Erika Hilton chama de 'patacoada' audiência pública na Câmara e denuncia transfobia
Erika afirmou que as falas proferidas pelos presentes são sutis quando mencionam a proteção à criança e ao adolescente, mas que, na verdade, são declarações embasadas em desinformação, preconceito e mentiras.A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) contestou a forma como os parlamentares da Câmara dos Deputados abordaram os temas relacionados às pessoas trans do país. “O que está sendo colocado aqui é que a transexualidade é uma loucura, é um delírio, é uma fantasia das nossas cabeças”, disse ela na audiência pública da Comissão da Família, realizada nesta quarta-feira, 21.
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NÃO NOS ATACARÃO
Hoje na Comissão da Família foi realizada uma audiência pública criminosa com um só objetivo:
Atacar as existências de pessoas trans.
Com convidadas que se baseiam na mentira de que há processos transexualizadores e tratamentos hormonais em crianças no Brasil,… pic.twitter.com/z2FJGzcqOT
A deputada criticou o posicionamento dos convidados presentes, e mencionou uma médica que se opôs à vacinação contra a Covid-19 e que, segundo ela, argumentou por meio de justificativa médica que a população negra é inferior à população branca.
“Vossa excelência trouxe uma médica que foi contra as vacinas, que usou uma prática já conhecida pelo movimento negro, que é o racismo científico”.
Durante o discurso, Erika afirmou que as falas proferidas pelos presentes são sutis quando mencionam a proteção à criança e ao adolescente, mas que, na verdade, são declarações embasadas em desinformação, preconceito e mentiras.
“Disseram, por exemplo, sobre mutilação em crianças menores de idade. Aqui, o Conselho Federal de Medicina diz que o tratamento de hormonioterapia não pode ser aplicado em adolescentes menores de 16 anos, e as cirurgias de resignação sexuais aplicadas em pessoas menores de 18 anos. Logo, não existe mutilação em criança ", esclareceu.
Seguindo o curso da audiência, a deputada citou o caso do assassinato de Keron Ravach, uma cearense de 13 anos que foi morta em 2021 após assumir a transexualidade, e contestou os parlamentares, ponderando que o assunto não é tão debatido quanto deveria.
“Nós somos expulsas de nossas casas em volta dos 12, 13 anos de idade e somos obrigadas a viver da prostituição compulsória e eu não vejo a mesma preocupação, eu não vejo o mesmo discurso em defender essas vidas”, continuou. “Não ouvi aqueles que bradam aqui a defesa da infância chorarem a morte de Keron e de tantas outras crianças”.
Erika criticou também as declarações de uma palestrante, que comparou o processo de lobotomia e tortura ao tratamento de transição. A deputada caracterizou a fala da convidada como uma ação de “irresponsabilidade” e “criminalidade violenta”.
“Isso é de uma criminalidade tão violenta, é de uma irresponsabilidade tão grande associar tortura e lobotomia a processo de transição que me faltam até palavras para continuar descrevendo o que ocorre aqui”, pontuou.
“Nós seguiremos, sim, pressionando esta casa para que discuta e legisle na defesa da vida dessa população que é morta, que é estuprada, que é roubada dos seios da família, que é impedida de frequentar as igrejas exatamente pelos discursos criminosos, preconceituosos e discriminatórios como os que foram praticados aqui hoje fantasiados de proteção”, concluiu.
Erika foi eleita a primeira deputada federal trans pelo estado de São Paulo. Ela contabilizou 254.592 votos, entrando para a categoria dos dez mais votados do estado. Em 2020, foi a mulher mais bem votada no Brasil para o cargo de vereadora e ocupou, por duas vezes, a presidência da Comissão de Direitos Humanos de São Paulo.
Além disso, a deputada esteve à frente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a violência contra pessoas trans no país.