Áudios apontam que gastos de Michelle Bolsonaro eram pagos em dinheiro vivo

Diálogos revelam um possível esquema de pagamentos em espécie por parte da esposa de Jair Bolsonaro, o que levanta questões sobre possíveis irregularidades

Segundo informações obtidas por meio de diálogos entre o tenente-coronel Mauro Cid e assessoras da gestão de Jair Bolsonaro, uma orientação foi dada para que as despesas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro fossem pagas em dinheiro vivo.

Conversas de um aplicativo de mensagens interceptadas pela Polícia Federal revelam que Mauro Cid, então ajudante de ordens do Palácio do Planalto, demonstrava preocupação de que a ação fosse caracterizada como um esquema de ‘rachadinha’, já que não havia a comprovação da origem dos recursos.

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Ele chega a mencionar o caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As informações são do portal UOL.

De acordo com as investigações da PF, Michelle utilizava um cartão de crédito vinculado à conta de uma amiga, Rosimary Cardoso Cordeiro, assessora parlamentar no Senado. Para encobrir a origem dos recursos, depósitos em dinheiro vivo foram feitos para Rosimary, com o objetivo de pagar as despesas com o cartão de crédito.

A descoberta foi realizada a partir de quebras de sigilo bancário de Mauro Cid e outros funcionários do Planalto.

As conversas obtidas ocorreram entre as assessoras Cintia Borba Nogueira e Giselle dos Santos Carneiro da Silva. Além delas e de Mauro Cid, também há áudios com Osmar Crivelatti, militar subordinado ao tenente-coronel, e uma pessoa de nome Vanderlei.

Transcrição dos áudios

Em uma conversa, de outubro de 2020, Cintia Nogueira fala com Giselle Carneiro preocupada com o uso do cartão de crédito de Rosimary. Confira:

Então hoje é essa situação do cartão realmente é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (...) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas. (...) Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema.

Em novembro de 2020, a situação volta a ser abordada em um áudio de Giselle a Mauro Cid:

“Coronel, bom dia. Ontem eu conversei com a senhora Adriana para saber se ela tinha falado com a dona Michelle, né. Ela falou que conversou. Explicou, falou todos os problemas, preocupações, né. (…). Mas, então, o resultado foi que a dona Michelle ficou pensativa. Segundo a dona Adriana, ficou pensativa, mas que vai continuar com o cartão. E ela falou que tem, tem os comprovantes assim, né? Que esse cartão já era bem antes do presidente ser eleito. Mas de qualquer maneira, a dona Adriana falo...

Mauro Cid em áudio enviado à Giselle na mesma data diz:

Se ela perguntar pra você ou falar alguma coisa ou comentar, é importante ressaltar com ela que é o comprovante que ela tem. É um comprovante de depósito, é comprovante de pagamento. Não é um comprovante dela pagando nem do presidente pagando. Entendeu? É um comprovante que alguém tá pagando. Tanto que a gente saca o dinheiro e dá pra ela pagar ou sei lá quem paga ali. Então não tem como comprovar que esse dinheiro efetivamente sai da conta do presidente. O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle.

Em um terceiro áudio, o então ajudante de ordens do Palácio do Planalto demonstra receio:

E isso sem contar a imprensa que quando a imprensa caiu de pau em cima, vai vender essa narrativa. Pode ser que nunca aconteça? Pode. Mas pode ser que amanhã, um mês, um ano ou quando ele terminar o mandato dele, isso venha à tona.

Cintia Borba, em outubro de 2021, em áudio enviado a Giselle:

E sobre as flores da Patrícia Abravanel, ela falou que é para o Cid fazer o pagamento. Mas ele tinha me falado na semana passada que quando for esses pagamentos de terceiros, é pra gente pegar o dinheiro com ele e fazer o pagamento por aqui, tá? Então eu vou pedir para ele para sacar esse dinheiro e peço o Vanderlei para pegar lá para a gente fazer o... Vai ter que ser feito um depósito, né? No número daquela conta que você me passou, tá?

Osmar Crivelatti em conversa com Giselle, em novembro de 2021, afirma:

Giselle, bom dia! É, é esse, esse pagamento, o coronel tinha passado para a gente, mas eu acho que esse banco digital a gente não consegue fazer pagamento. E transferência nós não podemos fazer. Então vê o que que nós podemos fazer. Se entregamos o dinheiro para vocês. Ou se você tem alguma outra conta, Banco do Brasil, alguma coisa que a gente possa fazer o depósito, tá bom Giselle? Bom dia aí, obrigado.

Giselle Carneiro, em novembro de 2021, em áudio enviado a Cíntia, assessora do Planalto, e pessoa de nome Vanderlei:

Boa noite, Vand e Cintía. PD (Primeira-dama) falou, eu perguntei para ela se ela queria transferir Pix, né? Tanto para Bia. Daí, ela falou: não, vamos fazer agora tudo depósito, que, aí pede pro Vanderlei fazer o depósito, a gente consegue o dinheiro e faz o depósito. Só que ela não falou como conseguiu o dinheiro, se o dinheiro está com ela, se a gente pega na AJO. Não falou, tá? Ela falou que assim não fica registrado nada, vamos fazer depósito. Então a gente tem que começar a ter esse hábito do depósito, então né?...

 

 

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