Maduro diz que Brasil e Venezuela vivem uma 'época de ouro das relações'
A declaração foi proferida na manhã desta segunda-feira, 29, durante discurso no PlanaltoO presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu na manhã desta segunda-feira, 29, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (PSUV) no Palácio do Planalto. Maduro desembarcou no Brasil no domingo, 28, para a reunião entre líderes sul americanos, nesta terça-feira,30.
Maduro afirmou que ambos os países vivem “a época de ouro das relações” onde os países se encontram cara a cara a partir de uma vontade comum.
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“A Venezuela teve a aplicação desse modelo ideológico extremista e ainda está sendo aplicado e, de repente, fez com que todas as portas, todas janelas com o Brasil fossem fechadas, ainda que sejamos países vizinhos, países que se amam como povos”, declarou. “Hoje se abre uma nova época em termos de relação entre os nossos povos e o nosso país”.
É a primeira vez que o presidente venezuelano visita o país desde 2015. Durante o discurso, Lula afirmou que o país sofreu preconceito durante a corrida eleitoral de 2022 por ser “amigo da Venezuela”.
“Quantas críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela, havia discursos e mais discursos em que os adversários diziam: “Não, porque se o Lula ganhar as eleições o Brasil vai virar uma Venezuela”, disse o petista. “O único sonho nosso era que o Brasil fosse o Brasil mesmo, melhor”.
Durante a declaração feita à imprensa, o líder venezuelano mencionou o índice de crescimento no país. Ele afirmou que no ano passado, a Venezuela registrou um crescimento econômico de 15%, com uma economia não petrolífera, a primeira vez em 120 anos. Maduro afirma que este ano, os prognósticos do fundo econômico preveem um crescimento superior a 5%.
Ele garante que a Venezuela está preparada para retomar as relações, que segundo ele, são virtuosas, e que o país está de portas abertas para os investidores e empresários brasileiros. “Amamos a história do povo brasileiro, a força, a alegria espiritual do povo brasileiro, e esperamos que nunca mais ninguém feche as portas entre o Brasil e a Venezuela”, comentou.
Quando questionados por jornalistas sobre a relação bilateral entre Brasil e Venezuela, Lula afirmou que a articulação visa não apenas estes dois países, mas o bloco da América do Sul. “Não dá para ninguém imaginar que sozinho um país da América do Sul vai resolver os seus graves problemas que perduram há mais de 500 anos”, explicou. “Se a gente tiver junto, nós somos 450 milhões de pessoas, se a gente tiver junto a gente um PIB de quase US$ 4,5 trilhões”.
No decorrer do pronunciamento, Lula mencionou que, se um bloco contineltal for elaborado, é possível que a negociação ocorra de forma potente e com mais possibilidade de ganhar. Ele afirmou ainda que deseja firmar um acordo com a União Europeia, contudo, relatou que há alguns documentos que o Brasil não pode ceder, como por exemplo, as contas governamentais.
“Se a gente entregar as contas governamentais, o que vai sobrar para a pequena média brasileira?”, disse. “Então, nós temos que pensar em como a América do Sul vai voltar a crescer do ponto de vista científico, tecnológico, do ponto de vista governamental”.
Quando questionado por jornalistas sobre o bloco de economia dos Brics, o petista ponderou que outros países desejam integrar o grupo, contudo, a decisão não cabe apenas ao Brasil, mas sim a todos os demais países que participam da organização.
“Nós vamos discutir porque não depende da vontade do Brasil, depende da vontade de todos. Se houver um pedido oficial, esse pedido vai ser oficialmente levado para os Brics e lá decidiremos. Se você perguntar a minha vontade, eu sou favorável”, afirmou Lula.
Maduro, por sua vez, mencionou que o papel dos Brics vai trazer “desenhos novos para o mundo”, e que esse panorama pode resultar na união da América do Sul. “Junto aos Brics, nós vemos no âmbito geopolítico, um elemento que nos pode fazer avançar: a união de cinco países muito poderosos, o Brasil, a China, a Índia, a África do Sul e a Rússia, e o Brics está se transformando num grande ímã daqueles que buscam um mundo diferente de paz e de cooperação”, explica.
O líder venezuelano relatou que mais de 30 países desejam integrar o grupo, que hoje é liderado pela ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Ele mencionou que uma dessas nações é a Arábia Saudita e afirmou que ela está “a passos de se unir ao Brics”.
“Ontem eu li a notícia de que a nossa grande amiga e poderosa Arábia Saudita está a passos de unir-se ao Banco dos Brics, imaginem vocês, o que isso representa”, salientou.
No que diz respeito à relação energética do Brasil e Venezuela, Lula expressa deseja retomar a articulação. Ele afirma que que não faz sentido o estado de Roraima, na fronteira venezuelana, ser o único estado fora da matriz energética brasileira, a funcionar por meio de termoelétrica. O petista garante que os ministros da energia dos dois países discutirão alternativas que viabilizem a resolução do problema.
“Nós queremos recuperar nossa relação energética com a Venezuela. Aquele Leão de Guri [Hidrelétrica de Guri] tem de ser colocado em funcionamento, porque não se justifica Roraima ser o único estado fora da matriz energética brasileira, funcionando na base da termelétrica”, disse Lula.
Lula depositou a responsabilidade de limpar o nome do país vizinho para o líder venezuelano, explicando que Maduro precisa construir sua narrativa embasada na democracia. “Está nas suas mãos companheiro construir a sua narrativa e virar esse jogo para que a gente possa vencer definitivamente e a Venezuela voltar a ser um país soberano, onde somente o seu povo, através de votação livre, diga quem é que vai governar aquele país”, declarou.
Maduro, por sua vez, citou que a Venezuela foi vítima de uma campanha feroz por meio de mídias tradicionais e por meio de redes sociais, que contribuíram para a visão de que o país é uma nação falida e não democrática. “Isso foi acompanhado por uma invizibilização das coisas boas que acontecem na Venezuela, eu posso te assegurar, Lula, que toda essa tortura, toda essa agressão vivenciada pelo país, posso dizer que a Venezuela é outra”, pondera.
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