Dino critica vinculação de fala de Lula contra Moro com a atuação de criminosos: "Mau-caratismo"

Ministro da Justiça cobrou "seriedade" dos agentes políticos

19:58 | Mar. 22, 2023

Por: Mariana Lopes
Moto apreendida durante Operação Sequaz, da Polícia Federal, que tem objetivo de desarticular uma organização criminosa que pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades (foto: Divulgação/ Polícia Federal)

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, comentou sobre as declarações de alguns agentes políticos contra as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) direcionadas ao senador Sérgio Moro (União Brasil). Nesta quarta-feira, 22, Dino criticou a tentativa de relacionar as falas de Lula às ações de criminosos acusados de planejar a morte de autoridades, incluindo Moro.

Flávio Dino chamou de “leviana” e “descabível” esta relação entre Lula e os grupos criminosos. “É vil, leviana e descabida qualquer vinculação a esses eventos com a política brasileira”, afirmou o ministro.

As falas a que Dino se refere foram tiradas de uma entrevista do presidente ao site "Brasil 247" na terça-feira, 21, onde menciona que, quando estava preso, afirmou a procuradores que só ficaria bem quando prejudicasse Moro.“De vez em quando entravam 3 ou 4 procuradores lá para perguntar se estava tudo bem. E perguntavam: "está tudo bem?" Eu falava: "não está nada bem. Só vai estar bem quando eu foder esse Moro", relatou Lula.

No mesmo momento em que as falas de Lula estavam em pauta, a Polícia Federal descobriu que um grupo de criminosos da facção PCC planejava praticar homicídio e extorsão mediante sequestro em Rondônia, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo. A PF realizou 11 mandados de prisão e 24 mandados de busca e apreensão, prendendo nove pessoas envolvidas no grupo. Duas pessoas seguem foragidas.

O ministro da Justiça continuou a repudiar o assunto e afirmou que as vinculações seriam fruto de “mal caratismo”. “Eu fico realmente espantado com o nível de mau caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria. Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo”, afirmou Flavio Dino.

Dino explicou que a investigação durava meses. “Não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem, literalmente, e vincular a uma investigação que tem meses e em que nosso governo e a PF atuando de modo técnico e independente cumpriu a lei e obteve êxito extraordinário, mostrando que não temos nenhum aparelhamento político do estado nem a favor e nem contra ninguém”, disse.

As declarações de Dino ocorrem após alguns políticos comentarem sobre as investigações fazendo referência a fala do presidente da República. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-procurador da Lava-Jato e atual deputado federal, Deltan Dallagnol (Podemos-PR) falaram sobre o assunto em suas redes sociais.

"Chocado, indignado e motivado a lutar ainda mais contra o crime. Minha total solidariedade a Sergio Moro e sua família, pessoas de honra que querem e lutam por um Brasil melhor. Os criminosos quererem vingança. Querem “ferrar” Sergio Moro, cada um com suas armas", escreveu Deltan Dallagnol.

Flávio Bolsonaro chegou a alfinetar o presidente, fazendo ilações:

"Diante de tantas notícias, ameaças e xingamentos, hoje acordei com uma dúvida: 'quem queria matar Moro?' ", disse.

Em resposta, Flávio Dino disse: “Estamos vendo em redes sociais uma narrativa escandalosamente falsa de que haveria uma relação entre entrevistas e declarações do presidente da república com esses planejamentos. Isso é um disparate, uma violência e nós não aceitamos isso”.

Mesmo após todas as declarações, Dino negou que deixaria de criticar o senador e ex-juiz Sérgio Moro. “Dei, darei e reitero todas as declarações críticas em relação à atuação do então juiz Sérgio Moro, ocorre que essas declarações críticas não me impedem e não impediram a PF de proteger cumprindo a lei, uma pessoa que é crítica ao nosso governo”, reiterou.