Universitária de Fortaleza é uma das presas por atos golpistas; mãe implorou para filha não ir
Roberta Jérsyka Oliveira é natural de Fortaleza, mas foi para São Paulo estudar medicina na USP. Ela foi presa em flagrante por participar de atos antidemocráticos em Brasília, no domingo, 8.Roberta Jérsyka Oliveira, nascida em Fortaleza, foi uma das pessoas presas no domingo, 8, por participação em atos antidemocráticos em Brasília. Ela é estudante de medicina na Universidade de São Paulo (USP) e mora na capital paulista. A mãe, Roberta Brasil, tentou impedir que a filha fosse para Brasília.
“Eu disse: ‘Minha filha, não vá.’ Eu sou viúva de militar, o pai dela era militar. A gente sabe que o Exército é resistente. Se até agora não fizeram nada, não vão mais fazer”, relatou Roberta Brasil. As informações são do portal Metrópoles.
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“A senhora está sempre querendo cortar minhas asas”, disse Jersyka para a mãe antes de participar dos atos no dia 8 de janeiro. A estudante foi presa em flagrante.
Roberta, viúva de militar, aguarda qual será o destino da filha. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pode decidir que Jérsyka pode converter a prisão temporária em preventiva ou a liberar mediante uso de tornozeleira eletrônica. Até agora, entre os quase 1.500 presos, Moraes manteve 740 pessoas na prisão e liberou 335 com tornozeleira.
A mãe recebe R$ 4.768,02 de pensão, pois o pai de Jérsyka era segundo tenente. É com esse dinheiro que mantém a filha em São Paulo, arcando com os custos de transporte, alimentação e moradia.
“Médico é para ser filho de rico, não de pobre. É uma menina de muito valor que passou na USP e, de repente, acontece isso”, diz Roberta sobre Jérsyka. Além da pensão, Jérsyka recebeu ao menos quatro benefícios sociais do governo federal:
Recebeu repasses do Auxílio Brasil de R$ 3.266,00 no total, entre novembro de 2021 e novembro de 2022;
Recebeu R$ 5.344,00 do Auxílio Emergencial entre abril de 2020 e setembro de 2021;
Recebeu R$ 11.356,07 de bolsa do Ministério da Ciência e Tecnologia entre setembro de 2014 e fevereiro de 2017;
Recebeu R$ 7.999,00 do Bolsa Família em pagamentos mensais de R$ 171 e R$179 entre agosto de 2017 a outubro de 2021.
A mãe disse que avisou: “Roberta, minha filha, não vá. Se der problema, não temos dinheiro para pagar um advogado”, argumentou na tentativa de demover Jérsyka da ideia de viajar até Brasília.
Um dia após os atos em Brasília, Roberta soube pela outra filha que a irmã havia sido presa. Já na quarta-feira, 11, uma amiga de Brasília providenciou e arcou financeiramente uma advogada para atuar no caso.
Desde setembro de 2022, as redes sociais de Jérsyka recebiam constantes atualizações sobre política e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela iniciou sua participação em manifestações golpistas após o segundo turno das eleições de 2022.
No dia 6 de janeiro, no aniversário de 35 anos, Jérsyka passou o dia em frente ao quartel do Ibirapuera, na capital paulista. A mãe, Roberta, não deu os parabéns e bloqueou as redes sociais da filha, para não ver imagens dos atos em Brasília.
“Se eu mandasse qualquer coisa, até mesmo um dinheirinho, sabia que ela usaria para ir até Brasília. Não sei como ela conseguiu, mas foi para lá”, relatou.
Jérsika está na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia. A advogada chegou a dar informações à família de que ela passou mais de 24 horas sem comer nada e usando a mesma roupa.
Roberta e a irmã de Jérsyka ficaram com medo da estudante, que usa lentes de contato, pegar alguma infecção nos olhos, mas souberam que ela recebeu novas lentes e atendimento médico.
“Pelo menos, eu sei que ela está viva. A vida começa de novo e através disso ela aprendeu uma lição”, disse Roberta. “Não estou com vergonha da minha filha. Sei que ela não matou, não roubou e acredito que não depredou nada. Só estou triste com o que ela vai encontrar aqui fora e com o fato de que vai ter que parar um pouco com a faculdade e refazer a sua vida”, acrescentou.
Para ela, tanto Jérsyka quanto outros bolsonaristas presos por participação nos atos golpistas foram ludibriados por pessoas “interessadas em fazer o mal.”
“Eu espero ver minha filha, recebê-la no aeroporto, abraçá-la, continuar cuidando dela, mesmo que com a tornozeleira eletrônica.”