PF usou drones para espreitar PCC antes de operação sobre plano contra Moro

A corporação vasculhou imagens armazenadas nas contas em nuvem da quadrilha e verificou fotos de áreas de lazer, casas e móveis, "denotando indícios de que os imóveis fazem parte dos levantamentos para montagem das bases da facção em Curitiba"

Antes de abrir a Operação Sequaz nesta quarta-feira, 22, e prender nove integrantes de uma quadrilha ligada ao PCC que planejava sequestrar o senador Sérgio Moro, a Polícia Federal vigiou os investigados em uma casa alugada pelo grupo para servir como base do crime. A residência localizada no bairro Jardim Social, em Curitiba, tem duas edificações.

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Os agentes da PF não só observaram a movimentação de entrada e saída do imóvel, mas também usaram drones para tentar flagrar os investigados dentro da residência. Verificaram, em dias alternados, luzes acesas e sacolas de lixo. Também observaram que existiam roupas masculinas no varal da casa dos fundos e toalhas estendidas na casa da frente.

As diligências em endereços usados pela quadrilha para arquitetar o plano contra Moro levaram à avaliação da juíza Gabriela Hardt — responsável pela decisão que abriu a Sequaz — de que os endereços estavam sendo utilizados pela organização criminosa.

Segundo a juíza, os atos sob suspeita "estão efetivamente em andamento em Curitiba há pelo menos seis meses, contando com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades" de Moro.

Os investigadores chegaram aos endereços após vasculharem as contas de e-mails da quadrilha e identificarem diversos documentos com "prestação de contas" dos gastos com o plano de sequestro de Moro. Nas listas, é possível verificar valores dispendidos com aluguéis.

Além disso, com base na análise de chamadas, os investigadores observaram que a quadrilha buscava imóveis que não só serviriam de base para o grupo criminoso, mas também para um possível cativeiro, no caso de êxito no sequestro do senador.

A PF aponta também que os criminosos alugavam imóveis para servirem de "paiol" — locais de armazenamento de armas e manutenção de cofres. A quadrilha ainda visitou chácaras na região de Contenda e São José dos Pinhais.

A corporação vasculhou imagens armazenadas nas contas em nuvem da quadrilha e verificou fotos de áreas de lazer, casas e móveis, "denotando indícios de que os imóveis fazem parte dos levantamentos para montagem das bases da facção em Curitiba".

No Paraná, os investigadores constataram que o líder da quadrilha Janeferson Aparecido Mariano, o "Nefo", e o braço-direito Claudinei Gomes Carias, o "Nei", alugaram inicialmente um apartamento e uma casa em Curitiba. No entanto, "por causarem transtornos" no prédio e não pagarem os valores devidos, foram procurados tanto pelo síndico do edifício quanto pela imobiliária.

Os agentes chegaram a visitar o prédio em questão, localizado no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Segundo os investigadores, o posicionamento é "privilegiado para fugas", uma vez que é próximo da Rodoviária de Curitiba e no caminho para o Aeroporto de São José dos Pinhais, "auxiliando tanto em um deslocamento para a prática de crime, quanto para a saída em locais de fácil deslocamento".

A PF conversou com os condôminos, sendo que uma moradora lembrou que, em setembro e outubro do ano passado, três homens se hospedaram em um apartamento do prédio e "de uma hora para outra", abandonam o local sem comunicar nada e sem pagar o devido aluguel.

Os investigadores levantaram fotos dos veículos que foram estacionados na garagem durante a estadia dos investigados no prédio, identificando um carro blindado, com comunicação de venda para o pai de uma outra investigada, Hemilly. A PF chegou a levantar a hipótese de que o veículo poderia ser usado no crime planejado pela quadrilha.

Outro endereço visitado pela Polícia Federal foi a primeira casa alugada pela quadrilha. Segundo uma das vizinhas ouvidas pelos investigadores, durante a estadia do grupo, foram realizados alguns churrascos no local. A vizinha também relatou que "eram muito bagunceiros e deixavam muito lixo espalhado, mas conversavam pouco".

Em meio às anotações dos criminosos, a Polícia Federal identificou o uso da expressão "nova locação casa" chegando ao novo endereço usado pela quadrilha no bairro Jardim Social, em Curitiba. De acordo com a PF, "Nei" comprou duas camas que foram entregues na residência.

Analisando conversas mantidas por "Nei", a PF identificou que o número 2 da quadrilha se referia à casa e ao apartamento que foram alugados inicialmente pelo grupo como "primeira casa" e "apartamento". Já a expressão "segunda casa" faz referência ao imóvel localizado no bairro jardim social, havendo ainda uma edificação nos fundos do mesmo terreno, a "casa do fundo".

Em representação à Justiça, o delegado Martin Purper destacou que a casa locada pelos criminosos fica entre o escritório de advocacia da família Moro e um antigo apartamento, que é próximo da atual moradia da família. Ainda de acordo com o chefe da Operação Sequaz, o endereço é "totalmente compatível" com o histórico de movimentação de "Nei".

"Iminência"

Ao requerer as medidas da Operação Sequaz à Justiça Federal, a Polícia Federal alegou "iminência" do plano de sequestro de Moro argumentando que o líder da quadrilha, Janeferson, e sua mulher Aline de Lima Paixão, se mudaram no início de fevereiro "buscando cadastrar todos os dados em nome de terceiros, notoriamente para tentarem ficar invisíveis quando do cometimento dos gravíssimos delitos".

Os investigadores também sustentaram que o número 2 do grupo, Claudinei, um dos responsáveis pelos levantamentos e vigilâncias sobre as vítimas, "apresenta constantes deslocamentos ao Paraná, não deixando qualquer dúvida que o crime está se concretizando em Curitiba".

Considerando ainda que as vigilâncias, deslocamentos para a capital paranense e outras ações da quadrilha ocorrem desde meados de agosto de 2022, a Polícia Federal alegou que a "situação do plano é de estabilidade nos propósitos ilícitos".

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