Delator da Lava Jato acusa Moro de encomendar gravações clandestinas
Declaração foi feita em audiência presidida pela juíza Gabriela Hardt, a quem Tony Garcia contou que supostos pedidos ilegais de Moro miravam autoridades
16:22 | Jun. 04, 2023
Delator da operação Lava Jato, Tony Garcia — envolvido na prisão de Beto Richa (PSDB) —, afirmou que fez gravações ilegais do ex-governador do Paraná e de outras autoridades a pedido do então juiz Sergio Moro e de procuradores da força-tarefa. A declaração foi em audiência com a juíza da 13ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt, substituta do hoje senador da República.
No documento, Garcia afirma que as gravações eram trocadas por benefícios na Justiça e que havia sido orientado a esconder a parceria ilegal inclusive de seus advogados.
De acordo com a acusação feita em juízo, Tony Garcia diz que atuava para atingir alvos escolhidos pelo ex-juiz Sérgio Moro e que prestava contas das “missões” a Moro e a procuradores da Lava Jato.
“Eu fui agente infiltrado do Ministério Público, eu trabalhei por dois anos e meio, diuturnamente, com 24 horas tendo um agente da inteligência da Polícia Federal ao meu dispor para eu pedir segurança, para pedir interceptação de telefones, de tudo colaborasse com a Justiça”, afirmou, em vídeo divulgado inicialmente pelo portal Brasil 247.
Além do parlamentar, o delator cita Deltan Dallagnol, Carlos Fernando, Januário Paludo e Diogo Castor, que eram até então os procuradores da Lava-Jato.
Dallagnol recentemente foi eleito deputado federal pelo Paraná, mas perdeu o mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa. Já Sergio Moro fez parte do primeiro ano do Governo Bolsonaro, como ministro da Justiça e Segurança Pública. Chegou a romper com o então presidente, acusando-o de corrupção, mas se reaproximou nas eleições de 2022, em campanha contra Lula — a quem havia condenado como juiz, em processo considerado nulo por suspeição pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é hoje senador, com postura de oposição ao governo petista.
As acusações contra o atual senador foram feitas ainda em 2021 à juíza Hardt. No entanto, as denúncias ficaram engavetadas até a 13ª Vara ser assumida por Eduardo Appio, atualmente afastado do cargo por decisão do TRF-4. Hardt reassumiu o caso.
Recentemente, as acusações feitas pelo delator foram enviadas para o ministro Dias Toffoli, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF). Tony Garcia deverá prestar novo depoimento à Justiça na próxima sexta-feira, 9.
Moro negou as acusações feitas por Garcia a quem chamou de “criminoso condenado”.