"Ninguém sabia o que tinha lá dentro", diz Flávio Bolsonaro sobre joias sauditas

Segundo ele, apenas o ex-ministro Bento Albuquerque e o assessor, que foi pego com as joias na mochila, sabiam do conteúdo nos pacotes

16:06 | Mar. 20, 2023

Por: Mariana Lopes
O senador Flávio Bolsonaro (PL) (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) negou conhecimento de sua família sobre as jóias dadas de presente pelo governo da Arábia Saudita em 2021. Segundo ele, “ninguém sabia o que tinha lá dentro”.

O pacote que continha as jóias era, supostamente, presente para a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Os objetos foram avaliados em R$ 16,5 milhões e foram apreendidos pela Receita Federal, no aeroporto de Guarulhos.

"Ninguém sabia o que tinha lá dentro. Podia ser um copo de água, ninguém sabia. E, se tivesse má-fé, ninguém ia fazer o trajeto de passar pelo raio-x da Receita, não ia trazer num voo comercial", disse o senador à Folha de S. Paulo.

O senador também nega que os presentes sejam dados a eles por conta de outros benefícios concedidos a Arábia Saudita.

"Não vejo ilegalidade. Tanto é que ficou mais de um ano o troço largado lá, sem o conhecimento, inclusive da Michelle. Então não tinha nenhum interesse particular de se beneficiar disso", declarou. "Eu acho que a imprensa está cometendo um erro de tentar vincular qualquer benefício à Arábia Saudita a esse presente", completou.

A suspeita de que as joias foram um presente ao Governo Bolsonaro pela venda da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, ao Mubadala Capital, um fundo dos Emirados Árabes Unidos, voltou a ser debatida pois a entrega das joias ocorreu na mesma época que a venda foi feita.

Segundo Flávio, Bento Albuquerque e o assessor, que foi pego com as joias na mochila, sabiam do conteúdo das joias, mas não viram "má-fé" na atitude. O senador também disse que o ex-ministro não tentou retirar as jóias da Receita, mas sim "regularizar". Flávio defendeu Albuquerque afirmando que ele não sabia da "burocracia" que envolvia o recebimento dos presentes.

"Pelo que estou vendo, ele pegou uma caixa lacrada e trouxe para cá para formalizar a entrega para quem seriam os presentes. E teve o Comitê de Ética Pública do Executivo que não via problema nenhum nesse tipo de presente. Então, ele seguiu orientação técnica", afirmou.

"Eu não vejo culpa dele também nesse assunto. Se eu te der um presente lacrado e disser "ó, entrega lá para o seu marido", você vai abrir? Não. Você vai pegar o presente e vai dar lá para o seu marido", acrescentou.

No início de março, Michelle Bolsonaro afirmou que foi “a última a saber” sobre o envio de joias pelo governo da Arábia Saudita, em 2021. As jóias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, seriam um presente para ela. O caso vem repercutindo desde sexta-feira, 3, quando o jornal O Estado de S. Paulo publicou as informações.

Michelle disse a pessoas próximas que apenas recebeu as informações sobre as joias nos últimos dias. As peças foram dadas à comitiva brasileira durante uma viagem ao Oriente Médio feita por alguns participantes do Governo de Jair Bolsonaro (PL).

O presidente Jair Bolsonaro recebeu pessoalmente o segundo conjunto de jóias da Arábia Saudita que chegou ao Brasil pelas mãos da comitiva do então ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque.

Albuquerque, no mesmo dia em que a reportagem d’O Estado saiu, admitiu que trouxe o pacote de joias para Michelle e um relógio, também de diamante, para Bolsonaro.

No estojo estavam relógio com pulseira em couro, par de abotoaduras, caneta rose gold, anel e um masbaha (uma espécie de rosário islâmico) rose gold, todos da marca suíça Chopard. O site da loja vende peças similares a um valor de, no mínimo, R$ 400 mil.