Santa Casa de Sobral denuncia risco de paralisação; Ivo Gomes nega: "Isso jamais vai acontecer"
Em nota, a Santa Casa calcula um prejuízo mensal na ordem de R$ 2,5 milhões. . Polêmica envolve embate político entre a gestão do prefeito Ivo Gomes (PDT) e o clero municipal, acusado pelo pedetista de envolvimento com a oposição
14:59 | Jun. 29, 2022
A Santa Casa de Misericórdia de Sobral divulgou, nesta quarta-feira, 29, uma nota em que anuncia uma crise financeira na instituição e uma eminente paralisação dos atendimentos ao público na próxima semana, dia 6 de julho. A unidade de saúde atende mais de 54 municípios da Região Norte do Ceará, com uma população composta por aproximadamente 1,8 milhão de pessoas.
Em nota, a Santa Casa alega sofrer com "descontos extremamente injustos nos incentivos federais destinados ao custeio do serviço prestado" e com a "exigência de metas impraticáveis e, consequentemente, com a diminuição nas verbas que lhe pertencem e que são essenciais para a sua manutenção".
"A instituição está vivenciando uma situação emergencial, correndo o risco, infelizmente, de não renovar a prestação de serviços públicos se não for remunerada adequadamente, paralisando suas atividades na próxima quarta-feira (06/07) por encerramento do aditivo contratual com a Gestão Municipal de Sobral", diz o comunicado, reforçando a busca por diálogo para continuar com as assistências.
Segundo o documento, compartilhado nas redes sociais, somente no primeiro quadrimestre deste ano, a Santa Casa teria deixado de receber R$ 2,9 milhões. Em 2021, não teria havido o recebimento de 6,7 milhões referentes aos atendimentos via SUS dos meses de janeiro a abril, fora o valor de R$ 1,2 milhão referente aos dez novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto da Santa Casa que também não teriam sido repassados ao equipamento entre os meses de janeiro a maio de 2022.
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"A crise não termina aí. Além da falta de apoio financeiro por parte da gestão municipal, ainda há a superlotação, a crescente inflação na saúde e os aumentos dos custos em razão da pandemia. A tabela SUS cobre, em média, 60% dos custos efetivos dos procedimentos realizados e não é atualizada monetariamente há mais de duas décadas", destaca a nota.
A falta no repassa das verbas estaria causando um déficit na diferença entre o que é pago pelo SUS e o que os procedimentos custam todos os anos à instituição. O hospital calcula um prejuízo mensal na ordem de R$ 2,5 milhões.
O prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), usou as redes sociais para negar uma possível paralisação das atividades da unidade de saúde pública e disse que tal informação possui cunho eleitoral. "Ao povo de Sobral e da zona norte: Tenho sido perguntado a respeito de boatos, mais uma vez em período eleitoral, acerca de eventual paralisação de serviços da Santa Casa de Sobral. Deixe-me dizer algo definitivo: isso jamais vai acontecer".
Ao povo de Sobral e da zona norte:
Tenho sido perguntado a respeito de boatos, mais uma vez em período eleitoral, acerca de eventual paralisação de serviços da Santa Casa de Sobral.
Deixe-me dizer algo definitivo:
ISSO JAMAIS VAI OCORRER!!
A publicação rebate a manifestação de opositores dos Ferreira Gomes no Ceará, entre eles o jornalista José Bardawil, pré-candidato ao Senado Federal. No Twitter, o comunicador usou reforçou a paralisação da Santa Casa e diz que "a situação está piorando a cada dia mais". "Agora eu pergunto: como os Ferreira Gomes podem ajudar o Brasil quando sua própria cidade padece?", escreveu.
Santa Casa de Misericórdia de Sobral irá paralisar no próximo dia 6 de julho.
Infelizmente a situação está piorando a cada dia mais.
Agora eu pergunto: como os Ferreira Gomes podem ajudar o Brasil quando sua própria cidade padece?
O município de Sobral é cenário de um constante embate entre o prefeito Ivo Gomes e o bispo do município, Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos, que comanda a Santa Casa. O pedetista acusa o líder religioso de articulação política com o pré-candidato da oposição ao governo cearense, Capitão Wagner, para prejudicá-lo.
Em março de 2021, o prefeito sobralense foi acusado por Wagner de criar "leitos fantasmas" e não destinar o montante de R$ 4,3 milhões enviado pelo Governo Federal para a saúde da cidade. Em reação, Ivo acusou o bispo da Igreja Católica da cidade de envolvimento em "bandalheiras" na Santa Casa. Além disso, Ivo disse que o religioso seria um "bolsonarista" com "conluio com o que há de pior na política cearense". As palavras foram inseridas em publicação nas redes sociais.
"Que fique certo disso o senhor José Vasconcelos, bispo da Igreja Católica de Sobral, bolsonarista e organizador disso tudo, em conluio com o que há de pior na política cearense. Enquanto o senhor vive no luxo e de fuxico, eu sigo lutando para salvar vidas e garantir vacinas para todos, que deveria ser o foco. Que tal o senhor mexer pelo menos uma palha pelos mais necessitados?", acusou Gomes, nas redes sociais.
Logo depois, membros do Clero de Sobral divulgaram uma nota em defesa da Diocese do município e da Santa Casa. Nove padres assinaram uma nota em resposta à polêmica. Apesar de não fazer menção direta a Ivo Gomes, a mensagem foi bastante clara. "Uma história séria como a nossa, precisa ser tratada com respeito e seriedade!", afirmou o documento.