Ailton diz que Psol não será oposição a Elmano, mas critica "frente muito ampla"
Para ex-candidato ao Governo do Ceará pelo Psol, composição com forças de direita no Ceará inviabiliza avanço de agenda em defesa dos trabalhadoresO governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deve ter oposição à esquerda entre deputados e senadores pela primeira vez na história. O Psol surgiu em 2004 como dissidência do PT no contexto da reforma da Previdência, aprovada no ano anterior, contra a qual lideranças como Heloísa Helena e Luciana Genro se ergueram no primeiro ano da experiência petista no Poder.
As duas, além de outros nomes como Babá e João Fontes, foram expulsos do PT por votarem contrários às orientações partidárias. Deram forma à legenda socialista. A partir daí, o Psol fez oposição à esquerda ao programa do qual o PT esteve à frente durante 13 anos.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
De volta ao Planalto a partir de 2023, Lula não deve encontrar no Congresso Nacional opositores de corte progressista. Algo inédito desde a redemocratização, pelo menos. A federação formada por Psol e Rede apoiou Lula contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e participa do governo de transição, com, por exemplo, o deputado federal eleito Guilherme Boulos (Psol).
No Ceará, o Psol esteve em lado oposto aos governos de Cid Gomes (PDT) e de Camilo Santana (PT), o que se segue com Izolda Cela (sem partido). A prática de 2007 a 2022 pode mudar com o governador eleito Elmano de Freitas (PT).
O POVO tentou contato com Renato Roseno, o representante da bancada do Psol na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Não houve retorno até a publicação desta matéria. O mesmo se passou com Tecio Nunes, presidente da federação Psol-Rede no Ceará.
Frisando ser uma opinião pessoal, Ailton Lopes, ex-candidato ao governo pelo Psol em 2014 e 2018, afirmou que, a princípio, o partido não será oposição a Elmano, mas defende que o partido não componha sua gestão. A critica que sempre dirigiu a Camilo se mantém com o novo governador.
Para ele, a amplíssima coalizão, com a presença do "PP do Arthur Lira", como afirmou, ou do MDB de Eunício Oliveira, faz com que tópicos relativos a trabalhadores fiquem de fora da agenda do governo.
"A gente sabe que a pauta dos trabalhadores, das trabalhadoras, do povo negro, dos povos indígenas vão encontrar com certeza barreiras muito profundas por conta dessa composição bastante ampla", afirmou Lopes, para na sequência "puxar a orelha" da direção do Psol, composta por um setor mais próximo ao PT, com Alexandre Uchoa na presidência. O dirigente partidário não respondeu à mensagem do O POVO enviada às 17h02min de segunda-feira, 28.
A legenda pretendia lançar Adelita Monteiro, da mesma ala de Uchôa, ao Palácio da Abolição neste ano, mas recuou em benefício de Elmano. Adelita foi a São Paulo e registrou a saída da disputa em foto com Elmano, Camilo e Lula.
Ailton não integra esse grupo dentro do Psol. Ao destacar que a opinião era pessoal, ele teceu críticas à direção do partido. "Infelizmente, a atual direção majoritária, a presidência do partido, não chamou nenhuma reunião até agora para que o conjunto de filiados e filiadas pudesse fazer esse debate", cutucou.
O deputado Renato Roseno, reeleito para terceiro mandato na AL-CE, participou da campanha de Elmano e Camilo Santana ao Governo e ao Senado, respectivamente, como na abertura dela, no VLT de Fortaleza, linha Parangaba-Mucuripe, ou no Mercado Central, no Centro.
Quando Adelita desistiu da empreitada, Roseno afirmou que o gesto ocorreu em virtude da necessidade de "vencer o fascismo no Brasil e no Ceará".