Em um único dia, Bolsonaro pagou sete refeições para cada agente de segurança

Cerca de 431 pessoas estariam envolvidas na segurança da visita de Bolsonaro a Boa Vista, Roraima

19:46 | Abr. 10, 2023

Por: Luíza Vieira
Bolsonaro foi condenado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação (foto: JOE RAEDLE / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

Durante uma visita a Boa Vista, em Roraima, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou o cartão corporativo da Presidência para pagar sete refeições a cada agente convocado para atuar na segurança. Em outubro de 2021, Bolsonaro comprou 2.964 kits-alimentação para 431 pessoas, quantidade de integrantes oficialmente convocados para trabalhar no entorno do ex-mandatário. A visita durou apenas oito horas.

Ao contabilizar a distribuição dos kits para cada pessoa presente, é como se cada uma delas tivesse recebido um lanche a cada uma hora e 20 minutos, uma média de seis kits por pessoa, desconsiderando o almoço - uma marmita também foi servida a cada integrante.

Os cálculos mostram que, naquele dia, foi como se cada policial, militar ou agente de segurança tivesse ingerido 12 sanduíches compostos por frios, 7 latas de refrigerante, 7 garrafinhas de água mineral, 6 barras de cereal e 6 maçãs, além da marmita de almoço.

O cartão da Presidência registrou um gasto de R$ 109.166,00 no restaurante Sabor de Casa, fornecedor dos lanches e das marmitas na data da visita presidencial. Esta foi a maior despesa única com alimentação já registrada em um cartão da Presidência durante a gestão de Bolsonaro.

Os responsáveis pela despesa assinalaram em documentos e respostas oficiais que houve uma distribuição de alimentos, financiada pela Presidência da República, para um grupo de menos de 500 profissionais de segurança.

Além disso, durante a campanha eleitoral de 2022, Bolsonaro distribuiu 21,4 mil lanches em visitas pelo país com o cartão corporativo.

Durante a visita de oito horas à capital de Roraima, o ex-presidente visitou um abrigo para imigrantes venezuelanos e uma aldeia indígena. Além disso, almoçou com o comando do Exército na localidade, participou de um culto em comemoração ao aniversário da Igreja Assembleia de Deus e voltou ao Distrito Federal no fim da tarde.

Ao ser questionado pelo Uol sobre a quantidade de kits encomendados a um simples restaurante de Boa Vista, o representante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, responsável por receber as refeições na manhã da visita, afirmou que as sobras dos itens não foram armazenadas.

“Os alimentos foram distribuídos imediatamente após o recebimento, não ocorrendo armazenamento, a todas as agências envolvidas no aparato de segurança da comitiva da visita presidencial ao estado de Roraima", escreveu o comandante em nota oficial.

O site apurou ainda o que cada integrante dos órgãos presentes durante a visita consumiu.

Polícia Federal: 8 policiais ingeriram kits alimentação

Polícia Rodoviária Federal (PRF): 37 agentes integraram a escolta, mas “ sem registro de fornecimento de alimentação pelo GSI”, porque, “todos os servidores fazem jus a auxílio-alimentação”.

Corpo de Bombeiros: 11 bombeiros tiveram atuação em caráter “preventivo”, recebendo alimentação fornecida pelas Forças Armadas

Polícia Civil: 20 policiais que “tiveram direito a água, refrigerante, café da manhã e almoço oferecidos pelo governo federal”.

Polícia Militar: “em média 100 policiais receberam marmitas e lanches”.

Departamento de Trânsito de Roraima: 16 agentes utilizados durante a visita

Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU): 3 socorristas acompanharam a visita

Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito: 20 agentes de trânsito e 8 guardas municipais "tiveram lanche e almoço pagos pelo governo"

Exército Brasileiro: "296 militares estiveram envolvidos neste trabalho e receberam alimentação"

Casa Militar e Força Nacional de Segurança: mesmo citadas pela 1ª Brigada, informaram não terem atuado na comitiva presidencial, tampouco terem recebido lanche

Um ofício assinado pelo então coordenador de segurança de área, o tenente-coronel Luis Antonio de Almeida Jr., que à época estava à frente do Comando de Fronteira Roraima, informou que 431 pessoas estariam envolvidas na segurança da visita de Bolsonaro.

De acordo com o Comando do Exército, em Brasília, o pedido de sete lanches (seis kits e marmita) para cada um dos colaboradores da segurança se deve ao fato de uma proposta de cronograma sugerida pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

“O planejamento foi baseado na proposta de cronograma do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que previa uma vista ao Vale do Rio Cotingo - Normandia-RR, o que acabou não ocorrendo no dia da execução. Tais alterações de planejamento fogem à previsibilidade do Coordenador de Segurança de Área".

A corporação afirma ainda que alguns dos agentes que participaram da visita não estiveram cara a cara com o presidente, e que havia previsão de que fosse fornecida a "alimentação completa”, desde o café da manhã até o jantar. “O planejamento logístico para esse tipo de atividade é realizado com a devida antecedência, prevendo o emprego de todo o pessoal necessário para o cumprimento das tarefas de segurança e apoio", finalizou.