Bolsonaro chega ao Brasil com depoimento à PF marcado para próxima semana

Esquema de segurança para a chegada do ex-presidente foi preparado pelo governo do Distrito Federal. Bolsonaro não sairá pelo saguão do aeroporto, onde, algumas dezenas de apoiadores dele o aguardam no local

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou ao Brasil no começo da manhã desta quinta-feira, 30, após 89 dias fora do País. O avião que o trouxe da Flórida, nos Estados Unidos, pousou às 6h38min no aeroporto de Brasília.

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Esquema de segurança para a chegada de Bolsonaro foi preparado pelo governo do Distrito Federal. O ex-presidente não saiu pelo saguão do aeroporto, por decisão da Secretaria de Segurança Pública. Algumas dezenas de apoiadores dele o aguardam no local. Bolsonaro será escoltado por outra saída e, a pedido dele, não terá contato com a imprensa. O ex-presidente segue para a sede do PL, onde participará de evento com apoiadores.

Desde cedo, bolsonaristas vestindo camisas amarelas e enrolados em bandeiras do Brasil aguardavam no saguão do aeroporto de Brasília. Aliados do ex-presidente chegaram a prever que 10 mil pessoas iriam se aglomerar na área do desembarque para uma festa de recepção, mas o público foi bem menor. Cerca de 600 pessoas esperavam pela chegada de Bolsonaro.

Apesar da imagem desgastada após os atos golpistas de 8 de janeiro e a descoberta do caso das joias, Bolsonaro prepara uma estratégia para mostrar que ainda é o principal antagonista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na tentativa de se desviar das acusações que pesam contra ele, Bolsonaro voltará a investir nas redes sociais para fazer um contraponto entre sua gestão e ações do governo petista.

A data para o retorno foi planejada sob medida, às vésperas de Lula completar três meses de governo, num momento em que o petista enfrenta uma situação difícil na política e na economia. Bolsonaro embarcou para Orlando (EUA) em 30 de dezembro do ano passado, sem passar a faixa a Lula e alimentando suspeitas infundadas sobre a legitimidade das eleições.

A Secretaria de Segurança do Distrito Federal e a Polícia Federal montaram esquema especial de policiamento para a volta do ex-presidente. A PF informou que não permitiria que Bolsonaro use o saguão principal do aeroporto. A instituição alega que precisa preservar a segurança do local.

A secretaria do Distrito Federal também anunciou que não iria permitir que o ex-presidente faça desfile em carro aberto, como chegou a ser cogitado por aliados de Bolsonaro. O secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, sustentou que ações do tipo infringem o código de trânsito e não serão permitidas pelo Detran.

Segundo aliados do ex-presidente, seu primeiro compromisso em Brasília será uma reunião na sede de seu partido, o PL. No prédio onde está localizado o escritório da legenda um pequeno grupo de apoiadores já o aguardava na entrada antes mesmo de o avião que trouxe Bolsonaro dos EUA pousar na capital federal.

Bolsonaro retorna com data de depoimento à Polícia Federal marcado para quinta-feira, 5 de abril, no inquérito que trata da entrada ilegal de joias no Brasil. A data foi marcada pela PF na quarta-feira, 29. Também será ouvido o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, envolvido nas tentativas de retirar as joias ilegalmente da Receita Federal.

Bolsonaro deixou o Brasil em 30 de dezembro de 2022, dois dias antes de encerrar o mandato presidencial. Em 1º de janeiro de 2023, tomou posse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Fora do País, o antecessor não cumpriu a tradição de passar a faixa presidencial. 

Depoimento sobre joias

Documentos, áudios e mensagens revelam que Bolsonaro atuou pessoalmente para tentar liberar o conjunto de joias e relógio de diamantes avaliado em 3 milhões de euros (cerca de R$ 16,5 milhões) trazidos ao Brasil de forma ilegal para ele e que, segundo seu próprio ex-ministro Bento Albuquerque, seria dado a Michelle Bolsonaro. Ele também acionou três ministérios para forçar a liberação dos itens, além da chefia da Receita Federal e militares.

O presente dado pelo regime saudita acabou apreendido pela Receita no Aeroporto de Guarulhos. Eles estavam na bagagem de um militar, assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que viajara ao Oriente Médio em outubro de 2021. Como mostrou a reportagem, foram ao menos oito tentativas para tentar liberar as joias no aeroporto, sem sucesso.

Mesmo sem conseguir reaver o pacote de joias apreendido, a comitiva do ex-ministro de Minas e Energia, que liderava a comitiva que trouxe as joias, em outubro de 2021, não informou que já tinha passado ilegalmente pela alfândega, sem informar que possuía um segundo estojo com joias.

Além disso, Bolsonaro recebeu pessoalmente esse segundo pacote de joias da Arábia Saudita que chegou ao Brasil pelas mãos da comitiva do então ministro. No estojo estavam um relógio com pulseira em couro, um par de abotoaduras, uma caneta rosa gold, um anel e uma masbaha, uma espécie de rosário islâmico, todos da marca suíça Chopard. Esse jogo chegou a ser estimado em cerca de R$ 400 mil, mas detalhes das joias revelaram que este custa, na realidade, pelo menos R$ 1 milhão.

Inicialmente, Bolsonaro negou a existência de todas as joias. "Estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não pedi e nem recebi. Vi em alguns jornais de forma maldosa dizendo que eu tentei trazer joias ilegais para o Brasil. Não existe isso", disse.

Documentos oficiais comprovam que este segundo pacote foi entregue no Palácio da Alvorada, residência oficial dos presidentes da República. O recibo indicando que Bolsonaro recebeu as joias de diamantes foi assinado pelo funcionário Rodrigo Carlos do Santos, às 15 horas e 50 minutos, do dia 29 de novembro de 2022. O papel da Documentação Histórica do Palácio do Planalto traz um item no qual questiona se o item foi visualizado por Bolsonaro. A resposta: "Sim".

Bolsonaro requisitou essas joias faltando um mês para encerrar seu mandato e deixar o Brasil rumo aos Estados Unidos, onde se refugiou desde 30 de dezembro, quando perdeu a eleição para o seu rival Luiz Inácio Lula da Silva. Antes, as joias teriam ficado por mais de um ano nos cofres do Ministério de Minas e Energia.

Foi o próprio ex-ministro Bento Albuquerque quem revelou que as joias eram para o ex-presidente. Em entrevista ao Estadão em 3 de março, Albuquerque contou detalhes. Disse que ele e sua comitiva estavam deixando a Arábia Saudita, onde participaram de um evento representando Bolsonaro, quando um representante do regime os encontrou no lobby do hotel e entregou dois pacotes, antes de embarcarem de volta ao Brasil. Bento disse aos agentes da Receita e ao Estadão que o conjunto de brilhantes avaliado em R$ 16,5 milhões era um presente para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Na semana passada, o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, que passou a representar Bolsonaro no caso, entregou o segundo conjunto de joias que foi recebido ilegalmente pelo ex-presidente. Bueno levou o conjunto para uma agência da Caixa, localizada na Asa Sul, região central de Brasília, seguindo determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).

A defesa de Bolsonaro também entregou um fuzil e uma pistola presenteados pelos Emirados Árabes. Os itens foram dados ao presidente em 2019, quando Bolsonaro voltou do Oriente Médio, em um avião da Força Aérea Brasileira. As armas chegaram à PF nas mãos do segundo-tenente Osmar Crivelatti, que foi assessor de Bolsonaro durante seu governo. O advogado Paulo Amador da Cunha Bueno também estava presente no ato da entrega.

Depois de deixar as armas na sede da PF, o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno procurou culpar a lei que trata de presentes presidenciais pelo fato de Bolsonaro ter ficado com uma das caixas e com as armas. "O presidente não cometeu nenhum fato ilícito. Isso aí, ao longo do inquérito que está em curso e o processo no TCU, isso aí vai ficar bem explicado. É uma legislação confusa, tanto que, historicamente, dá problemas para vários presidentes, mas a situação é de total licitude para o presidente Bolsonaro", comentou.

Na segunda-feira, 27, o Estado de S.Paulo, que trouxe o caso à tona, revelou que Bolsonaro ficou, ainda, com um terceiro pacote de joias dadas pelo regime da Arábia Saudita quando deixou o mandato, no fim de 2022. Este estojo inclui um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes.

A caixa de madeira clara, que traz o símbolo verde do brasão de armas da Arábia Saudita, contém uma caneta da marca Chopard prateada, com pedras incrustadas. Há um par de abotoaduras em ouro branco, com um brilhante cravejado no centro e outros diamantes ao redor. Compõe o conjunto, ainda, um anel em ouro branco com um diamante no centro e outros em forma de "baguette" ao redor, além de uma "masbaha", um tipo de rosário árabe feito de ouro branco e com pingentes cravejados em brilhantes.

O relógio Rolex é encontrado na internet pelo preço de R$ 364 mil. Os demais itens, quando comparados a peças similares, somam, no mínimo, R$ 200 mil. Isso significa que esta terceira caixa de presentes está estimada em mais de R$ 500 mil, na hipótese mais conservadora.

A reportagem apurou que este conjunto de joias, diferentemente das outras duas caixas enviadas a Bolsonaro, foi recebido em mãos pelo próprio ex-presidente, quando esteve com sua comitiva em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, entre os dias 28 e 30 de outubro de 2019. Dezenas de caixas de presentes de Bolsonaro foram guardadas numa fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, aliado de Bolsonaro, localizada numa região nobre de Brasília.

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