Militar preso em caso de cocaína em voo da FAB teve acesso ao cartão corporativo de Bolsonaro

O nome consta numa resposta do governo federal a requisição feita em 2019 pelo deputado federal Ivan Valente (Psol) sobre os gastos do cartão corporativo

O tenente-coronel, Alexandre Augusto Piovesan teria tido acesso ao cartão corporativo do ex-chefe do Planalto. O militar foi um dos presos por tráfico internacional no caso em que drogas foram encontradas em uma das aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) que integrava a comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Japão para o encontro do G-20, em junho de 2019. Piosevan informou que teve acesso ao cartão corporativo para exercício das funções legais e não cometeu nenhuma irregularidade.

A investigação, feita inicialmente pelo jornalista Cleber Lourenço, se baseou numa requisição do deputado federal Ivan Valente (Psol), que em 2019 buscou saber quais eram os servidores que tinham acesso ao cartão corporativo de Bolsonaro. O POVO teve acesso ao documento, enviado pelo próprio parlamentar. 

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Um ofício de autoria do deputado chegou a ser encaminhado ao chefe da secretaria-geral da Presidência da República, após divulgação de uma reportagem do Estadão com o título: "Com Bolsonaro, Presidência eleva em 16% gasto com cartão corporativo".

O material jornalístico afirmava que a nova gestão, mesmo defendendo o fim das transições, não só manteve o uso das cartões como foi responsável por uma fatura de R$ 1,1 milhão. Em resposta ao requerimento, o governo federal defendeu que os gastos de R$ 1,1 milhão considera gastos realizados pelo governo anterior, no caso de Michel Temer (MDB): 

"O destaque acima realizado se deve ao fato de que o uso do Cartão de Pagamento do governo Federal obedece a rotina de faturamento definida pelo Banco do Brasil, que ao concluir o faturamento de um determinado período, disponibiliza as informações apenas no mês seguinte. Dessa maneira, considera-se oportuno evidenciar que do valor informado na matéria jornalística (R$ 1,1 milhão), a quantia de R$ 522.451,39 se refere a gastos realizados do período de 27/22 a 25/12/2018, ou seja, não correspondente ao atual governo"

O requerimento de resposta ao parlamentar aponta que 32 pessoas tinham acesso ao cartão naquele momento. Destes, 15 são militares, 7 ainda estavam da ativa e 8 da reserva. Um deles está o nome de  Alexandre Augusto Piovesan. Ele aparece na lista de servidor público (de carreira, comissionado ou temporário) que detenha autorização para proceder à execução financeira. 

Resposta ao Requerimento de Informação by Filipe Pereira on Scribd

Operação Quinta Coluna

A Operação Quinta Coluna foi deflagrada para apurar a extensão de um esquema de tráfico e remessa de drogas em aviões usados pela comitiva de Bolsonaro. A ação investigava suspeitos de lavagem de dinheiro e de associação para o tráfico. A apuração resultou na prisão do segundo-sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) Manoel Silva Rodrigues. 

O tenente-coronel Alexandre Augusto Piovesan também foi alvo e cumpre prisão preventiva na Espanha, onde foi preso em flagrante com 37 quilos de cocaína na conexão do voo em Sevilha. Dias depois da prisão de Rodrigues, em 17 de julho de 2019, Piovesan deixou o setor de transporte presidencial, segundo disse a assessoria do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), na época. 

A polícia chegou a pedir a prisão de dois suspeitos: Jorge Luiz da Cruz Silva e Wikelaine Nonato Rodrigues, porém, a Justiça rejeitou o pedido. Ao todo, a PF cumpriu 15 mandados de busca.

Gastos do cartão corporativo de Bolsonaro

Planilhas que se tornaram públicas no dia 6 de janeiro indicam que foram gastos R$ 27,6 milhões entre 2019 e 2022. Porém, no Portal da Transparência do Governo Federal, essa quantia passa de R$ 75 milhões nesses quatro anos.

Há ainda outras inconsistências entre esses dados. Por exemplo, as planilhas divulgadas indicam que os gastos do ex-mandatário com cartão corporativo em 2022 foram de R$ 4,9 milhões. No portal, contudo, essa quantia é de "R$ 22,8 milhões para o mesmo período".

Em entrevista ao Uol, o jornalista Luiz Fernando Toledo, cofundador da "Fiquem Sabendo", agência de dados públicos especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI) e que solicitou as planilhas, destacou que documentos apresentam dados incompletos. O nome do tenente-coronel, Alexandre Augusto Piovesan, inclusive, não está na listagem. 

Resposta

Em manifestação enviada ao O POVO, Piosevan afirma que os inquéritos contra ele, na Justiça Federal e Justiça Militar, foram seletivos, injustos e desproporcionais. Reforça ainda que não chegou a ser denunciado. Em outubro de 2022, informa, a investigação na Justiça Militar foi arquivada sem possibilidade de recurso.

Ele acrescenta que jamais embarcou ou teve contato com o avião em que a cocaína foi encontrada. Afirma ainda que não teve relação pessoal ou de amizade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), familiares próximos ou qualquer outro presidente.

Piosevan destaca que não foi ele quem foi preso na espanha em flagrante com porte de cocaína, mas sim o sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues. Piosevan foi investigado pela suspeita de ter ajudado Rodrigues, e foi preso posteriormente, de forma preventiva.

Leia a resposta na íntegra: 

Atualizada em 13/2/2023

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AVIÃO FAB TENENTE BOLSONARO DROGAS DEPUTADO INVESTIGAÇÃO TRÁFICO

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