Ailton diz que Psol não será oposição a Elmano, mas critica "frente muito ampla"
Para ex-candidato ao Governo do Ceará pelo Psol, composição com forças de direita no Ceará inviabiliza avanço de agenda em defesa dos trabalhadores
22:48 | Nov. 28, 2022
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deve ter oposição à esquerda entre deputados e senadores pela primeira vez na história. O Psol surgiu em 2004 como dissidência do PT no contexto da reforma da Previdência, aprovada no ano anterior, contra a qual lideranças como Heloísa Helena e Luciana Genro se ergueram no primeiro ano da experiência petista no Poder.
As duas, além de outros nomes como Babá e João Fontes, foram expulsos do PT por votarem contrários às orientações partidárias. Deram forma à legenda socialista. A partir daí, o Psol fez oposição à esquerda ao programa do qual o PT esteve à frente durante 13 anos.
De volta ao Planalto a partir de 2023, Lula não deve encontrar no Congresso Nacional opositores de corte progressista. Algo inédito desde a redemocratização, pelo menos. A federação formada por Psol e Rede apoiou Lula contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e participa do governo de transição, com, por exemplo, o deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol).
No Ceará, o Psol esteve em lado oposto aos governos de Cid Gomes (PDT) e de Camilo Santana (PT), o que se segue com Izolda Cela (sem partido). A prática de 2007 a 2022 pode mudar com o governador eleito Elmano de Freitas (PT).
O POVO tentou contato com Renato Roseno, o representante da bancada do Psol na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Não houve retorno até a publicação desta matéria. O mesmo se passou com Tecio Nunes, presidente da federação Psol-Rede no Ceará.
Frisando ser uma opinião pessoal, Ailton Lopes, ex-candidato ao governo pelo Psol em 2014 e 2018, afirmou que, a princípio, o partido não será oposição a Elmano, mas defende que o partido não componha sua gestão. A critica que sempre dirigiu a Camilo se mantém com o novo governador.
Para ele, a amplíssima coalizão, com a presença do "PP do Arthur Lira", como afirmou, ou do MDB de Eunício Oliveira, faz com que tópicos relativos a trabalhadores fiquem de fora da agenda do governo.
"A gente sabe que a pauta dos trabalhadores, das trabalhadoras, do povo negro, dos povos indígenas vão encontrar com certeza barreiras muito profundas por conta dessa composição bastante ampla", afirmou Lopes, para na sequência "puxar a orelha" da direção do Psol, composta por um setor mais próximo ao PT, com Alexandre Uchoa na presidência. O dirigente partidário não respondeu à mensagem do O POVO enviada às 17h02min de segunda-feira, 28.
A legenda pretendia lançar Adelita Monteiro, da mesma ala de Uchôa, ao Palácio da Abolição neste ano, mas recuou em benefício de Elmano. Adelita foi a São Paulo e registrou a saída da disputa em foto com Elmano, Camilo e Lula.
Ailton não integra esse grupo dentro do Psol. Ao destacar que a opinião era pessoal, ele teceu críticas à direção do partido. "Infelizmente, a atual direção majoritária, a presidência do partido, não chamou nenhuma reunião até agora para que o conjunto de filiados e filiadas pudesse fazer esse debate", cutucou.
O deputado Renato Roseno, reeleito para terceiro mandato na AL-CE, participou da campanha de Elmano e Camilo Santana ao Governo e ao Senado, respectivamente, como na abertura dela, no VLT de Fortaleza, linha Parangaba-Mucuripe, ou no Mercado Central, no Centro.
Quando Adelita desistiu da empreitada, Roseno afirmou que o gesto ocorreu em virtude da necessidade de "vencer o fascismo no Brasil e no Ceará".