"Eu não vou fazer política dentro do gabinete", diz Anielle Franco sobre cargo de ministra
A declaração foi proferida na tarde desta quinta-feira, 18, durante a primeira reunião da Caravana Participativa para construção do Plano Juventude Negra VivaDurante o primeiro encontro da Caravana Participativa para construção do Plano Juventude Negra Viva (PJNV), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou que é necessário “ir à base” para entender as necessidades das pessoas que sofrem violência de gênero e raça.
“É por isso que a gente faz política com afeto, a gente faz política indo na base pra entender e ouvir o que vocês estão precisando. Eu não vou fazer política dentro do gabinete, podem falar o que quiser”, disse.
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“A política é feita com olho no olho, se eu tô aqui eu tenho que trabalhar, e pra trabalhar eu preciso saber o que tá acontecendo do outro lado”, prosseguiu. A declaração foi dada na tarde desta quinta-feira, 18, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza.
No discurso durante o evento, Anielle citou a irmã, Marielle Franco, assassinada em março de 2018. A ministra reforçou que a última agenda em que Marielle colaborou tinha como foco o futuro da juventude na política. Ela relembrou o caso e acrescentou que é necessário que a política do país mude para que pessoas negras sejam inseridas na categoria.
Estiveram presentes na ocasião a vice-governadora, Jade Romero (MDB), o diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo, Yuri Silva, e a secretária da Igualdade Racial do Estado do Ceará, Zelma Madeira.
Anielle, que já atuou como professora, afirmou que estava com muita saudade de falar e estar com a juventude e assegurou que no seu projeto de país, os adolescentes estarão vivos. Ela afirmou ainda que é importante que a política mude e respeite a população negra.
“Ontem eu estive na Câmara e falei a seguinte frase: ‘A gente não vai mudar, nunca mais, para caber dentro da política, porque a política é que tem que mudar pra que a gente caiba nela”, ponderou. “Quando a gente fala que a política tem que mudar, ela tem que mudar para respeitar”.
Anielle garantiu aos jovens presentes que, durante a sua governança na pasta, o índice de violência e assassinato contra pessoas trans e LGBTQIAP+ será reduzido. Ela reforçou que os índices de violência contra a mulher também serão discutidos durante a gestão, conforme a vice-governadora, Jade Romero (MDB), havia mencionado no encontro.
“No meu projeto os jovens negros estão vivos. No meu projeto as mulheres não sofrem violência política porque, corajosamente, colocaram os seus corpos à disposição de uma política pública para poder fazer política pra gente, pra pensar em educação, saúde. Esse é o meu projeto político”, assegurou.
Ao longo da fala, Anielle voltou a mencionar a irmã e afirmou que, se as políticas públicas tivessem sido aplicadas à época em que Marielle foi assassinada, a tragédia contra a vereadora teria sido evitada.
“Esse projeto era o que a minha irmã defendia, e se esse projeto político estivesse em curso há algum tempo atrás, a Mari provavelmente estaria viva aqui hoje” continuou. “Lutando tanto quanto nós estamos para que as mulheres sejam livres, para que sejam protagonistas de suas histórias, para que as mulheres chegassem e permanecessem em espaços de decisão”.
A caravana tem como principal objetivo reduzir os índices de letalidade entre a população negra do país. De acordo com a ministra, foram selecionadas algumas prioridades que serão discutidas no seu governo, como o genocídio contra a população negra e a educação da categoria, por exemplo.
“Nós sabemos que a questão da letalidade é uma grande prioridade e pretendemos atuar diretamente sobre isso. Mas temos também questões de múltiplas ordens que afetam o cotidiano da juventude negra. Por isso o GTI [Grupo de Trabalho Interministerial] que cuida do Plano tem 12 ministérios envolvidos, porque são muitas demandas em diversas áreas”, explica a ministra.
Durante coletiva de imprensa, realizada ainda no local do encontro, a ministra informou que o próximo estado a reunir os representantes da iniciativa é a Bahia. Ela reforça que, para entender o panorama e as dificuldades que a população negra enfrenta é necessário visitar os locais onde o índice de violência contra a população negra é mais elevado.