CNBB: vinho oriundo do trabalho escravo não deve ser utilizado por igrejas

CNBB escreve nota em resposta ao caso da descoberta de trabalhadores em situação análoga à escravidão no Rio Grande do Sul (RS)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) repudiou o uso de trabalho escravo em vinícolas do país, em resposta aos acontecimentos no Rio Grande do Sul (RS), onde trabalhadores nordestinos foram resgatados de situações análogas à escravidão na semana passada. A nota foi publicada nesta terça-feira, 28.

No documento, a CNBB afirma que “qualquer tipo de trabalho em condições que ferem o respeito pela dignidade humana não pode ser aprovado”. A instituição ainda recomenda vigilância sobre as características da produção do vinho utilizado nas celebrações religiosas, como as condições de trabalho empregadas nas vinícolas.

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O comunicado é assinado pelo secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, e recomenda que “se busquem, para a celebração da missa, vinhos de proveniência sobre os quais não existam dúvidas a respeito dos critérios éticos na sua produção”.

“A Igreja tem a responsabilidade de zelar pelo tipo de vinho utilizado nas celebrações das missas”, destaca a CNBB. “Todas as denúncias devem ser investigadas nos termos da lei”, acrescenta.

Leia a nota na íntegra:

“VINHO CANÔNICO
Quem ama a Deus
ame também o seu irmão (1 Jo 4,21)

Brasília, 28 de fevereiro de 2023

A Igreja tem a responsabilidade de zelar pelo tipo de vinho utilizado nas celebrações das missas. A CNBB, por meio da Comissão Episcopal para a Liturgia, promoveu encontros com cerca de 15 vinícolas a respeito das características de tal vinho.

Qualquer tipo de trabalho em condições que ferem o respeito pela dignidade humana não pode ser aprovado. Todas as denúncias devem ser investigadas nos termos da lei.

No Brasil existem diversas vinícolas que oferecem vinho canônico. Desse modo, é recomendável que se busquem, para a celebração da missa, vinhos de proveniência sobre as quais não existam dúvidas a respeito dos critérios éticos na sua produção.

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-Geral da CNBB”

Trabalho escravo em Bento Gonçalves

Cerca de 207 trabalhadores, entre 18 e 57 anos, foram encontrados vivendo em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, município do Rio Grande do Sul (RS). Eles trabalhavam em uma colheita de uva na serra gaúcha e foram resgatados na noite dessa quarta-feira, 22.

Os homens prestavam serviço às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, que teriam contratado uma empresa de serviços de apoio administrativo. As informações são da Folha de S. Paulo.

O suposto responsável pelas contratações feitas pela empresa Fênix Serviços de Apoio Administrativo e Oliveira & Santana foi preso e libertado mediante pagamento de fiança de R$ 39.060. Natural de Valente (BA), Pedro Augusto de Oliveira Santana, 45 anos, vai responder em liberdade.

Em nota enviada ao G1 Rio Grande do Sul, o advogado Rafael Dorneles da Silva informou que "a empregadora Fênix Serviços de Apoio Administrativo e seus administradores esclarecem que os graves fatos relatados pela fiscalização do trabalho serão esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial."

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho (MPT) e as Polícias Federal e Rodoviária Federal, que participaram da investigação do caso, os trabalhadores aceitaram o emprego achando que receberiam um salário de R$ 4 mil, alojamento e refeições pagas, em um emprego temporário.

Mesmo com a proposta de que seriam custeados alimentação, hospedagem e transporte, ao chegarem ao local, os trabalhadores tiveram que pagar pelo alojamento, já começando em dívida. Segundo o Ministério Público do Trabalho, o local de alojamento também apresentava péssimas condições.

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