Pressionado, ministro do TCU pede licença do cargo após áudio de teor golpista

Augusto Nardes sugeriu que o Brasil estaria na iminência de um golpe de Estado para impedir a posse de Lula

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes pediu afastamento temporário do cargo na noite desta segunda-feira, 21, após forte repercussão negativa de um áudio em que ele sugere golpe militar para barrar a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pressionado pelos próprios membros do TCU, Nardes apresentou pedido de licença médica. No áudio enviado pelo ministro a um grupo de amigos no WhatsApp, ele fala que "é questão de horas, dias, no máximo, uma semana, duas, talvez menos, para que um desenlace bastante forte na nação ocorra".

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O ministro ainda diz que há "um movimento muito forte nas casernas" e revelou ter participado de conversas demoradas com aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL). Nardes também projetou que o Brasil estaria na iminência de vivenciar um conflito social. O membro do TCU assinala ainda que Bolsonaro "despertou a sociedade conservadora, e hoje todo mundo está nas ruas fazendo a defesa desses princípios".

A fala de Nardes provocou reações imediatas no meio jurídico e político. A presidente do PT, Gleisi Hoffman, informou que o partido prepara uma notícia-crime contra o ministro para apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF). "As pessoas têm que ter responsabilidade com o que falam, principalmente estimulando os movimentos que estamos vendo", criticou.

O áudio de teor golpista também foi repreendido no próprio TCU. Segundo o Estadão, ministros chegaram a usar termos pejorativos para se referir às declarações de Nardes. Eles avaliam que o colega pode se tornar alvo do inquérito das fake news, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes no STF.

Em nota divulgada antes de apresentar o pedido de afastamento, Nardes se justificou dizendo que foi mal interpretado e declarou repudiar manifestações antidemocráticas e golpistas. "O Ministro Augusto Nardes lamenta profundamente a interpretação que foi dada sobre um áudio despretensioso gravado apressadamente e dirigido a um grupo de amigos", inicia a nota.

"Para que não pairem dúvidas, esclarece que repudia peremptoriamente manifestações de natureza antidemocrática e golpistas, e reitera sua defesa da legalidade e das instituições republicanas”, afirma a nota do ministro", finaliza.  

Apoiador declarado de Jair Bolsonaro, Nardes recebeu vários acenos públicos do presidente no segundo turno das eleições. O ministro foi nomeado para a corte de contas pelo então presidente Lula, em 2005, no primeiro mandato do petista. Antes, tinha sido eleito para três mandatos consecutivos na Câmara dos Deputados pelo PP do Rio Grande do Sul. 

O magistrado ficou conhecido nacionalmente em 2015 por relatar, no TCU, o processo que originou o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). No parecer, Nardes apontou que a mandatária teria cometido "pedaladas fiscais", sendo essa a infração apontada como motivo para a cassação da petista pelo Congresso Nacional. 

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