Hoje faz 200 anos que Fortaleza passou de vila a cidade

O número de habitantes era contabilizado em pouco mais de mil. O lugar se restringia a ruas de areia e umas poucas casas ao redor do forte, à margem esquerda do riacho Pajeú. Saiba como era Fortaleza dois séculos atrás

Hoje faz 200 anos que, Fortaleza foi reconhecida como cidade. Até então uma vila, recebeu o novo status com a denominação de "Cidade da Fortaleza da Nova Bragança", nome pomposo que se perdeu com o tempo, substituído pela versão simplificada.

A ato de elevação da vila a cidade coube ao então imperador dom Pedro I, no dia 17 de março de 1823. A decisão foi decorrência do processo de independência do Brasil, no ano anterior. Em retribuição pela adesão das províncias à separação de Portugal, ele decidiu elevar todas as vilas que eram capitais à categoria de cidade.

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"(...) tendo-me dado as Provincias, de que se compõe, grandes e repetidas provas de amor, e fidelidade á minha augusta pessoa, e de firme adhesão á causa sagrada da liberdade, e independencia deste Imperio, cada uma segundo os meios, que lhe ministram sua população, e riqueza", justificou o imperador, conforme a grafia da época, na carta imperial.

Tempo turbulento

A decisão era tomada numa época tormentosa. Ainda havia combates pela independência sendo travados àquela altura. Inclusive com participação de tropas cearenses no mais sangrento deles: a Batalha do Jenipapo, no atual município de Campo Maior, Piauí, travado em 13 de março de 1823, quatro dias antes da carta imperial de dom Pedro que mudou o status da capital cearense.

No campo de batalha do Piauí, tropas piauienses, maranhenses e cearenses — improvisada, mal treinada e reforçada por mercenários europeus — foram derrotados pelo exército leal a Portugal, formado por soldados profissionais. Porém, mesmo na vitória, os lusitanos tiveram deserções. Os brasileiros conseguiram capturar munição e suprimentos. Os partidários de Lisboa se refugiaram em Caxias, no Maranhão e, após cerco, acabaram se rendendo.

Fortaleza há 200 anos

Aquela Fortaleza estava bem longe da condição do que hoje é uma das maiores cidades do País. Até 1799, o Ceará era capitania subalterna a Pernambuco. A importância nacional e mesmo regional era pouco significativa. Até na própria província, embora fosse capital, Fortaleza não tinha a importância de vilas como Icó, Aracati e Sobral. Isolada no meio de um litoral árido, o local era pouco propício a atividades econômicas e à presença humana.

O visitante inglês Henry Koster, que visitou Fortaleza entre 1810 e 1811, estimou, ainda que de forma imprecisa, que o lugar teria em torno de 1,2 mil habitantes.

Koster não parece ter ficado muito impressionado com o que viu. "Não é muito para compreender-se a razão de preferência dada a este local. Não há rio nem cais e as praias são más e de acesso difícil". Escreveu ainda: "Os edifícios públicos são pequenos e baixos mas limpos e caiados".

O inglês não projetava as melhores perspectivas. "A dificuldade de transportes terrestres, particularmente nessa região, e falta de um porto, as terríveis secas, afastam algumas ousadas esperanças no desenvolvimento de sua prosperidade". Tinha dúvidas sobre as perspectivas econômicas. "O comércio do Ceará é limitado e, provavelmente, não tomará grandes impulsos".

A falta de chuvas já era um flagelo notável. "A seca fora tamanha que a fome já ameaçava, e a miséria seria excessiva se não houvesse chegado um navio do sul carregado com farinha de mandioca".

Apesar de tudo, o inglês guardou alguma menção de elogio. "Não obstante a má impressão geral, pela pobreza do solo em que esta Vila está situada, confesso ter ela boa aparência".

Ele assim descreveu a vila, que viraria cidade dali a alguns anos. O relato é um dos mais importantes documentos da Fortaleza de então: "A Vila de Fortaleza do Ceará é edificada sobre terra arenosa, em formato quadrangular, com quatro ruas, partindo da praça (...) As casas têm apenas o pavimento térreo e as ruas não possuem calçamentos, mas, algumas residências, há uma calçada de tijolos diante. Tem três igrejas, o palácio do governador, a casa da Câmara e prisão, alfândega e tesouraria. Os moradores devem ser uns mil e duzentos".

Você pode ler mais sobre este assunto e sobre o desenvolvimento de Fortaleza desde então no O POVO+

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