Lira critica articulação do governo Lula, mas poupa Guimarães: "Herói bravo"

Declarações ocorreram em meio à corrida para aprovação da Medida Provisória (MP) que reestrutura os ministérios do Governo Federal

A relação entre o Planalto e a Câmara dos Deputados, estremecida nas últimas semanas, ganhou um novo capítulo após declarações do presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), que criticou a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse haver insatisfação generalizada de deputados com a articulação política do governo petista.

Embora Lira não tenha citado nomes, a insatisfação seria dirigida aos ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil), principais responsáveis pela relação com congressistas. Em entrevista coletiva na última quarta-feira, 31, Lira disse que Lula havia lhe telefonado e que explicou ao petista as dificuldades do governo. O contato ocorreu em meio à corrida para aprovação da Medida Provisória (MP) que reestrutura os ministérios do governo. A MP foi aprovada pela Câmara e segue para o Senado nesta quinta-feira, 1°.

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“O problema não é da Câmara ou do Congresso. O problema está no governo, na falta ou ausência de articulação (...) Venho alertando o governo sobre essa inação, essa falta de articulação, essa falta de pragmatismo, falta de consideração, falta de atendimento, falta de atenção”, disse o presidente da Câmara a jornalistas em Brasília.

Em meio às críticas, no entanto, Lira poupou o líder do governo na Câmara, o deputado federal cearense José Guimarães (PT), a quem elogiou pelo trabalho de articulação dentro do Legislativo para garantir o andamento de pautas de interesse do Executivo.

“Quem está votando a matéria do governo são os partidos de oposição e independentes, e nós não temos, penso eu, essa obrigação política. Não é uma matéria de vida ou morte para o País. É uma matéria de organização do governo (...) Não posso e nem vou ser responsável por um resultado positivo ou negativo. Se for positivo, todos os louros para o líder do governo, José Guimarães, que tem sido um herói bravo, lutando para que as coisas aconteçam, se for negativo a culpa é do governo de maneira geral”, comentou.

Questionado sobre as dificuldades de diálogo com integrantes da gestão petista e se as críticas seriam dirigidas especificamente a algum ministro, Lira rebateu: “Eu falei do governo, a articulação vocês sabem quem são os ministros da articulação”.

A postura de Lira já repercutiu em setores do Planalto, que passaram a ver a declaração como um movimento para fortalecer o nome de Guimarães, em teoria um dos primeiros na fila para assumir a vaga de articulador político em caso de troca na pasta. De acordo com apuração do Valor, interlocutores próximos ao Planalto entenderam que as declarações de Lira evidenciam essa suposta preferência.

Além do custo político na articulação da MP, com a ameaça de rebelião de deputados do Centrão, o governo precisou liberar R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares ao orçamento para garantir os votos na Câmara. A MP aprovada ontem obteve 337 votos favoráveis e 125 contrários e precisa ser votada hoje, 1°, no Senado para não perder a validade.

O tramite até a aprovação da MP evidencia a fragilidade na relação entre governo e Congresso. Lira disse que, desta vez, a Câmara reconheceu a necessidade de "dar mais uma oportunidade" ao governo, mas ressaltou que a gestão Lula terá que caminhar com as próprias pernas a partir de agora. "É importante que se diga, que se deixe claro que, daqui para frente, o governo, claro, vai ter que andar com as suas pernas. Não haverá mais nenhum tipo de sacrifício por parte da Câmara", completou.

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