Base de Lula muda o tom e passa a apoiar CPMI do 8/1 após demissão de ministro do GSI

CPMI proposta pelo deputado cearense André Fernandes era alvo de resistência da base do governo até o início desta semana

12:55 | Abr. 20, 2023

Por: Vítor Magalhães
Atos golpistas no 8 de janeiro em Brasília (foto: EVARISTO SA/AFP)

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro ganhou força nos corredores do Congresso Nacional após a divulgação de imagens dos ataques golpistas nas quais o agora ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, aparece dentro do Palácio do Planalto em contato com grupo de invasores. Dias pediu demissão após o caso.

Proposta pelo deputado federal cearense André Fernandes (PL-CE), a CPMI era alvo de resistência da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por entender que a comissão seria utilizada pela oposição para fragilizar a imagem do governo. No entanto, após as imagens de Gonçalves Dias, divulgadas pela CNN Brasil, parlamentares da base mudaram o tom do discurso e agora encaminham a participação no colegiado.

Líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi um dos que mudou o tom. Em coletiva no dia 17, ele havia declarado que a CPMI visava "turbar as investigações" já existentes e que a posição do governo era "contrária à instalação". Já em fala na última quarta-feira, o senador indicou que o governo quer a leitura do requerimento. "Vamos para essa investigação e vamos com força. Estamos com vontade. Queremos, porque no 8 de janeiro tiveram três vítimas neste país, a República, a democracia e o atual governo; não fomos os algozes, somos as vítimas”.

Nós somos as vítimas e queremos descobrir a fundo quem esteve por trás dessa barbárie. Nós queremos a leitura do requerimento de CPMI para investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Vamos para a investigação! pic.twitter.com/LfsTJYUej9

— Randolfe Rodrigues (@randolfeap) April 19, 2023

O líder do governo na Câmara, deputado federal José Guimarães (PT-CE), sinalizou que o governo quer uma apuração “ampla, geral e irrestrita” sobre o 8 de janeiro e indicou que a base fará parte da CPMI, caso a comissão se concretize. “Se o Congresso quiser instalar CPMI, estamos prontos para ajudar e investigar (...) Se o presidente (do Senado) ler e os partidos quiserem, nós vamos estar dentro e seremos os primeiros a indicar os membros”, disse Guimarães em coletiva na última quarta-feira, 19.

Apesar disso, Guimarães resistiu ao ser indagado sobre se o governo apoiaria a instalação da CPMI, com assinaturas. Segundo o petista, a ferramenta é prerrogativa da oposição. “Quem governa não quer perder tempo com CPMI. O governo está preocupado em aprovar a Reforma Tributária, as novas metas fiscais, o piso da enfermagem, a recomposição de recursos para a educação”, complementou.

A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, disse querer que a sigla se posicione a favor da CPMI. "Defendo que apoiemos", afirmou ao O Globo.

Na última terça-feira, 18, o presidente do Congresso Nacional e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), adiou, em uma semana, a sessão conjunta entre deputados e senadores. O requerimento da CPMI seria lido na terça-feira, porém parlamentares da base do governo convenceram Pacheco a adiar a leitura. O adiamento da sessão foi considerado pela oposição uma manobra do governo para ganhar tempo e convencer parlamentares a retirarem assinaturas do pedido.

Segundo André Fernandes, autor do pedido de CPMI, a petição contabilizava 192 assinaturas de deputados e 37 de senadores até a última terça-feira; mais que o necessário para instalação. O POVO procurou Fernandes para comentar a eventual adesão de governistas à instalação da comissão e para saber se novas assinaturas foram registradas, e aguarda retorno.