"Achei estranho o presidente atacar a Polícia", diz Gakyia após Lula falar em "armação"

O presidente, além de ressaltar que a operação seria uma "armação", disse querer "descobrir o que aconteceu"

19:34 | Mar. 23, 2023

Por: Júlia Duarte
Lincoln Gakiya, promotor do Gaeco de São Paulo, é "decretado" pelo PCC desde 2019. Vive sob escolta permanentemente (foto: Arquivo Pessoal )

O promotor Lincoln Gakiya, do Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo, disse estranhar a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que a tentativa do Primeiro Comando da Capital (PCC) de matar o senador Sérgio Moro (União Brasil) seria uma "armação" do ex-juiz. O promotor ressaltou que seria "difícil inventar" uma situação com "inquérito, com juiz, com Ministério Público Federal e Estadual envolvidos".

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Ao O POVO, ele disse ter visto o cometário e lamentou o uso político que vem sido feito da investigação. Na quarta-feira, 22, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sequaz e prendeu onze integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que planejavam assassinar e sequestrar autoridades em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Paraná e Distrito Federal. Entre os alvos, estariam Moro, a quem os criminosos se referiam pelo codinome "Tóquio".

Em entrevista ao repórter especial do O POVO, Cláudio Ribeiro, o promotor disse que a investigação é "séria" e partiu do Ministério Público diante de um plano existente desde o ano passado. "Eu lamento muito que as autoridades, todas elas envolvidas ou não na investigação, estão fazendo uso político de uma investigação que é extremamente séria. Porque ela não foi feita só pela Polícia Federal", ressaltou.

E continuou: "Eu conheço os delegados e os policiais que estão atuando. Porque essa investigação se iniciou com o Ministério Público, eu participo da investigação. Na medida em que alguém fala que é falso. Ou que alguém usa politicamente também, do outro lado, e para mim, não importa o lado, até porque esse plano já existe desde o ano passado, então não vou fazer nenhum tipo de comentário político".

Ele considerou "muito difícil" inventar uma situação "com inquérito, com juiz, com Ministério Público Federal e Estadual envolvidos", rebatendo as críticas que a operação poderia ser uma "armação" de Moro. 

A fala de Lula aconteceu na manhã desta quinta-feira, em um evento no Rio de Janeiro. O presidente, além de ressaltar que a ação seria uma "armação", disse querer "descobrir o que aconteceu". Ele questionou também o despacho que deu aval para operação, assinado pela juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba na Operação Lava Jato. 

"Não havia visto, achei até estranho o presidente atacar a própria Polícia. Se ele disse que (Moro) inventou, está atacando a própria Polícia. Eu vou elogiar a Polícia Federal, que fez um trabalho excepcional", disse o promotor.

Gakiya ressaltou que a investigação aconteceu "independente" do fato de uma das vítimas ser Sérgio Moro "opositor do Governo Federal". "A Polícia Federal e o Ministério Público são órgãos de Estado. A gente não está a trabalho do governante de plantão. Se não houver crime, não há crime. Se houver, nós vamos investigar. Essa é a questão", acrescentou.