenda o que aconteceu, o significado e a diferença para explosão (foto: Reprodução/OceanGate)

No dia 14 de junho, um barco que comportava aproximadamente 700 imigrantes, incluindo 100 crianças, naufragou nas imediações da costa grega, no mar Mediterrâneo. A tragédia marca um dos naufrágios mais mortais da história. A fatalidade é investigada pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma vez que a Guarda Costeira do país não interferiu no caso, que não teve tanta repercussão midiática. 

Por outro lado, quatro dias depois da fatalidade com os imigrantes, o submarino Titan, que levava cinco tripulantes bilionários para explorar destroços do Titanic, perdeu o contato com a base e desapareceu no na costa de St John's, Newfoundland, no Canadá.

Equipes de operação da marinha americana e das guardas costeiras dos Estados Unidos e Canadá foram mobilizadas para realizar as buscas. Cerca de 10 embarcações foram empregadas nas investigações.

Na última quinta-feira, 22, a guarda costeira dos Estados Unidos informou que destroços do submarino foram encontrados dentro das áreas de busca. No mesmo dia, a empresa OceanGate, responsável pelo Titan, confirmou a morte dos cinco tripulantes. Os materiais foram encontrados pela sonda do navio Horizon Artic, do exército do Canadá.

Cada um dos integrantes da expedição pagou cerca de US$ 250 mil (R$ 1,19 milhões) para ocupar um lugar no submarino.

Contudo, a repercussão da tragédia envolvendo os cinco empresários foi maior se comparada ao naufrágio com os imigrantes. Conforme explica Geovani de Oliveira Tavares, professor e advogado de direitos humanos, isso ocorre pelo valor econômico envolvido, uma vez que as cinco vítimas eram “pessoas ricas e conhecidas”, enquanto os imigrantes eram indivíduos anônimos que não tiveram suas histórias contadas pelos veículos de comunicação.

“A questão da imigração tem sido relegada a um problema de pessoas pobres, invisibilizadas. Na verdade, essa questão deveria ser tratada como um problema de toda sociedade”, pontua.

Ele acrescentou que a existência de uma expedição para explorar os destroços do Titanic mostra a disparidade na sociedade, visto que foram investidos milhares de dólares para realizar as buscas, enquanto os imigrantes não foram atendidos pela Guarda Costeira Grega.

“A própria existência do turismo ao Titanic, que custa uma fortuna, onde foram gastos milhares de dólares com buscas para um resgate impossível, mostra uma grande contradição na nossa sociedade que despreza a vida dos pobres. Essa conta está sendo paga com o aumento exorbitante das migrações. Precisamos repensar valores. Os meios de comunicação precisam repensar suas prioridades”, afirmou.

Dentre as vítimas do submarino Titan está Suleman Dawood, filho de Shahzada Dawood, vice-presidente de um dos maiores conglomerados do Paquistão. O rapaz de 19 não queria ir acompanhar o pai na expedição, contudo, após ser pressionado por Shahzada, acabou aceitando o pedido.

Giovani faz um comparativo entre o caso do adolescente e a situação de imigrantes e indígenas no Brasil, e relata que em ambos os casos existe um apelo emocional, contudo, esta última não ganha tanta repercussão porque têm pessoas pobres como protagonistas.

“A história de um filho que não queria entrar no submarino e só foi para atender ao pedido do pai, sem dúvida é uma história que vai ser transformada em filme”, disse. “Conheço muitas histórias de imigrantes e de indígenas e quilombolas aqui no Brasil que também têm o mesmo apelo emocional, mas não ganham repercussão na mídia por serem pessoas pobres”.

Quando questionado a respeito de como o caso do naufrágio do barco com imigrantes e a implosão do Titan impactam a sociedade brasileira, o advogado afirmou ser necessária a implantação de políticas públicas específicas para acolher e encaminhar os imigrantes.

Os imigrantes na Grécia

Conforme afirmou o ministro do Interior do Paquistão, Rana Sanaullah, na última sexta-feira, 23, aproximadamente 350 dos migrantes que estavam no barco de pesca que afundou em 14 de junho, no litoral da Grécia, eram paquistaneses.

A estimativa calculada pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que entre 400 e 750 pessoas de várias nacionalidades estavam no barco, que naufragou a cerca de 80 km da cidade litorânea de Pilos. Além de paquistaneses, havia um número significativo de egípcios e sírios.

Até o momento foram confirmadas 82 mortes e 104 pessoas resgatadas - entre elas, 12 paquistaneses. Ainda há centenas de pessoas desaparecidas, embora tema-se que tenham perdido a vida no acidente.

Sanaullah pontuou que o Paquistão "possivelmente nunca teve uma perda tão grande [de vidas] em qualquer incidente, mesmo em ataques terroristas."

“Este caso faz todos refletirem sobre os rumos e proporções que essa realidade das pessoas que precisam sair de suas casas para não morrer de fome ou vítimas das violências”, ponderou.

No que se refere ao destino dos imigrantes para a Grécia, Giovani explica que a costa grega é “a porta de entrada para a Europa" e que a maioria das vítimas já tinham familiares residindo no país.

“A política de imigrações em países como Alemanha é mais atrativa. A maioria desses migrantes têm os países da Europa como destino, alguns até poderiam ter parentes já morando lá. Infelizmente não foram contadas as histórias individuais dessas pessoas. Nem os números são conhecidos”, esclareceu.

Nesse sentido, ele acrescenta que a ONU pode solicitar ajuda humanitária e uma política para refugiados, haja vista que, a depender das condições de cada um deles, a proteção pode ser oferecida como um direito. Visto que, no Paquistão e nos demais países, a violência política e religiosa são recorrentes.

Expedição do Titan

Em 2021, a empresa Ocean Gate, responsável pelo submarino, iniciou a “missão” de levar os tripulantes até os destroços do navio Titanic, que naufragou no ano de 1912. As peças ficam a 3.800 metros de profundidade.

No entanto, a quinta edição da viagem submersa resultou na morte das cinco pessoas que estavam no submarino Titan, que desapareceu no dia 18 de junho, no domingo.

Conforme o site da corporação, a viagem, que iniciou no dia 14, tinha previsão de durar oito dias e terminaria na quinta-feira, 22.

A visita aos destroços do navio dura 10 dias, no qual os dois primeiros são realizados em um barco grande, que leva os tripulantes até o local do naufrágio do Titanic.

O trajeto inicia na costa de Newfoundland, no Canadá e segue por 600 km pelo Oceano Atlântico. Para realizar o passeio completo, incluindo o retorno à superfície, o submersível leva cerca de oito horas.

Na última quinta-feira, 22, a guarda costeira dos Estados Unidos informou que destroços do submarino Titan foram encontrados dentro das áreas de busca. No mesmo dia, a empresa Ocean Gate, responsável pelo Titan, confirmou a morte dos cinco tripulantes. Os materiais foram encontrados pela sonda do navio Horizon Artic, do exército do Canadá.