Concentração em frente a quartel perde adesão em comparação com 1º jogo do Brasil

Manifestação estava esvaziada no horário da partida em que seleção brasileira foi eliminada da Copa do Mundo

A manifestação golpista de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em frente ao quartel do Exército, em Fortaleza, perdeu musculatura nesta sexta-feira, 9, dia em que a seleção brasileira foi eliminada nas quartas de finais da Copa do Mundo do Catar. O ato reuniu número menor de manifestantes na comparação com o protesto do jogo de estreia da seleção, no dia 24 de novembro.

Preocupados com o esvaziamento das manifestações, os bolsonaristas voltaram a pregar boicote à competição esportiva. “Nem copa, nem diversão. Estamos aqui para salvar o Brasil”, dizia cartaz segurado por uma senhora envolta em uma bandeira do Brasil. “Desculpe o transtorno, estamos em obras, consertando o País”, estava escrito em uma placa apoiada em um poste.

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Antes do jogo começar, um dos organizadores pediu que os manifestantes ignorassem a partida e concentrassem os esforços na “luta contra o comunismo”. Usando um megafone, ele disse: “Patriotas, aqui não é o jogo do Brasil, mas o jogo da liberdade, pois não queremos o nosso Brasil nas mãos do comunismo”.

O apelo foi desconsiderado por parte dos presentes, que decidiram acompanhar a partida por meio do celular, em um canal do Youtube. “Vou assistir [ao jogo] só porque não é na [TV] Globo”, justificou um dos manifestantes ao ser indagado sobre o assunto por um homem vestido com trajes que lembram o uniforme do Exército.

Entre aqueles que optaram por ver o jogo, predominava a torcida pela Croácia. “É complicado o brasileiro torcer por outro time, mas por uma causa, eu torço”, alegou um apoiador do presidente durante diálogo com outro manifestante. Na conversa, eles diziam acreditar que a eliminação da seleção brasileira ajudaria a dar um novo fôlego às manifestações golpistas pelo País, impedindo a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Se a seleção perder hoje vai ser bom para a gente aqui. Nós não queremos ganhar a Copa, nós queremos ganhar é isso aqui”, expressou o bolsonarista, enquanto segurava o celular durante o jogo. “A copa, se a gente perder, daqui a quatro anos tem de novo. Já aqui, se a gente perder, daqui a um ano nós estamos lascados É por isso que eu torço para que [o Brasil] perde”, emendou outro apoiador.

À medida que o jogo ia se aproximando do fim, os manifestantes demonstraram tensão. Eles suspiravam a cada chance de gol desperdiçada pela seleção croata e reagiam com irritação e desânimo quando o Brasil chegava perto da área adversária.

A Rede Globo de Televisão, emissora oficial da Copa na TV aberta, também foi alvo de críticas. “Sabe quem está torcendo para o Brasil ganhar? A Globo, porque senão ela vai perder a audienciazinha dela”, disse um apoiador do presidente. A certa altura do jogo, sobrou até para o técnico Tite: “Tira esse esquerdista daí”, bradou outro manifestante ao ver a imagem do treinador brasileiro aparecer na transmissão oficial da Fifa.

O placar de 0X0, ao fim do tempo regulamentar de 90 minutos, foi comemorado pelos manifestantes. “Vamos ganhar na prorrogação”, projetou um senhor, que embora vestido com a camisa da seleção brasileira, torcia efusivamente para a Croácia.

A euforia foi interrompida ao fim do primeiro tempo da prorrogação, quando Neymar abriu o placar para o Brasil. No momento em que já não acreditavam mais em uma reação do time europeu, os manifestantes comemoraram o gol de empate dos croatas nos minutos finais da etapa complementar. “Volta, Brasil. Volta para casa e vem lutar com teu povo”, gritou um homem, aos pulos, enquanto festejava o gol.

Na disputa por pênaltis, o clima era de muita vibração a cada cobrança convertida pela seleção croata e de comemoração quando os brasileiros desperdiçavam as oportunidades. “Nossa Copa é aqui. A luta pelo Brasil é aqui”, comemorou um manifestante após a eliminação da seleção brasileira.

Além do movimento de boicote à Copa do Mundo, o ato realizado nesta sexta-feira, 9, em Fortaleza também voltou a pedir intervenção militar e anulação do resultado das eleições presidenciais. Os manifestantes estão reunidos em frente ao quartel desde 31 de outubro, um dia após o segundo turno das eleições.

O POVO constatou várias barracas e tendas montadas no local. Alguns apoiadores pernoitam no protesto. Há distribuição de comida e água gratuita para os manifestantes, que têm acesso aos mantimentos por meio de fichas entregues diariamente pelos organizadores.

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