Caso das Joias: presentes de Bolsonaro foram guardados em fazenda de Nelson Piquet

As caixas contendo presentes do ex-presidente saíram pelas garagens privativas do Planalto e do Alvorada

19:35 | Mar. 28, 2023

Por: Luíza Vieira
O empresário e ex-piloto de Fórmula 1, tricampeão mundial, Nelson Piquet, guardou presentes de Bolsonaro em sua fazenda, em Brasília (foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)

A fazenda do tricampeão de Fórmula 1, Nelson Piquet, foi o destino escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para abrigar as dezenas de caixas com presentes que decidiu manter consigo, como as joias oferecidas a ele pelo príncipe da Arábia Saudita, em 2019.

Segundo informações apuradas pelo Estadão, a propriedade é conhecida como “Fazenda Piquet” e fica localizada no Lago Sul, uma das zonas nobres de Brasília. Todas as caixas que foram levadas à propriedade saíram pelas garagens privativas do Palácio do Planalto e do Palácio da Alvorada, local onde residem os presidentes da República.

O envio das caixas à Fazenda foi registrado no dia 7 de dezembro de 2022, quando o Bolsonaro organizava sua saída dos palácios após ser derrotado nas eleições presidenciais pelo concorrente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A data registra o pedido do envio das peças. No entanto, em decorrência do atraso na remessa, os itens só foram encaminhados à propriedade de Nelson Piquet no dia 20 de dezembro do mesmo ano, numa terça-feira, às 9 horas da manhã.

Na semana que se seguiu, o ex-presidente enviaria um avião da Força Aérea Brasileira (FAE) ao aeroporto de Guarulhos para tentar resgatar a caixa de joias, que, segundo o seu próprio ministro, Bento Albuquerque, era destinada à ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Bolsonaro tinha o intuito de ficar com os itens de maior valor, tendo em vista que apenas estes foram encaminhados para a Fazenda Piquet, enquanto cartas e livros, por sua vez, foram despachados para o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e para a Biblioteca Nacional do Rio. Esses objetos foram considerados bens do Estado Brasileiro, enquanto as joias foram averiguadas como bens pessoais do ex-mandatário.

Nelson Piquet foi procurado pela reportagem para explicar os motivos que o levaram a guardar os itens de Bolsonaro, itens estes que o ex-presidente alega que lhe pertencem, apesar do entendimento contrariar a lei e decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), tomada em 2016. Não houve resposta até a publicação da matéria.

O tricampeão de Fórmula 1 é cabo eleitoral de Bolsonaro e participou de atos golpistas em 2022. Em vídeo que circula nas redes sociais, Piquet aparece ao lado de um apoiador de Bolsonaro incentivando os internautas a votarem no aliado. “Vamos botar esse Lula filho de uma p* para fora”, disse Nelson.

Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou que Piquet doou R$ 200 mil ao PL durante as eleições do ano passado e destinou R$ 501 mil diretamente à campanha do candidato à reeleição. A informação foi divulgada no fim de agosto, o que fez com que o empresário fosse considerado o maior doador “pessoa física” da campanha de Bolsonaro à época.

Terceiro lote de joias de Bolsonaro

Veio à público nesta segunda-feira, 27, a informação de que o ex-presidente decidiu ficar com um terceiro pacote de joias oferecido pelo governo da Arábia Saudita. O lote contém um relógio da marca Rolex, de ouro branco e cravejado de diamantes, uma caneta da marca Chopard prateada e um par de abotoaduras em ouro branco. Além disso, um anel em ouro branco com diamantes também integra o pacote. As informações apontam que, como ocorreu com o segundo lote de joias enviado a Bolsonaro, este possa estar entre os itens guardados na propriedade de Piquet.

O relógio Rolex encontrado na terceira caixa tem um valor estimado de R$ 364 mil. Se comparado aos demais objetos, as peças juntas somam no mínimo R$ 200 mil, chegando à conclusão de que, este terceiro lote está estimado em mais de R$ 500 mil.

Esta terceira caixa de joias, diferentemente das outras, foi recebida em mãos pelo próprio ex-presidente durante uma viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, entre os dias 28 e 30 de outubro de 2019.

Piquet e falas racistas

Na semana passada, Piquet foi sentenciado em primeira instância a pagar uma indenização de R$ 5 milhões em decorrência de falas racistas e homofóbicas proferidas contra o piloto de Fórmula 1, Lewis Hamilton, da Mercedes. As declarações foram ditas durante entrevista a um canal no YouTube.

O juiz Pedro Matos de Arruda, da 20° Vara Cível de Brasília, foi o responsável pela decisão, que foi tomada na última sexta-feira, 24. O juiz atendeu a uma solicitação feitas pelas entidades Aliança Nacional LGBTI, Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de SP e Faecidh.

As corporações pontuaram que Piquet violou direito fundamental difuso à honra da população negra e da comunidade LGBTQIA+ ao se referir a Hamilton com o comentário “neguinho” e ao proclamar falas homofóbicas contra os também pilotos Keke e Nico Rosberg.

“O neguinho meteu o carro. O Senna não fez isso. O Senna saiu reto”, disse, associando um acidente de Hamilton em 2016 a um acidente de Ayrton Senna e Alain Prost, no GP do Japão em 1990. O empresário continuou o discurso. "[Keké] é que nem o filho dele [Nico Rosberg]. Ganhou um campeonato… o neguinho devia estar dando mais c… naquela época e ‘tava’ meio ruim, então… (risos)”, insultou.