Quem foi Jorgina de Freitas, fraudadora do INSS que morreu após acidente de carro

Jorgina de Freitas era cúmplice de um bando que desviou dinheiro dos cofres da Previdência usando até nomes de pessoas mortas. Os criminosos forjaram centenas de processos de indenização milionários

20:13 | Jul. 21, 2022

Por: Filipe Pereira
Morre Jorgina de Freitas no Rio de Janeiro. Ela ficou conhecida por ser responsável pelo maior esquema de fraude contra a previdência no Brasil (foto: Reprodução/TV Record)

A ex-advogada Jorgina de Freitas morreu na terça-feira, 19, no hospital municipal Adão Pereira Nunes, no Rio de Janeiro. A ex-procuradora foi personagem de um escândalo descoberto em 1991 que evidenciou uma das maiores fraudes da história da Previdência Social, com valores bilionários.

Jorgina organizou esquema de desvio de verbas de aposentadorias que, após descoberto, ficou conhecido como o Caso Jorgina de Freitas. O total da fraude foi inicialmente estimado em R$ 550 milhões (mais de 50% de toda a arrecadação do INSS à época), mas posteriormente reavaliado em R$ 1,2 bilhão. Por fim, a Advocacia-Geral da União afirmou que a fraude seria da ordem de aproximadamente R$ 2 bilhões.

Entre 1988 e 1990, o esquema do qual Jorgina de Freitas fazia parte desviou dinheiro dos cofres da Previdência usando até nomes de pessoas mortas. Os criminosos forjaram centenas de processos de indenização milionários. A rede de corrupção começou a ser descoberta em março de 1991, quando investigação interna do INSS descobriu como haviam sido desviados R$ 90 milhões, supostamente pagos ao motorista de empilhadeira Alaíde Fernandes Ximenes.

A ex-procuradora do INSS foi condenada em julho de 1992. O esquema fraudulento envolvia diversas autoridades, advogados, procuradores do INSS e juízes no Rio de Janeiro e começou a ser investigado a partir da denúncia envolvendo o então ministro da Previdência Antônio Rogério Magri. Logo depois da condenação, Jorgina fugiu para o exterior, com escalas no Paraguai e nos Estados Unidos até 1994, quando resolveu permanecer na Costa Rica.

Em 1997, Jorgina entregou-se às autoridades da Costa Rica, sendo posteriormente repatriada. Nesse mesmo período, após ser acusada de fraudar os cofres nacionais, submeteu-se a cirurgias plásticas. Teve o registro profissional cassado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no dia 21 de fevereiro de 2001. Parte do dinheiro desviado para outros países foi recuperado.

Jorgina ficou presa em regime fechado no Instituto Penal Talavera Bruce, no Rio de Janeiro, onde, entre outras atividades, coordenava o concurso "Miss Presidiária". Em janeiro de 2007 foi transferida para outro presídio, também no Rio, onde lhe foi concedida a prerrogativa do regime semiaberto, com possibilidade de sair e trabalhar, retornando para dormir na penitenciária.

Em maio de 2010, quando mais de R$ 69 milhões subtraídos haviam sido devolvidos, Jorgina foi condenada a devolver R$ 200 milhões, extensível também ao contador Carlos Alberto Mello. Todos os bens dos envolvidos foram submetidos a leilão. Em 12 de Junho de 2010, Jorgina foi solta depois de 14 anos presa.

Em dezembro de 2021, ela sofreu acidente de carro e foi encaminhada para o Hospital Municipal Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde encontrava-se internada até a morte.