PF investiga grupo de WhatsApp mantido por comandantes de batalhões

Chefes de batalhões discutiam abertamente plano de golpe e intervenção do Exército para anular o resultado das eleições de 2022

12:07 | Jun. 18, 2023

Por: Henrique Araújo
MAURO Cid (de verde) caminha ao lado de Bolsonaro, em imagem de arquivo (foto: Alan Santos/PR)

O relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao Supremo indicou a existência de grupo de WhatsApp formado por militares oficiais da ativa cuja postura é abertamente golpista, com incentivos declarados à ruptura democrática no período que se seguiu às eleições.

Chamado de "Dosssss!!!”, o grupo é composto por coronéis e tenentes-coronéis com passagem pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) nos últimos anos. Entre eles, há comandantes e mesmo um assessor parlamentar do Exército, segundo reportagens divulgadas desde que as mensagens encontradas no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, vieram à tona.

Ao longo das conversas, membros desse bloco defendem uma ação imediata das Forças Armadas contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Uma ação por parte do PR e FA, que espero que ocorra nos próximos dias”, diz um dos integrantes.

Outro responde: “Se Bolsonaro acionar o 142, não haverá general que segura as tropas. Ou participa ou pede para sair”.

Um terceiro oficial se exalta: “Se a gente não tem coragem de enfrentar o cabeça de ovo e uma fraude eleitoral, vamos enfrentar quem???”.

A referência jocosa na expressão “cabeça de ovo” se destina possivelmente ao ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, alvo principal desses fardados.

Eram parte dessa ala golpista, além de Mauro Cid, o coronel Gian Dermário da Silva, que comanda o Centro de Instrução de Operações Especiais, o coronel Marcio Nunes de Resende Junior, do Estado-Maior do Exército, e o coronel Felipe Guimarães Rodrigues, hoje assessor parlamentar do Exército no Senado.

Nesses diálogos, que vão de 27 de novembro de 2022 a 4 de janeiro de 2023, eles se queixam do alto comando do Exército, que ainda não teria atuado para dar andamento aos planos insurrecionais discutidos ali.

No ofício encaminhado ao STF, o delegado da PF Fábio Shor assegura que essas mensagens “incentivam a execução de um golpe de estado após o pleito eleitoral de 2022”.

Ainda de acordo com o relatório, que se tornou público depois de Moraes levantar sigilo, “os elementos de prova, ora apresentados, decorrentes da análise parcial realizada nos dispositivos apreendidos (aparelhos celulares), ratificam a hipótese criminal relacionada à participação dos investigados na tentativa de execução de um golpe de estado, seja por meio de induzimento e instigação de parcela da população aderente à ideologia política professada, seja por meio de atos preparatórios e executórios propriamente ditos”.

As mensagens foram divulgadas parcialmente na última quinta-feira, 15, em reportagem da revista “Veja”. Nelas, a PF encontrou um roteiro de golpe, com passo a passo organizado em oito etapas, que previam desde o afastamento de ministros do STF até a anulação do resultado das eleições de 2022, das quais Jair Bolsonaro saiu derrotado.