MP pede condenação de blogueiro cearense foragido, acusado de colocar bomba em caminhão

Jornalista Wellington Macedo é um dos três acusados por tentativa de atentado a bomba próximo ao aeroporto de Brasília. Ato golpista seria reação à eleição do presidente Lula

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios reforçou o pedido de condenação dos três acusados pela tentativa de explosão de uma bomba em um caminhão-tanque próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, em reação à derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) na última eleição e vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um dos alvos é o cearense Wellington Macedo de Souza, foragido desde dezembro. Ele chegou a ser assessor na Diretoria de Promoção e Fortalecimento no Ministério de Direitos Humanos, na gestão da então ministra e hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

 

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Além de Wellington Macedo, respondem ao processo na Justiça Federal do Distrito Federal Alan Diego dos Santos Rodrigues e George Washington de Oliveira Sousa. Washington foi preso em um apartamento alugado em Brasília, no dia 24 de dezembro, quando preparava a fuga. Alan se entregou à Polícia em Comodoro (MT), terra natal dele. Wellington é o único foragido.

No domingo, 9, a Promotoria apresentou alegações finais na ação penal que tramita na 8ª Vara Criminal de Brasília. Trata-se da última manifestação do MP antes de o juiz responsável pelo caso prolatar sua sentença.

O trio foi denunciado pelo crime de explosão — "expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos".

O MP ainda pede que a pena dos réus, em caso de condenação, seja aumentada em um terço, já que o crime foi cometido tendo como alvo depósito de combustível. Assim, a punição pode chegar a até oito anos de prisão.

George Washington também foi acusado de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, em razão do arsenal apreendido em seu poder.

O trio se tornou réu perante a Justiça do DF em janeiro. Na ocasião, o juiz Osvaldo Tovani, da 8ª Vara Criminal de Brasília, considerou que a denúncia do MPDFT preenchia os requisitos previstos no Código de Processo Penal, havendo "justa causa" para abertura da ação penal contra os acusados.

O plano de atentado

A investigação sobre o caso começou após a Polícia Militar do Distrito Federal encontrar, no dia 24 de dezembro, uma bomba na Estrada Parque Aeroporto, próximo do Aeroporto Internacional de Brasília. O objeto estava à margem da pista de rolamento, no gramado de um canteiro central. No mesmo dia, George Washington de Oliveira Sousa foi preso e confessou ter armado o artefato, alegando que queria "provocar o caos" em protesto contra a eleição de Lula.

George Washington — que se diz gerente de quatro postos de gasolina, recebendo entre R$ 4 mil e R$ 5 mil por mês — afirmou à Polícia que gastou mais de R$ 160 mil com um arsenal — pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições — que levou do Pará à Brasília com a intenção de "provocar intervenção das Forças Armadas". O auto de apreensão dos objetos localizados pelos policiais em posse do preso listou um fuzil, duas espingardas, cinco bananas de dinamite, revólveres, pistolas e mais de mil munições, de diferentes calibres.

Fuga

Wellington Macedo responde a pelo menos 59 processos por críticas a políticos e servidores da rede de ensino de Sobral. Ações questionavam publicações do blogueiro nas quais ele acusava supostas fraudes nas avaliações educacionais do Município, que tem indicadores de referência na área. Ele tem antecedentes criminais por contravenção penal, denunciação caluniosa e crime contra a incolumidade pública. Foi ainda denunciado pela Promotoria de Justiça de Sobral por conduta criminal de vilipêndio a cadáver, em 23 de março de 2020, quando divulgou fotos de uma mulher morta no que seria a primeira morte de Covid- 19 em Sobral — o que acabou sendo desmentido.

Em agosto de 2021, ele foi alvo de operação da Polícia Federal sobre a organização de atos antidemocráticos e incitação à população para a prática de atos contra o Estado democrático de direito. Na semana da operação, Macedo difundiu declarações do cantor Sérgio Reis, outro alvo da PF na operação, em que o cantor defendia greve de caminhoneiros em protesto contra o Supremo Tribunal Federal (STF). "Se em 30 dias eles não tirarem aqueles caras (do STF), nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra", dizia o cantor.

Em setembro daquele ano, o blogueiro cearense foi preso acusado de descumprir medidas cautelares determinadas na operação. Ele foi para prisão domiciliar em outubro e desde então usava tornozeleira eletrônica. O monitoramento permitiu descobrir que ele dirigiu o veículo até as proximidades ao aeroporto, para Alan Diego colocar o explosivo no caminhão-tanque. Em depoimento à Polícia, Alan relatou que Wellington o acompanhou e viu quando ele colocou o explosivo.

Em janeiro, Wellington foi suspenso do quadro de associados do Sindicato dos Jornalistas do Ceará.

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